O ESTRANGEIRO

Brasil não entrar na Rota da Seda é carta na manga na relação comercial com a China, diz Bárbara Motta

Terceiro episódio de O Estrangeiro com coordenadora do OPEB abordou a relação comercial entre Brasil e China

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Reunião com o Presidente da República Popular da China, Xi Jinping - Ricardo Stuckert

Após os encontros de presidentes durante o G20, e a visita de Xi Jinping a Brasília, o terceiro episódio do podcast de política internacional do Brasil de FatoO Estrangeiro, abordou o estreitamento da relação comercial entre Brasil e China, explorando o contexto da transição hegemônica mundial e os 37 novos acordos entre os dois países.

Bárbara Motta, coordenadora do Observatório de Política Exterior do Brasil (OPEB) ressaltou que "[a transição hegemônica] é um momento de bastante instabilidade, mas que abre uma série de brechas. O governo brasileiro está sendo inteligente e precisa continuar sendo para usar esse contexto para destravar coisas que seriam inegociáveis com a China; por exemplo, investimentos com transferência de tecnologia".

Para Motta, é importante que a diplomacia brasileira continue com uma dinâmica de autonomia, para que a relação comercial com a China não se traduza em dependência econômica do lado brasileiro. E essa atitude pode ser vista na decisão do Brasil de não entrar para a nova Rota da Seda.

"Talvez não entrar na Rota da Seda hoje seja, inclusive, a garantia de uma certa carta na manga. Para, em um futuro próximo, a curto ou médio prazo, o Brasil se fazer valer dessa carta na manga para estreitar ou conseguir algum tipo de acordo comercial com a China", explica a pesquisadora.

Outro ponto levantado durante o episódio foi a integração regional e o papel que o Brasil busca desempenhar como líder regional da América do Sul, e como a relação pode afetar esta dinâmica. "Acho que é importante o Brasil manter essa autonomia para que a gente não só mantenha uma posição de potência regional, mas que também tenhamos a capacidade de dizer não para projetos que não sejam benéficos para o país e/ou para a região e sua integração regional", complementa Motta.

Transferência tecnológica beneficia o Brasil

No âmbito comercial, durante a visita de Xi Jinping ao Palácio do Planalto, os dois países firmaram 37 novos acordos nesta semana, que estreitam ainda mais as relações comerciais entre ambos. Isto, adicionando o acordo de máquinas chinesas que vêm para o Brasil, já em andamento, como colheitadeiras, plantadeiras e adubadeiras, entre outras.

"Isso pode beneficiar tanto a industrialização no Brasil, porque os países estão conversando para não só importar as máquinas, mas trazer fábricas para o Brasil, e fabricá-las aqui. E também porque essas máquinas diminuem a penosidade do trabalho dos camponeses", complementou o corresponde do Brasil de Fato na China, Mauro Ramos.

"Existe muita expectativa de ambos os lados de que isso tenha um potencial cada vez maior, se expanda cada vez mais", explica Bárbara Motta. "Acho que vai ser esse um dos principais elementos a favorecer o Brasil a dar um salto do ponto de vista da composição da sua matriz de exportação, a gente exportando produtos de maior valor agregado, seja para a China ou outros países do mundo".

"Essa transferência de tecnologia é importante não só do ponto de vista das relações do Brasil para fora, mas também do Brasil para dentro. Pensar em outro modo de produção agrícola, outro modo de engajamento com as estruturas econômicas nacionais e internacionais", explicou a coordenadora do OPEB. Para ela, estes acordos, para o Brasil, são bons para a relação comercial com a potência asiática para "conseguir, de fato, pensar em estratégias alternativas, que não sejam essas estratégias vigentes, para combater a fome".

O podcast O Estrangeiro é apresentado por Lucas Estanislau e Rodrigo Durão ao vivo toda quinta-feira às 10 horas.

Edição: Rodrigo Durão Coelho