Tupinambá

Indígenas organizam ato contra Ferrogrão e expansão da soja em Santarém (PA)

Programação do 7º Grito Ancestral acontece de 15 a 17 de novembro na cidade margeada pelo rio Tapajós

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Povos indígenas do Baixo Tapajós sofrem com mineração e construção da Ferrogrão - Rafa Stédile

Indígenas e movimentos populares participam, neste sábado (16), em Santarém (PA), de um ato pelo cancelamento do projeto da Ferrogrão, ferrovia que visa ampliar o escoamento da produção de grãos do Mato Grosso e do Pará por meio do rio Tapajós. A manifestação integra o 7º Grito Ancestral, evento organizado pelo povo Tupinambá, que acontece na região entre os dias 15 e 17 de novembro, para denunciar a destruição do Tapajós e celebrar a resistência indígena.

Os manifestantes planejam se reunir na manhã de 16 de novembro, em um banco de areia formado no período da seca na Reserva Tapajós-Arapiuns (PA), no território indígena Tupinambá. Além de se posicionar contra a obra, o ato busca chamar atenção ao impacto do corredor logístico do Arco Norte, onde portos e terminais afetam o rio e os habitantes locais. 

“Estão nos impedindo de pescar e matando o rio Tapajós para exportar soja para a China e para a Europa”, explica Raquel Tupinambá, coordenadora do Conselho Indígena Tupinambá do baixo Tapajós Amazônia (Citupi). “Se a Ferrogrão for construída, a situação vai piorar ainda mais.”

Uma das preocupações da liderança é que, para aumentar o trânsito e navegabilidade de balsas no rio, o projeto exija obras de dragagem e explosão dos pedrais sagrados para os povos indígenas. “A Ferrogrão vai aumentar o desmatamento para produzir mais soja e vai também aumentar a destruição do rio porque querem escavar o seu leito e explodir os pedrais, que são espaços importantíssimos para nós”, denuncia. “A ferrovia vai aumentar os impactos do corredor logístico que já nos afeta, e até agora não fomos consultados.”

A advogada Bruna Balbi, da organização Terra de Direitos, defende a necessidade do governo realizar, com urgência, uma consulta prévia e que analise os impactos da ferrovia, relacionando o projeto com os demais empreendimentos do corredor logístico já existente. 

“Esse corredor envolve mais de 40 portos de transporte de carga, a hidrovia do Rio Tapajós e os passivos da BR-163. É urgente analisar os impactos cumulativos e sinérgicos dessa rede logística na região e, acima de tudo, respeitar o direito à consulta de todas as comunidades e povos afetados, conforme estipula a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho”, defende.

Visibilidade internacional

O evento ocorre paralelamente à COP 29, a Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o Clima, no Azerbaijão. Pedro Charbel, coordenador de campanhas da Amazon Watch, ressalta a importância de chamar atenção internacional à ameaça que a expansão da soja e Ferrogrão representam.

“Nosso país será sede da COP no ano que vem e os olhos do mundo estão voltados para o Pará. Não podemos ceder aos interesses da Cargill e outras grandes empresas. Temos que cancelar o projeto da Ferrogrão pelo bem do futuro do planeta”, afirma.

Desenvolvido por demanda da Cargill e de outras grandes tradings do agronegócio, o projeto da Ferrogrão prevê quase mil quilômetros de trilhos entre Sinop (MT) e Miritituba (PA), aumentando o volume de exportação de soja e milho pelo rio em mais de seis vezes até 2049, segundo estudos preliminares apresentados pelo Ministério dos Transportes.

A programação começa com o 2º Festival Tapajós Vivo, às 18h desta sexta-feira (15), com apresentação gratuita de diversos artistas, como Andrew Só, Os Encantados, Marcelle Almeida e Sambatuque. Organizado pelo Movimento Tapajós Vivo, o evento visa arrecadar doações de alimentos às comunidades impactadas pela seca extrema.

No dia 17 é previso o retorno dos organizadores indígenas para os seus territórios.

Edição: Martina Medina