O ideal é que a população mais vulnerável seja vacinada progressivamente
Em análise sobre a situação epidemiológica da Mpox em todo o globo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) manteve a doença como uma emergência de saúde pública de importância internacional. Segundo o diretor-geral da instituição, Tedros Adhanom Ghebreyesus, a decisão foi tomada frente ao crescente número de casos e aos desafios operacionais para que as nações estabeleçam uma "resposta coesa" no combate ao vírus.
De acordo com a OMS, entre 1º de janeiro de 2022 e 30 de setembro de 2024, foram confirmados 109.699 casos de Mpox em todo o mundo, com 236 mortes. A maioria das infecções (11.148 casos confirmados) se concentra no continente africano, especialmente na República Democrática do Congo.
O Brasil confirmou 1.578 casos em 2024, o dobro do número registrado em 2023. Nenhum óbito foi registrado em território nacional neste ano. Pela falta de vacinas, ainda não foi possível estabelecer uma campanha de ampliação da imunização.
Um dos principais obstáculos para conter a doença está justamente na desigualdade de acesso aos imunizantes, que afeta principalmente os países mais pobres. A dinâmica repete o cenário observado em outras emergências globais, como a pandemia da covid-19.
Em entrevista ao podcast Repórter SUS, a pesquisadora da Fiocruz e diretora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Valdiléa Veloso, afirmou que a dinâmica de iniquidade amplia consideravelmente o problema.
“Embora não estejamos com uma explosão de casos (no Brasil), o ideal é que a população mais vulnerável seja vacinada progressivamente, como estão fazendo os países desenvolvidos. Eles não estão com nenhuma explosão de casos, mas estão vacinando progressivamente desde 2022”.
Na conversa, ela explicou que não existe uma indicação de vacinação em massa, mas a expansão da vacinação de populações mais vulneráveis é uma recomendação. “Nós, efetivamente, não conseguimos ainda a liberação de vacinas suficientes para serem compradas e atender a essa necessidade”, disse Veloso.
No Brasil, a vacinação contra a Mpox, com a vacina da varíola, é direcionada a portadores de HIV e profissionais da saúde, como técnicos e técnicas de laboratórios. Ao podcast, a pesquisadora destacou a necessidade de desenvolvimento de tecnologias nacionais para conter o problema.
"Trazemos de volta a questão da importância do desenvolvimento tecnológico, de como isso é importante para a soberania de um país, para a segurança da sua população. E precisamos ampliar esse desenvolvimento tecnológico para que as vacinas sejam produzidas também por países do sul global, como o Brasil, países da África, porque, na hora que a situação aperta, a gente vê que a vacina não está na mão de quem está sendo mais acometido.”
*O Repórter SUS é uma parceria entre o Brasil de Fato e a escola Politécnica de saúde Joaquim Venâncio, da Fundação Oswaldo Cruz. Novos programas são lançados todas as semanas. Ouça aqui os episódios anteriores.
Edição: Nathallia Fonseca