Os uruguaios foram às urnas novamente neste domingo (24) e deram vitória ao candidato da Frente Ampla de Esquerda, Yamandú Orsi, nas eleições presidenciais. Pupilo do ex-presidente Pepe Mujica, Orsi foi eleito com 49,8% dos votos. O resultado foi anunciado antes de terminar a contagem de todos os votos.
Neste segundo turno da eleição no Uruguai, o esquerdista derrotou Álvaro Delgado, candidato do Partido Nacional apoiado pelo atual presidente Luís Lacalle Pou. Delgado recebeu 45,9% dos votos e reforçou o cenário de disputa bastante acirrada apontado pelas pesquisas, embora Orsi tenha sido sempre o favorito.
A consolidação da vitória do herdeiro político de Mujica pode ser explicada pelo poder de mobilização da esquerda neste pleito. É como analisa Vinícius Rodrigues Vieira, professor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e da Fundação Getúlio Vargas (FGV). O especialista conversou com o jornal Central do Brasil sobre o tema nesta segunda-feira (25).
“Orsi tem uma vitória por uma margem muito estreita, sem dúvida, mas é uma vitória bastante representativa num contexto em que não apenas na América Latina, mas ao redor do mundo, temos uma tendência clara do avanço de forças de direita. Obviamente, o seu competidor Delgado não se enquadra ali na extrema direita - é um candidato de centro-direita -, mas ainda assim é uma demonstração de que vale a pena a esquerda se engajar ali no corpo a corpo, na campanha tradicional nas ruas, mobilizando sindicatos, bases populares”, lista.
“Segundo os melhores relatos que nos chegam, foi isso que acabou por acontecer e ser determinante para que houvesse essa vitória.”
Com 57 anos, Orsi já trabalhou como professor de história e foi governador do departamento de Canelones. A coalizão de esquerda da qual faz parte também conseguiu bons resultados no Legislativo do país. A Frente Ampla conquistou 16 das 30 cadeiras no Senado e 48 das 99 vagas na Câmara.
Apesar do resultado muito positivo, Orsi ainda terá que conversar com diferentes forças ideológicas, pontua o professor. O que parece não ser um problema, já que vai ao encontro do que o presidente eleito mencionou em seu primeiro discurso, no qual prometeu diálogo nacional.
“No Senado, nós temos uma maioria por pequena margem. E, na Câmara, nós temos uma situação mais complicada. [É] o que vinha sendo noticiado nos últimos dias: quem ganhasse não teria maioria na Câmara e seria forçado a buscar uma composição para atingir a maioria”, explica Vieira.
“No caso da Frente Ampla, falta pouco. Teríamos ali uma necessidade de ter mais dois/três votos para atingir uma maioria simples. Isso vai forçar Orsi a ser menos esquerdista, talvez, do que tenha sido ali o Tabaré Vázquez [ex-presidente do Uruguai, referência da esquerda latino-americana] nos seus dois mandatos [2005-2010 e 2015-2019]. Então, nós podemos esperar aí uma barganha muito forte com aqueles deputados que são tanto do Partido Colorado quanto do Partido Nacional, as outras duas forças mais à direita, que estão mais expostos a negociar com o governo Orsi.”
O professor de relações internacionais lembra que, no Uruguai, um presidente não pode ter dois mandatos consecutivos. O intervalo entre os dois mandatos de Vázquez foi a presidência de Mujica, entre 2010 e 2015.
Fim do governo Luis Lacalle Pou
Para Vieira, o retorno da esquerda ao poder no Uruguai vem acompanhado de uma ampliação de direitos sociais, flexibilizados no governo do presidente Luis Lacalle Pou.
“O que o governo que sai agora procurou avançar foi um pouco de políticas neoliberais, de flexibilização de direitos, direitos sociais, direitos no âmbito geral. Então nós podemos esperar um governo Orsi procurando reforçar esse caráter de uma economia de mercado, como é a economia uruguaia, pouca intervenção do Estado via estatais diretamente, mas, sem dúvida, uma economia que fornece via Estado amplos direitos sociais”, destaca.
Apesar disso, Orsi, assim como Delgado, não fez durante a campanha eleitoral nenhuma apresentação de grandes mudanças em relação ao governo de Lacalle Pou. Como lembrou Regiane Bressan, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em entrevista ao jornal Central do Brasil também sobre o tema, na última sexta-feira (22).
"Isso mostra a preferência do eleitor uruguaio. Ele não espera grandes mudanças, o que ele quer é continuar crescendo com uma qualidade de vida invejável a muitos países da nossa região", ressalta a especialista, que citou ainda uma aproximação na relação do Brasil com o Uruguai com a vitória de Orsi.
O presidente eleito toma posse em 1º de março de 2025 e vai governar o Uruguai até 2030.
Confira a entrevista completa com Vinícius Rodrigues Vieira na edição desta segunda-feira (25) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Martina Medina