O CERCO SE FECHA

Plano de golpe: Bolsonaro tenta se livrar de responsabilidades, mas provavelmente será preso, diz cientista político

Para Paulo Ramirez, tendência é que mais provas surjam, implicando ex-presidente como mandante de 'crime gravíssimo'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Ex-presidente acumula três indiciamentos e se complicou ainda mais com inquérito sobre golpe que envolveu plano para matar autoridades - Foto: SERGIO LIMA / AFP

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou, nesta segunda-feira (25), sobre o inquérito final da Polícia Federal (PF) em que ele e mais 36 pessoas constam como indiciadas por tentativa de golpe de Estado. Em entrevista aos jornalistas no Aeroporto de Brasília, após uma viagem feita a Maceió (AL), Bolsonaro se defendeu afirmando que nunca debateu golpe com ninguém. Ele ainda negou a existência de um plano para matar autoridades.

Na semana passada, o inquérito da PF revelou que, entre os planos descobertos para manter Bolsonaro na presidência no fim de 2022 e impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após as eleições, estavam o de matar Lula, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.

Para o cientista político Paulo Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), as declarações de Bolsonaro negando envolvimento na trama golpista não fazem sentido, tendo em vista os próprios depoimentos de aliados dele na investigação

"Bolsonaro, quando foi presidente, uma das suas principais marcas era exatamente abandonar os seus aliados quando eles se envolviam em alguma polêmica. Ele fez isso com ministros da saúde durante a pandemia, fez isso com advogados, enfim, uma série de aliados que, à medida que foram entrando em confusão jurídica, em denúncias, ele sempre usou o argumento de que a responsabilidade não era dele", lembra o professor.

"Agora, a gente não pode esquecer que Bolsonaro passou quatro anos atacando, enquanto presidente, o STF. No ano de 2022, e durante o processo eleitoral daquele ano, ele também colocava em dúvidas o processo eleitoral e estimulava a população a tomar atitudes mais rígidas, mais agressivas, contra o resultado das eleições. Então, claro que não faz o menor sentido o argumento dele. A gente não pode esquecer que há uma série de militares sendo interrogados, fazendo delações premiadas e, provavelmente, cedo ou tarde, o nome do Bolsonaro aparecerá como um mandante dessa tentativa de crime gravíssimo, que foi uma tentativa de golpe".

Na tarde desta terça-feira, o ministro Alexandre de Moraes derrubou o sigilo da investigação e enviou o relatório de mais de 880 páginas à Procuradoria-Geral da República (PGR). Cabe ao órgão agora analisar as informações e decidir se denuncia os indiciados, pede aprofundamento das investigações ou arquiva o caso. A expectativa é que o procurador-geral da República, Paulo Gonet, só tome uma decisão em 2025. 

Com mais esse indiciamento, é muito provável que Bolsonaro seja preso, aposta Ramirez. O ex-presidente acumula três indiciamentos. O mais recente se refere à tentativa de golpe, mas Bolsonaro também foi indiciado por falsificação de cartão de vacina em março deste ano e no caso das joias sauditas em julho. Caso Bolsonaro seja denunciado pela PGR, ele será julgado e pode ter pena de prisão decretada.

 "A tendência é que somem-se mais provas, inclusive de militares próximos ao Bolsonaro. E esse crime não foi um crime só de opinião. Liberdade de expressão não é liberdade para agir de maneira autoritária e contra a democracia. Isso não é liberdade de expressão. E a gente não pode esquecer que militares chegaram a ficar a postos para cometer o crime. Usaram recursos públicos e aparelhos públicos como carros, armas, ainda que não tenham matado Lula, o Alexandre de Moraes e muito menos o Alckmin, esse plano só não foi realizado definitivamente por uma questão do acaso, já que o Alexandre de Moraes acabou saindo mais cedo de uma sessão do STF", explica o professor da FESPSP.

"Então, não se pode dizer que não houve uma atitude de fato ou, apenas como argumentam os bolsonaristas, de que só foram ideias. Isso é absurdo. É um absurdo para tentar livrar o Bolsonaro. E, diante disso, a tendência é que a PGR conduza o Bolsonaro ao processo junto ao inquérito e, cedo ou tarde, é bem provável que ele seja preso".

A entrevista completa está disponível na edição desta terça-feira (26) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

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Edição: Martina Medina