O ESTRANGEIRO

É hora do Brasil voltar a pensar mais no Brics e menos no G20, diz Marco Fernandes

Segundo episódio do podcast 'O Estrangeiro' aborda a guerra na Ucrânia, vitória de Trump e relação da Rússia com Europa

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
From October 22 to 24, the leaders of the BRICS countries met in Kazan, Russia - Alexander Nemenov/POOL/AFP

Com a vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e um novo governo moldado sob a retórica do republicano, chegou o momento de o Brasil priorizar o Brics e as negociações com os países-membro, em vez de apostar as fichas no G20. Essa foi a análise do convidado Marco Fernandes do segundo episódio do podcast de política internacional do Brasil de Fato, O Estrangeiro, que foi ao ar nesta quinta-feira (14) e já disponível em todas as plataformas de áudio e no YouTube.

O episódio abordou qual o futuro da guerra da Ucrânia sob um novo governo do magnata, além de analisar como será a relação com a China e a postura do Brasil nas relações internacionais.

Com o encontro do G20 prestes a acontecer no Rio de Janeiro, reunindo grandes potências mundiais e em desenvolvimento, e possíveis diálogos sobre a guerra na Ucrânia em uma cúpula dedicada ao assunto, a delegação dos Estados Unidos que vai ao G20 "é um baita balde de água fria, porque eles não decidem mais nada [após derrota do democrata Biden]", afirmou o analista político Marco Fernandes.

"Há uma avaliação de Trump e do seu grupo político de que a guerra na Ucrânia é uma perda de tempo e um desperdício de recurso. Porque o verdadeiro inimigo, estrutural, é a China", disse ele. 

Para o analista político, o que de fato está se configurando é uma derrota fragorosa da Ucrânia, [...] militarmente foi um fracasso". Por causa disso, "as vozes contrárias a guerra, no lado ocidental, da OTAN, estão aumentando", o que justificaria as insinuações de Trump de pretender acabar com a guerra.

"Na China, a expectativa é que uma vitória do Trump significaria um aumento da pressão sobre o país..

Para Fernandes, vale lembrar que, sob a retórica agressiva de Trump, a Ucrânia não será mais prioridade do país, porque "os EUA estão criando ouros focos de tensão no planeta. Tem gente na China mais preocupada com as Filipinas do que com [um possível apoio] a Taiwan, por exemplo".

O analista considera que os discursos diplomáticos estão, até o momento, amenos entre os países, porém "a China está se preparando para uma agressão maior por parte dos EUA" nesta nova era Trump. "As pessoas não têm nenhuma esperança de que o Trump seja uma reconfiguração das relações entre os países."

"Até porque, o verdadeiro aliado de Xi Jinping é o Putin, a relação com a Rússia", pontuou Serguei Monin, correspondente do Brasil de Fato na Rússia.

Brasil precisa focar nos Brics

Com o esvaziamento da reunião do G20 e da cúpula sobre a guerra na Ucrânia, o analista político esclarece que "é hora de o Brasil voltar a pensar nos Brics como uma plataforma onde há a possibilidade de chegar a consensos sobre temas fundamentais", como a reforma do sistema financeiro mundial, criação de alternativas ao dólar e a reforma do conselho de segurança. "O Brasil precisa retomar a sua diplomacia" do primeiro e segundo governo Lula. "A gente se perdeu um pouco nesses últimos dois anos."

O podcast O Estrangeiro é apresentado por Lucas Estanislau e Rodrigo Durão ao vivo toda quinta-feira às 10 horas.

Edição: Rodrigo Durão Coelho