A enquete realizada pela Folha de São Paulo sobre a anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro vulgariza os atos golpistas e ameaça a democracia. É uma manobra dissimulada que mascara sua verdadeira intenção e potenciais consequências para o debate democrático no Brasil como se fosse uma simples sondagem de opinião pública.
A enquete sobre um assunto tão sério apresenta duas facetas condenáveis:
1. *Monetização do Debate*: Ao propor uma questão tão polêmica, o jornal busca claramente aumentar o engajamento em suas plataformas digitais em detrimento da democracia. Esta estratégia, embora eficaz para gerar cliques e compartilhamentos, trivializa um assunto de extrema gravidade para a democracia brasileira.
2. *Viés Ideológico Velado*: A formulação da enquete sugere uma falsa equivalência entre diferentes posições sobre um evento que representou uma clara ameaça às instituições democráticas. Isso pode ser interpretado como uma tentativa velada de normalizar ou até mesmo legitimar ações antidemocráticas.
A recorrência de pautas que questionam as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) por parte da Folha indica uma postura editorial preocupante. Essa abordagem não apenas desafia a autoridade da mais alta corte do país, mas também contribui para um clima de instabilidade institucional.
A enquete ignora um fator crucial: a disparidade na mobilização online entre diferentes grupos ideológicos. A extrema-direita, notoriamente mais ativa e organizada nas redes sociais, tende a dominar esse tipo de pesquisa online. Consequentemente, o resultado provável não refletirá uma amostra representativa da opinião pública, mas sim a capacidade de mobilização de grupos específicos.
A postura da Folha de S. Paulo neste episódio sugere uma inclinação para posições mais extremas no espectro político-ideológico. A comparação com tendências "anarco-liberais" à la Milei é pertinente, pois reflete uma abordagem que parece favorecer uma liberdade irrestrita, sem considerar as consequências para o tecido social e a estabilidade democrática.
Esta enquete, longe de ser um exercício inocente de democracia participativa, representa um perigoso flerte com o golpismo e o populismo digital. Ao colocar em pauta a possibilidade de anistia para atos claramente antidemocráticos, a Folha não apenas banaliza a gravidade dos eventos de 8 de janeiro, mas também contribui para a erosão do respeito às instituições democráticas.
A imprensa tem um papel fundamental na manutenção da democracia, e iniciativas como esta levantam sérias questões sobre a responsabilidade ética dos meios de comunicação. Em um momento em que a desinformação e o extremismo político representam ameaças reais à estabilidade democrática, é crucial que veículos de mídia tradicionais atuem com cautela e responsabilidade, evitando abordagens que possam, mesmo que inadvertidamente, minar os pilares da ordem constitucional.
Nessa toada, o próximo passo da Folha é emprestar os carros da redação para os kids pretos terminarem o serviço
*Luís Humberto Carrijo, jornalista e comunicador, com mestrado na Universidade Autónoma de Barcelona. Fundador da agência Rapport Comunica, é autor do livro “O Carcereiro: o Japonês da Federal e os presos da Lava Jato”. Administra a conta no Instagram @imprensa_sem_disfarce
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.
Edição: Nathallia Fonseca