Com foco na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, a COP30 que será sediada em Belém (PA), o Brasil anunciou nesta terça-feira (19) que integrará uma aliança glogal contra a desinformação relacionada às mudanças climáticas.
Para combater o negacionismo sobre o tema, o governo brasileiro integrará a Iniciativa Global para Integridade da Informação sobre Mudanças do Clima, em parceria com Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e a ONU.
A iniciativa visa fortalecer pesquisas e medidas de combate à desinformação para impulsionar o apoio para ações climáticas, em um momento em que os cientistas alertam para a urgência de ações que evitem o colapso sociambiental do planeta.
"A iniciativa vai ter, ao mesmo tempo, um fundo para apoiar a pesquisa, apoiar a produção e reunião de evidências que possam construir uma agenda de ação na direção da COP30 e a discussão de estratégias globais de reação a desinformação sobre mudanças climáticas, explica João Brant, secretário de políticas digitais da Secretaria de Comunicação (Secom) da Presidência da República.
"A nossa leitura é de que a desinformação em relação a esse tema gera muita hesitação na ação da sociedade, quando o momento pede o contrário, pede urgência e ação conjunta da sociedade."
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), responsável por monitorar as mudanças climáticas a nível mundial e Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) estão entre as organizações que irão compor o conselho consultivo da iniciativa, assim como uma rede de pesquisadores que tem desenvolvido evidências sobre as mudanças climáticas, de forma a subsidiar as ações que serão apresentadas na COP30.
"A ideia é que a COP reflita o que a gente tem de estado da arte em relação essas pesquisas, para que tudo o que já existe de informação e tudo aquilo que a gente tiver condição de produzir até lá possam informar o processo da COP30".
Os países que aderirem à Iniciativa contribuirão para um fundo administrado pela Unesco, com a meta de arrecadar entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões (entre R$ 57 e 85 milhões) nos próximos 36 meses, valor que será distribuído na forma de subsídios a organizações não governamentais para apoiar suas atividades na pesquisa sobre integridade da informação climática, desenvolvimento de estratégias de comunicação e realização de campanhas de conscientização pública.
No momento de seu lançamento a iniciativa já conta com a adesão de Chile, Marrocos, Reino Unido, França, Suécia e Dinamarca.
"Reafirmamos nosso compromisso de trabalhar com a comunidade internacional para proteger o espaço de informações, criar confiança na ciência e promover ações para combater a desinformação sobre as mudanças climáticas. Estamos convencidos de que desafios como a desinformação e a crise climática só podem ser resolvidos com mais democracia, maior cooperação e forte engajamento. Não apenas palavras, mas ações. Nós, no Chile, continuaremos trabalhando para tornar essa iniciativa um ponto de virada na construção de um futuro mais informado, inclusivo e sustentável", anunciou a ministra Camila Vallejo, da secretária-geral do Governo do Chile.
Valejjo aponta que a desinformação sobre a crise e as mudanças climáticas, "tem efeitos profundamente prejudiciais, não apenas porque impede o avanço de políticas baseadas em evidências, mas também porque ampliam a incerteza, geram confusão e levam à inação pública. Dessa forma, isso também prejudica nossas capacidades de resiliência."
Apesar de a América Latina ser um continente profundamente ameaçado pelos efeitos do aquecimento global, os estudos sobre desinformação e mudanças climáticas na região "ainda são muito limitados, praticamente inexistentes", destaca a ministra chilena.
"Para o Chile, é uma honra fazer parte desse esforço coletivo para promover e defender a integridade das informações sobre a crise climática."
Lula cobra ação dos mais ricos
Em seu discurso de abertura da última reunião de chefes de Estado do G20 reunidos no Rio de Janeiro (RJ) nesta terça-feira (19), o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cobrou das nações ricas suas "responsabilidades históricas" em relação às metas para evitar o colapso socioambiental do planeta.
Na presidência temporária do G20, o Brasil lançou nesta terça uma força tarefa para a Ação Global Contra a Mudança do Clima. Em seu discurso, Lula pediu ao G20 para elevar o nível de ambição na próxima rodada de Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, sigla em inglês para nationally determined contributions) - compromissos que os países assumem para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa como parte da mitigação das mudanças climáticas.
COP30 será 'última chance'
Enquanto os líderes do G20 estão reunidos no Rio de Janeiro, representantes brasileiros seguem em Baku, Azerbaijão, na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP29), negociando uma nova meta de financiamento climático.
"Não há ambição que se sustente sem meios de implementação. Em Paris, falávamos em uma centena de bilhões de dólares por ano, que o mundo desenvolvido não cumpriu. Hoje falamos em trilhões. Esses trilhões existem, mas estão sendo desperdiçados em armamentos enquanto o planeta agoniza. Não podemos adiar para Belém a tarefa de Baku. A COP será nossa última chance de evitar uma reptura irreversível no sistema climático", defendeu Lula diantes dos líderes das principais economias globais reunidos na capital fluminense.
O Brasil apresentou na COP29 sua nova NDC, que abrange todos os gases do efeito estufa e setores econômicos, indicou Lula. "Assumimos a meta absoluta ambiciosa para 2035 de reduzir emissões de 59 a 67% comparados a 2005.
"A maior parte da redução das nossas emissões virá da queda no desmatamento que diminuiu 45% nos últimos dois anos. Nãos transigiremos com os ilícitos ambientais. O desmatamento será erradicado até 2030. Queremos que o mundo reconheça o papel desempenhado pelas florestas e que valorize a contribuição dos povos indígenas e comunidades tradicionais", disse o presidente brasileiro.
O Brasil propôs a criação de um Conselho de Mudanças do Clima na Organização das Nações Unidas, para acelear a implementação do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento global e combater as alterações climáticas.
Edição: Rodrigo Durão Coelho