DIVERSIDADE

Duas brasileiras conquistam títulos inéditos em concurso de Miss Universe Trans na Índia

Marcia di Paula e Beatrice Bento venceram duas categorias cada. Brasil saiu com cinco premiações de Nova Délhi

Brasil de Fato | Porto Alegre (RS) |
Brasil conquistou cinco premiações do Miss Universe Trans 2024 em Nova Délhi, na Índia - Divulgação Miss Universe Trans Brasil

A modelo gaúcha Marcia di Paula venceu o Miss Universe Trans entre candidatas acima dos 40 anos. É o primeiro título mundial que o Brasil conquista na categoria. A cerimônia ocorreu em 11 de novembro, em Nova Délhi, na Índia.

Ela tem 46 anos e é natural de Dona Francisca, município com 3 mil habitantes da Região Central do Rio Grande do Sul. A nova Miss Universe Trans recebeu a coroa da conterrânea Luanna Isabelly, que conquistou o título máximo em 2023. Marcia já havia sido coroada Miss Universe Trans Brasil (Ladies) em setembro, durante um evento no Teatro Unisinos em Porto Alegre (RS).

Levando a bandeira de Santa Catarina, Beatrice Bento também conquistou o título inédito de Miss Universe Trans das Américas. Ela é a primeira brasileira a receber o título em um concurso internacional. A premiação ocorreu em 12 de novembro, também em Nova Délhi. “Esta conquista histórica marca um avanço para a representatividade e a inclusão das mulheres trans em palcos internacionais”, pontuou Beatrice.

Após conquistar o título nacional em setembro, em Porto Alegre (RS), ela foi vítima de uma série de ataques em suas redes sociais sobre sua aparência. “Não precisamos seguir padrões para sermos reconhecidas como mulheres trans”, se posicionou. A jovem de 31 anos lidera a discussão sobre a luta contra a padronização dos corpos e o respeito às particularidades de cada pessoa em seu processo de transição, defendendo que cada mulher trans deve ter a liberdade de viver sua própria verdade sem imposições.


Marcia di Paula (à direita) conquistou os títulos de Miss Universe Trans 2024 e Miss Timeless Beauty / Divulgação Miss Universe Trans Brasil

A recém coroada Marcia di Paula usou trajes assinados pelo estilista Ruby Sarat, de Santa Maria (RS), que criou figurinos inspirados na moda parisiense. Ela pontua que sua conquista simboliza “não apenas um marco pessoal, mas também um avanço para o Brasil na formação de lideranças e na promoção de projetos sociais voltados à comunidade trans”.

Durante seu ano de reinado, a miss se compromete a focar no acesso de mulheres trans ao mercado de trabalho e promete dedicar o seu momento de visibilidade para promover ações contra a discriminação e o preconceito.

Ela iniciou sua carreira artística em 2019, quando conheceu Fabiano Biazon e Mateus Ahlert, empresários especializados em projetos de diversidade e inclusão. Com o apoio e orientação da dupla, Marcia desenvolveu suas habilidades como atriz, modelo e miss, conquistando seu primeiro registro profissional aos 43 anos.

Marcia assume, assim, uma posição de liderança e será porta-voz em campanhas de conscientização e ações afirmativas para a luta contra a discriminação. “Ser Miss não é só um título, é servir de exemplo para as pessoas. Exemplo de resiliência, persistência, força, coragem, determinação, luta”, definiu a Miss nas redes sociais.

História de conquistas

Natural do Pará, Beatrice Bento mudou-se para Santa Catarina com 26 anos de idade, onde deu início à sua transição aos 27. Na época, ela foi a primeira mulher trans a integrar a liga de voleibol feminino do estado. Atualmente, a miss trabalha como assistente comercial em uma multinacional, sendo a primeira mulher trans do país a ocupar a posição na empresa.

Durante o concurso, ela reafirmou seu compromisso em combater a discriminação e romper com os estereótipos de beleza impostos às mulheres trans. Ela compartilhou sua experiência pessoal de transição como uma jornada única, onde cada passo foi respeitado e conduzido com responsabilidade médica, hormonal e psicológica. “As pessoas precisam entender o tempo de cada um. Nos impor estereótipos físicos para sermos aceitas é uma forma de violência que precisamos combater”, declarou.

Luta pelo fim da discriminação e padronização de corpos

Como Miss Universe Trans Brasil e Miss Universe Trans das Américas, Beatrice se dedica a promover pautas de inclusão e a defender a dignidade das mulheres trans. Seu projeto social, o Programa de Apoio e Acolhimento à Mulher Trans em Transição, oferece suporte psicossocial e jurídico para mulheres em processo de transição, respeitando a individualidade e o ritmo de cada uma. A iniciativa visa construir um ambiente seguro para compartilhar experiências e ter acesso a serviços essenciais de saúde e orientação jurídica, contribuindo para uma transição digna e empoderada.

Beatrice Bento espera que sua vitória inspire outras mulheres trans a ocuparem seus espaços com orgulho e segurança. E que assim, cada mulher possa ser respeitada e valorizada, independentemente dos padrões sociais. “A verdadeira beleza está na autenticidade e na liberdade de cada um de viver de acordo com sua própria essência", concluiu.

Brasil é o grande campeão do Miss Universe Trans 2024

Sob a coordenação de Fabiano Biazon e Mateus Ahlert, a comitiva brasileira na Índia conquistou cinco prêmios, saindo como a grande campeã do evento internacional. Para os coordenadores, “o Brasil é o grande vencedor, pois esta conquista celebra a força e a resiliência da comunidade trans brasileira no cenário global”.

Entre os títulos, Fabiano e Mateus foram homenageados como Melhores Diretores Nacionais. Márcia Di Paula, além de ser eleita Miss Universe Trans 2024, também conquistou o título de Miss Timeless Beauty. Já Beatrice Bento brilhou ao receber os títulos de Miss Universe Trans das Américas 2024 e Melhor Traje de Gala.

Fonte: BdF Rio Grande do Sul

Edição: Katia Marko