INQUÉRITO COM A PGR

Militares convidados para golpe e que não denunciaram também precisam ser punidos, diz analista

Paulo Roberto de Souza diz que eles prevaricaram e cobra responsabilização

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Relatório da PF indicou que também houve militares do alto comando das Forças Armadas que não concordaram em adotar e colaborar com plano de golpe - Foto: Fernando Souza/AFP

A lista do inquérito final da tentativa de golpe aponta para a participação de muitos militares no plano para manter o então presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder em 2022, mesmo após derrota para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O inquérito de mais de 800 páginas, fechado pela Polícia Federal e enviado primeiro ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), agora está sob análise da Procuradora-Geral da República, que vai decidir se denuncia os 37 indiciados.

Caso sejam denunciados, eles podem ser julgados e ter sentença de prisão. Apesar de muitos militares envolvidos na trama golpista, alguns membros das Forças Armadas não concordaram em adotar ou apoiar atos antidemocráticos, conforme também apontou o relatório da PF. Ainda assim, eles erraram em não ter denunciado, já que tiveram conhecimento do plano contra o Estado Democrático de Direito, e precisam ser punidos.

É o que afirma o cientista político Paulo Roberto de Souza, professor da pós-graduação em Mídia, Política e Sociedade da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP). O especialista conversou com o jornal Central do Brasil sobre as revelações do relatório após Moraes retirar o sigilo.

"Eu acho que [a recusa de altos comandantes do Exército ao golpe] dificultou, sim [que o plano fosse levado adiante]. Obviamente tem outros elementos, além dessa negativa de partes das Forças Armadas. Notadamente, alguns porque perceberam que era uma cilada. Tivemos acenos internacionais, é sabido por todos que emissários dos Estados Unidos, por exemplo, chegaram a conversar com o general Mourão, ex-vice-presidente da República, atual senador, de que, por exemplo, o governo americano não apoiaria um possível governo como consequência de um golpe", explica.

"Mas tem um fator importante que a gente não pode deixar de levar em consideração de que se essas lideranças das Forças Armadas souberam. Não só souberam, como foram convidados para essa tentativa de golpe e eles não agiram para denunciar e vir a prender as pessoas que gostariam de atentar contra a nossa democracia. Eles também prevaricaram. Então, em algum nível, também eles precisam ser responsabilizados, mesmo que de forma não tão severa como aqueles que efetivamente colocaram o processo de tentativa de golpe em operação", continua o cientista político.

Paulo ainda diz que é quase impossível os indiciados não serem denunciados e responsabilizados. "Agora com esse novo relatório parece que fica inevitável a necessidade de que os principais líderes dessa tentativa de golpe, dentre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro, sejam devidamente julgados, com amplo à direita defesa. Mas, com as provas que se apresentam, que venham a ser necessariamente condenados. E no caso do Bolsonaro, o ponto de partida óbvio é que ele continue inelegível e talvez tenha seus direitos políticos cassados por mais tempo do que tem até o momento", explica.

A entrevista completa está disponível na edição desta quarta-feira (27) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.

E tem mais!

Ciência Antirracista

Em Brasília (DF), a exposição "Astrofísica dos Corpos Negros" propõe uma reflexão sobre a desigualdade étnico-racial e de gênero na ciência. A mostra destaca a trajetória de cientistas negros e busca inspirar jovens a enxergar a ciência como um espaço inclusivo e acessível.

Venezuela vai às urnas

Os venezuelanos terão uma nova eleição no dia 15 de dezembro. Desta vez, eles vão escolher os juízes de paz das comunas. Estes representantes terão como trabalho mediar conflitos nas comunidades.

O Central do Brasil é uma produção do Brasil de Fato. O programa é exibido de segunda a sexta-feira, ao vivo, sempre às 13h, pela Rede TVT e por emissoras parceiras.

Edição: Nicolau Soares