O G20, grupo das 20 maiores economias do mundo, se reuniu no Rio de Janeiro entre os dias 18 e 19 de novembro. Chefes de Estado e governo de 39 países, além de 16 organismos internacionais, estiveram na capital fluminense par ao evento que marcou o fim da presidência brasileira à frente da entidade.
A principal proposta defendida pelo diplomacia brasileira foi a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que pretende alcançar mais de 500 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no mundo. A iniciativa foi lançada pelo presidente Lula ainda no primeiro dia de cúpula.
"A fome e a pobreza não são resultado da escassez ou de fenômenos naturais. Como dizia o cientista e geógrafo brasileiro Josué de Castro, a fome é a expressão biológica dos males sociais. É produto de decisões políticas, que perpetuam a exclusão de grande parte da humanidade", disse o presidente anfitrião. "Com a aliança, vamos articular recomendações internacionais, políticas públicas eficazes e fontes de financiamento. O Brasil sabe que é possível", seguiu.
A Aliança Global contra a Fome teve a adesão de 82 países, 24 organizações internacionais e 31 organizações filantrópicas e não governamentais. O que foi celebrado pelo ministro do Desenvolvimento Social e combate à fome, Wellington Dias.
"Todos os países do G20 que fizeram o uso da palavra manifestaram o compromisso de, além de cumprirem com os termos da Aliança nos seus países, vocês sabem, tem países já bem desenvolvidos, com o índice de insegurança alimentar bem baixo ou um índice de pobreza também muito baixo. Mas todos se comprometeram a trabalhar os seus planos no sentido de também contribuir, reduzindo ainda mais insegurança alimentar e pobreza e, o mais importante, de contribuir com recursos financeiros e contribuir também com conhecimento", declarou o ministro.
Na sessão que debateu a necessidade de reforma do sistema de governança global, o presidente brasileiro enviou algumas mensagens indiretas ao colega argentino, Javier Milei, ao citar uma série de acordos sobre os quais a Argentina manifestou dissenso.
"Não é surpresa que a desigualdade fomente ódio, extremismo e violência. Nem que a democracia esteja sob ameaça. A globalização neoliberal fracassou. Impasses recentes em torno do Tratado de Pandemias, do Pacto para o Futuro e da COP da biodiversidade de Cáli mostram que a diplomacia vem perdendo terreno para a intransigência", destacou Lula, que ainda criticou o Conselho de Segurança da ONU e defendeu uma reforma dos mecanismos de governança.
"A omissão do Conselho de Segurança tem sido ela própria uma ameaça à paz e à segurança internacional. O uso indiscriminado do veto torna o órgão refém dos cinco membros permanentes. Do Iraque à Ucrânia, da Bósnia a Gaza, consolida-se a percepção de que nem todo território merece ter sua integridade respeitada e nem toda vida tem o mesmo valor. Intervenções desastrosas subverteram a ordem no Afeganistão e na Líbia. A indiferença relegou o Sudão e o Haiti ao esquecimento. Sanções unilaterais produzem sofrimento e atingem os mais vulneráveis", disse Lula.
Já o segundo dia de reuniões foi dedicado ao debate sobre o enfrentamento às mudanças climáticas e à proteção das populações mais vulneráveis. O presidente Lula cobrou dos países ricos que reduzam o prazo para o cumprimento das metas estabelecidas pela Agenda 2030 da ONU.
"Aos membros desenvolvidos do G20, proponho que antecipem suas metas de neutralidade climática de 2050 para 2040 ou até 2045. Sem assumir suas responsabilidades históricas, as nações ricas não terão credibilidade para exigir ambição dos demais."
Como já era esperado, a declaração final da 19ª Cúpula do G20 menciona as guerras na Ucrânia, na Faixa de Gaza e no Líbano, sem condenar os países responsáveis por esses conflitos. As resoluções contidas no documento não têm caráter vinculante. Ou seja: cada país pode decidir segui-las ou não.
Ao final da cúpula, o Brasil passou a presidência temporária do G20 para a África do Sul, que vai liderar o bloco pelo próximo ano.
Edição: Nicolau Soares