O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, utilizou suas redes sociais na tarde deste sábado (30) para ameaçar impor tarifas de 100% aos países dos Brics caso o bloco venha a adotar, em suas transações comerciais, uma moeda própria ou qualquer outra moeda em substituição ao dólar estadunidense.
Segundo ele, os Estados Unidos não vão mais "ficar parados" e apenas "assistindo" à tentativa dos países dos Brics de se afastarem do dólar como moeda usada nas transações comerciais internacionais.
"Exigimos um compromisso desses países de que eles não criarão uma nova moeda Brics, nem apoiarão nenhuma outra moeda para substituir o poderoso dólar americano", escreveu Trump em sua conta no Truth Social, uma plataforma mantida pelo conglomerado de comunicação do próprio presidente eleito.
Caso o grupo de países insista nos debates sobre possível desdolarização do comércio internacional, "irão enfrentar", segundo Trump, "tarifas de 100% e devem esperar dizer adeus à venda para a economia maravilhosa dos Estados Unidos". "Eles podem ir procurar outro 'otário'!", exclamou Trump em sua postagem.
O grupo Brics é hoje composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã.
Em outubro deste ano, uma série de debates tentou aprofundar o tema durante a cúpula dos Brics, realizada em Kazan, na Rússia. As discussões geradas e a consequente Declação de Kazan acabaram por acentuar as desconfianças dos Estados Unidos em relação às estratégias do grupo para reduzir o impacto do uso do dólar no comércio internacional.
Uma nova moeda de reserva internacional
Em texto de opinião publicado em outubro deste ano no Brasil de Fato, o economista Paulo Nogueira Batista Jr. considera que a atual ordem monetária e financeira internacional, dominada pelo dólar americano, demonstra-se "disfuncional e insegura". "O sistema foi transformado em arma geopolítica para aplicação de sanções, punições e confiscos", argumenta.
Para o economista, países como China, Rússia e Irã não se demonstram muito vulneráveis a esse tipo de pressão. "Mas o mesmo não pode ser dito de outros países dos Brics. Até Beijing pode hesitar em comprar essa briga com Washington", pondera Paulo Nogueira, que atuou, de 2015 a 2017, como vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, mantido pelos Brics em Xangai.
Paulo Nogueira ressalta que, hoje, o comércio internacional tem por base o sistema de pagamentos Swift, controlado especialmente pelos Estados Unidos, sendo "sistematicamente usado como instrumento para punir e ameaçar países e entidades vistas como hostis ou pouco amigáveis". "Bancos desses países são sumariamente excluídos do sistema, como aconteceu com a Rússia", exemplifica.
Edição: Felipe Mendes