Diversos cargos de confiança para o novo governo do republicano Donald Trump já foram anunciados nesta semana. Entre eles está o senador da Florida Marco Rubio, nomeado nesta quarta-feira (13) secretário de Estado a partir de janeiro de 2025.
Defensor de uma linha muito dura contra China e Irã, e, na América Latina, principalmente Venezuela e Cuba, o senador de 53 anos de origem cubana nascido em Miami copresidiu, até o momento, a comissão de inteligência no Senado, e, aos 34 anos, foi líder da Câmara dos Representantes da Flórida.
Com esta nomeação, o político que há anos busca uma cadeira na Casa Branca se torna o primeiro latino a ocupar o cargo.O cargo de secretário de Estado equivale ao de chefe da diplomacia (ministro das Relações Exteriores). Se o retorno de Donald Trump para o poder Executivo dos EUA gera dúvidas sobre como será a nova política interna e externa do país, a nomeação de Rubio esclarece alguns pontos.
Para o correspondente do Brasil de Fato na Venezuela, Lorenzo Santiago, a nomeação de Rubio indica como será o tom de negociações entre os países, já que o senador "é muito conservador e reacionário".
"A questão que fica, então, é se essa hostilidade será mais em declarações e troca de notas ou se a Casa Branca vai tentar novas medidas econômicas e, em um cenário muito menos provável, militares", afirma o correspondente em Caracas.
Já Gabriel Vera Lopes, correspondente do Brasil de Fato em Cuba, a escolha de Rubio é a constatação de uma "política violenta" na relação estadunidense com o país caribenho.
"A trajetória política de Rubio é preocupante" e, com a nomeação temos uma declaração contundente "contra todos os projetos populares, progressistas e de esquerda no continente latinoamericano".
Antes inimigos, agora aliados
Apesar da nomeação para o cargo mais importante no que diz respeito a política externa do magnata, Trump e Rubio, porém, nem sempre se deram bem. O legislador enfrentou o bilionário nas primárias republicanas das eleições de 2016.
Durante a campanha, Rubio zombou abertamente de Trump nas redes sociais, ao dizer que ele tinha "mãos pequenas" e o chamou de "golpista". O magnata também retornou o favor, apelidando-o de "pequeno Marco".
Embora tenha enfurecido a direita radical ao apoiar as reformas migratórias aprovadas em 2013, na gestão Obama, o senador é, em geral, um político bastante conservador, que acusa os democratas do presidente Joe Biden de serem de "extrema esquerda". Sobre imigração, ele endureceu a postura: considera que o fenômeno se tornou "maciço" e defende a imposição de limites.
Conhecido por ter um discurso rígido sobre políticas de imigração e assuntos internacionais, como a guerra na Ucrânia e defender uma invasão dos EUA a países como Venezuela e Síria, Rubio amaciou o discurso nos últimos anos, e se alinhou mais à retórica de Trump, o que possibilitou uma nomeação como chefe da diplomacia estadunidense.
Vida política
Filho de um garçom e uma caixa de supermercado que saíram de Cuba rumo aos EUA, Rubio subiu rapidamente os degraus da política e, aos 34 anos, já era presidente da Câmara dos Representantes da Flórida. Por lá, é muito conhecido entre os latinos, eleitorado que mobilizou nas recentes eleições presidenciais que elegeram Trump.
Com postura intervencionista tradicional, ao apoiar ofensivas militares radicais, Rubio era crítico ferrenho da política internacional de Trump, que considerava frouxa. Em 2019, acusou o então presidente Trump de “abandonar” o esforço militar dos EUA na Síria antes que ele estivesse “completamente concluído”.
No mesmo, instou o republicano a adotar sanções mais severas contra a Venezuela, considerando que era apenas uma questão de tempo até que o país colapsasse.
Âmbito internacional
Ele é favorável a exercer máxima pressão sobre a China, grande potência rival dos Estados Unidos. Como senador, tem defendido a ajuda a Taiwan, medidas para restringir as operações comerciais chinesas nos Estados Unidos e punições contra Pequim pela maneira como trata Hong Kong e a minoria uigur.
Também é um fervoroso defensor de Israel, tem o Irã como alvo de ataques e é favorável ao fim da guerra na Ucrânia. Em uma entrevista à EWTN, rede de mídia católica, Rubio afirmou que a Ucrânia chegou a um "ponto morto" contra os invasores russos, e que os Estados Unidos deveriam mostrar "pragmatismo" para acabar com a guerra em vez de enviar mais bilhões de dólares em armas para o exército ucraniano.
Este argumento vai de acordo com as tratativas de Trump sobre essa guerra, que já declarou que, com ele, o conflito pode acabar "em 24 horas". O republicano insinuou que a Ucrânia teria que ceder território para a Rússia para chegar a um acordo.
Durante entrevistas neste ano, o novo secretário de Estado também sugeriu que a Ucrânia precisava chegar a um acordo com a Rússia. Ele foi um dos 15 senadores republicanos a votar contra um pacote de ajuda militar para a Ucrânia aprovado em abril de 2024.
Além disso, Rubio já declarou que, com Trump como presidente, a população deve esperar uma “política de relações exteriores mais pragmática”. Na América Latina, o político, que fala espanhol fluente, critica duramente o governo castrista de Cuba, o presidente venezuelano Nicolás Maduro e o nicaraguense Daniel Ortega.
"Como ele será responsável pelo direcionamento da política externa estadunidense, é bem provável que a oriente para uma relação mais conflituosa", avalia o correspondente para a Venezuela.
No entanto, "o próprio Trump já reconhece que as sanções contra a Venezuela não surtiram o efeito desejado".
Israel
Em 2016, Rubio também atacou Trump sobre o tema Israel. O senador acusou Trump de ser “anti Israel”, em um documento publicado intitulado "Checagem de fatos: Donald Trump não é aliado de Israel". Mas a crítica só durou até o magnata reconhecer Jerusalém como capital do Estado de Israel.
Em 2023, após o ataque do Hamas e início de genocídio contra o povo palestino, disse a um ativista que não apoiava um cessar-fogo na Faixa de Gaza e que o Hamas era "100% culpado" pelas mortes de palestinos na região.
Sobre políticas de imigração, Rubio declarou através de redes sociais que "a nova administração de Trump fará cumprir as leis de imigração existentes e expulsará os criminosos ilegais violentos", insinuando uma postura radical sobre migrantes no país.
*Com AFP
Edição: Rodrigo Durão Coelho