Ser negro no centro urbano em São Paulo não é a mesma coisa que ser negro num quilombo
No Novembro Negro, mês que celebra a luta e a reflexão em torno do Dia da Consciência Negra, a importância da trajetória do psiquiatra e filósofo Frantz Fanon (1925 -1961) ganha destaque como referência para os debates contemporâneos na luta pela igualdade racial. "A complexidade do pensamento de Fanon exige uma análise que vá além da economia, incluindo subjetividades, desejos e mecanismos ideológicos", afirma o cientista político, escritor e professor da Universidade de São Paulo (USP), Deivison Faustino, referência nos estudos sobre o autor no Brasil.
Pesquisador das ideias de Fanon, Faustino conheceu o trabalho do autor em atividades da militância e se destaca como um dos principais responsáveis por trazer a obra do filósofo para o centro dos debates atuais. Ele aponta que o pensamento de Fanon permanece atual porque desafia a invisibilização de autores negros, ao mesmo tempo em que propõe que capitalismo, colonialismo e racismo são inseparáveis na construção da modernidade.
“Eu tenho me dedicado a divulgar o pensamento do Fanon, mas também a convocar a teoria dele para a gente pensar a atualidade, né? [...] Não só por ser um autor negro, mas sobretudo por ser um autor negro anticapitalista e revolucionário que reivindica uma transformação radical da sociedade”, explica o especialista em entrevista ao programa Bem Viver desta sexta-feira (22).
Nesse sentido, Faustino ainda destaca: “cada geração tem sua tarefa histórica. Podemos trair essa tarefa ou cumpri-la do ponto de vista de uma luta por emancipação".
Fanon, descrito por Faustino como uma das mentes mais brilhantes da luta anticolonial, nasceu na colônia francesa de Martinica e, ainda jovem, lutou pela França na Segunda Guerra Mundial. Mesmo falecido aos 36 anos, vítima de leucemia, deixou um legado para os movimentos sociais e acadêmicos no mundo inteiro, tendo se dedicando ao estudo da psique humana sob a opressão colonial, publicando obras essenciais como Pele Negra, Máscaras Brancas e Os Condenados da Terra.
Faustino destaca que um dos episódios mais marcantes da vida de Frantz Fanon foi sua participação na Revolução Argelina em 1962, quando "ele não apenas denunciou o colonialismo, mas se colocou na linha de frente pela libertação" da Argélia.
Desafios contemporâneos e o colonialismo estrutural
Para Faustino, Fanon oferece conhecimentos indispensáveis para compreender o presente. Ele lembra que o filósofo defendia uma negritude que enfrentasse a branquitude enquanto parâmetro de humanidade, sem padronizar as experiências negras. "Ser negro no centro urbano em São Paulo não é a mesma coisa que ser negro num quilombo. Ser negro na Martinica não é a mesma coisa que ser negro na África. [...] É fundamental que a gente considere que dentro de uma luta comum há muitas realidades distintas e, às vezes, até conflitantes".
Diante disso, Faustino aponta que o colonialismo apresentado nos estudos de Fanon “não foi superado, ele é parte intrínseca do próprio desenvolvimento capitalista. [...] A luta produziu transformações profundas, mas ao mesmo tempo o capitalismo seguiu e foi não apenas cooptando as lutas de independência, mas também destruindo experiências autônomas de organização produtiva.
O pesquisador relaciona essa continuidade ao atual contexto de avanço do extremismo, à ascensão de discursos neonazistas na Europa e ao impacto de lideranças como Donald Trump nos EUA, evidenciando as estruturas que sustentam o racismo, como o capitalismo.
"No atual momento do capitalismo, a democracia deixou de ser necessária para os grandes centros de poder, financeirizados. As grandes corporações [...], que estão por detrás do poder hoje, não necessitam mais desse solo democrático. Então, mesmo na Europa, Estados Unidos, há um cenário que a gente vive e é o cenário propício para um retorno da violência, do autoritarismo como forma de fazer política", afirma.
Faustino ainda faz uma crítica contundente, ao citar o avanço da extrema-direita no continente europeu: "o fascismo da Europa é apenas a ponta do iceberg de um processo colonial de séculos".
Neste sentido, Faustino destaca que a obra de Fanon, escrita há mais de 60 anos, permanece central para pensar os dilemas do século 21. "É um pensamento que nos provoca a construir alianças mais amplas, sem abrir mão das especificidades, para que possamos rasgar o amanhã com justiça social e emancipação coletiva", conclui.
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Edição: Nathallia Fonseca