Se você impede pessoas negras de se movimentarem, determina que raça é um componente da mobilidade
No período de um ano, Salvador (BA) teve mais de 316 horas de transporte público interrompido por conta de questões de segurança pública, o que envolve operações policiais planejadas.
O estudo Catraca Racial publicado nesta segunda-feira (11) mostra que, ao todo, foram 30 bairros afetados diretamente, sendo Mussurunga com maior número de casos. Foram 14 dias de interrupção total ou parcial da frota de ônibus, com um recorde de 7 dias seguidos sem transporte público.
“O objetivo do estudo é combater a ideia de ‘bairros violentos’ e demonstrar que, na verdade, são bairros violentados”, explica o historiador Dudu Ribeiro, um dos responsáveis pelo estudo, em entrevista ao programa Bem Viver desta terça-feira (12).
Ribeiro é diretor executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política sobre Drogas, entidade que atuou ao lado do Observatório da Mobilidade de Salvador e pelo Instituto Fogo Cruzado para confecção do trabalho.
As informações levantadas pelos institutos foram comparadas a registros disponibilizados pela Prefeitura de Salvador, via Lei de Acesso à Informação (LAI) e pelo Sindicato dos Rodoviários.
“Eu sempre digo que bairros violentos me remete a expressões trazidas do racismo científico do século 19, com a ideia de que negros e pobres seriam propensos ao crime ou a violência”, complementa Ribeiro.
O período do levantamento do Catraca Racial foi entre 4 de agosto de 2023 e 15 de agosto de 2024, e contabilizou 85 episódios de interrupção total ou parcial da circulação de ônibus devido a eventos ligados à segurança pública.
A prefeitura de Salvador não informa os casos de interrupção de mobilidade urbana ocorridos durante operações policiais, mas a base de registros do Fogo Cruzado mostra que 19 eventos estiveram associados a ações policiais — outros 57 episódios aconteceram em diferentes contextos da segurança pública e apenas 9 situações não se relacionaram a alguma intervenção da polícia.
“Operações policiais são algo planejado, organizado, tem data e hora para acontecer”, lembra Ribeiro.
“É necessário que o comando dessa operação leve em consideração o seu impacto na mobilidade da comunidade, para que as pessoas possam calcular junto aos seus comitês, junto à prefeitura e junto inclusive a associações e organizações comunitárias, quanto tempo vai ser interrompido [o transporte], quanto tempo vai retornar e quais são as medidas que podem diminuir ou reduzir os danos”.
Sobre o título do estudo, Ribeiro explica: “A gente também percebeu que todos os bairros onde tivemos interrupção de transportes são bairros de maioria negra. Por isso nós chamamos esse estudo de Catraca Racial, na perspectiva de que se você impede as pessoas negras de se movimentarem pela cidade, você está determinando que a raça é um componente da mobilidade urbana".
Segundo o pesquisador, o próximo passo do estudo é contabilizar o número de pessoas afetadas diretamente e indiretamente pelas interrupções. E, assim, conseguir trazer relatos reais dos impactos para a população.
"Situações de pessoas que tinham consulta médica marcada há muito tempo, dentro do próprio serviço público de saúde, e graças, algumas vezes a própria intervenção do Estado, essa pessoa não vai ter esse direito, ela vai ficar sem a consulta médica, não vai entrar em nenhuma lista de prioridade e vai sair da fila e da lista que ela esperou muitas vezes meses para conseguir garantir aquela vaga".
Questionada sobre os dados do levantamento, a prefeitura de Salvador respondeu:
“Quando há ameaça iminente de vandalismo, ‘queima’ de ônibus, que comprometam a segurança dos passageiros e operadores do sistema por parte das facções criminosas ou qualquer tipo de manifestação nas localidades da cidade de Salvador, a Cofat (Coordenadoria de Fiscalização e Administração de Transporte), acompanha e autoriza a suspensão do atendimento do transporte público via solicitação por parte das empresas de ônibus e do sindicato dos rodoviários do sistema Integra, nas localidades afetadas, retomando logo que exista por meio dos entes da segurança pública validação e certeza de retorno da normalidade da operação".
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Edição: Nathallia Fonseca