E O CUSTO VAI SUBIR

COP29: mundo precisa de US$ 1 tri por ano para se adequar ao clima, mas ricos não propõem valores

Dinheiro é necessário para construir centrais solares, investir na irrigação e proteger as cidades contra inundações

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
A estimativa de custo é para adequar cidades para cheias como a que atingiu Porto Alegre em 2024 - Ricardo Stuckert

 

A dois dias do fim da COP29, a pressão aumentou nesta quarta-feira (20) em Baku, onde os países ricos ainda não propuseram nenhum valor para atingir a meta de US$ 1 trilhão (R$ 5,7 trilhões) por ano que os países em desenvolvimento precisariam para enfrentar a mudança climática.

A ministra colombiana do Meio Ambiente, Susana Muhammad, declarou-se "preocupada" com o lento andamento das negociações.

"Ninguém coloca um número sobre a mesa. Então é como se estivessem brincando de geopolítica, quem coloca o número primeiro? Se você não coloca, eu não coloco", disse a ministra à AFP.

"Estamos muito perto da negociação, por isso não há nada para negociar [...]. São necessários [trilhões] ou mais de dólares anualmente para resolver a escala do problema. E quanto menos investimos, mais caro será a cada cinco anos, porque a mudança climática torna isso impossível", acrescentou.

De acordo com economistas comissionados pela ONU, os países em desenvolvimento precisam de 1 trilhão de dólares por ano para enfrentar as consequências da mudança climática.

O enviado da UE para o clima, Wopke Hoekstra, observou: "Não creio que faça sentido discutir este tipo de coisas publicamente [...] antes de termos estabelecido uma base clara sobre a nossa posição. Temos que estabelecer um valor".

"Agora é que começa a parte mais difícil", admitiu nesta quarta-feira o coordenador azerbaijano das negociações, Yalchin Rafiyev, que apelou às partes para "acelerarem o ritmo" das negociações.

Conforme anunciado, um novo esboço do acordo poderá ser divulgado na noite desta quarta-feira.

"Ouvimos nos corredores cifras de 200 bilhões [de dólares] propostas" pelos países ricos. "Isso é inimaginável, não podemos aceitá-lo", denunciou o negociador-chefe da Bolívia, Diego Pacheco, que falou na sessão em nome dos países em desenvolvimento.

A falta de progresso na questão financeira, e também na questão da redução das emissões de gases de efeito estufa, alimenta a frustração nos corredores do estádio da capital do Azerbaijão.

"Esta é uma COP financeira que, durante muito tempo, no início, foi considerada uma COP um pouco técnica. Mas, na verdade, é uma COP muito política", disse Nicolas Haeringer, diretor de campanha da ONG 350.org.

"É uma COP essencial para a justiça climática porque, sem financiamento, não conseguiremos pagar esta dívida que nós, os países do Norte, temos de alguma forma com os do Sul", afirmou.

Os países em desenvolvimento exigem anualmente um total de US$ 1,3 trilhão (R$ 7,5 trilhões) em ajuda para construir centrais solares, investir na irrigação e proteger as cidades contra inundações.

Os países ricos, por sua vez, exigem saber como o seu dinheiro público será associado ao obtido através de outras fontes de financiamento, como fundos privados ou novos impostos globais, antes de propor qualquer valor.

Eles também querem que países como a China e a Arábia Saudita, ainda incluídos na lista dos países em desenvolvimento, apesar do aumento de sua riqueza, contribuam.

"Todos os que podem e têm uma economia forte devem contribuir para os países em desenvolvimento [...], não só a China, mas os países do Golfo e outros países devem contribuir de acordo com as suas capacidades", comentou a ministra colombiana Susana Muhammad, que apelou a "um pacote de financiamento público".

A chanceler alemã, Annalena Baerbock, também observou que "todos devem assumir a responsabilidade".

"Não podemos enfrentar as necessidades de hoje com receitas dos anos 1990. Precisamos do setor privado", defendeu Baerbock em um comunicado, sublinhando que a "resposta" deve ser encontrada "aqui e agora, nos restantes dias da COP29".

 

Edição: AFP