De 18 de novembro a 2 de dezembro, a Universidade Federal do Maranhão (UFMA) recebeu cerca de 50 intercambistas, entre professores e estudantes de Moçambique, Cabo Verde e Colômbia, para uma série de atividades acadêmicas e culturais, além de visitas a escolas e espaços de incidência político-cultural, a exemplo dos espaços do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) na capital São Luís, como o Solar Cultural da Terra Maria Firmina dos Reis e o Armazém do Campo.
O professor moçambicano Tomé Pedro Morais, doutor em História da África Contemporânea, já havia ministrado disciplina na UFMA em modalidade remota e, somente a partir do programa, visitou pessoalmente o estado e reforça a importância do intercâmbio.
"Foi um momento esplêndido, cheio de coisas novas, com assimilações de novos saberes, conhecimentos e práticas. Foi um conjunto de trocas de cultura e estabelecimento de interculturalidade entre povos, e pudemos, ao longo da nossa estadia no Maranhão, entender que alguns elementos da nossa cultura estão presentes na cultura do povo de São Luís e com maior destaque para os quilombos. Sentimos muita hospitalidade, simplicidade e muitas oportunidades de confraternização", declara Tomé.
Sobre o intercâmbio
O intercâmbio é realizado por meio do programa “Caminhos Amefricanos”, promovido pelo Ministério da Igualdade Racial, em parceria com o Ministério da Educação e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) com o objetivo de fortalecer os espaços de pertencimento e a integração entre culturas para a apreensão e socialização de tecnologias utilizadas para o combate e a superação do racismo.
“Este grande encontro é o resultado do primeiro ano de implementação do programa Caminhos Amefricanos, apresentando para o mundo o poder e a força da população negra e a potência da história e cultura africana e afro-brasileira para a transformação da educação e das relações políticas no Brasil e no mundo”, explica Luiz Paulo Bastos, diretor de Políticas de Combate e Superação do Racismo do Ministério da Igualdade Racial.
O programa foi inspirado em ações afirmativas da UFMA, pioneira em implantar a Licenciatura em Estudos Africanos e Afro-brasileiros (Liesafro), ainda em 2015 e, agora, fortalece a socialização de conhecimentos, de experiências e de políticas públicas que contribuam com o combate e a superação do racismo no Brasil com base na Cooperação Sul-Sul.
“Além do fortalecimento do diálogo Sul-Sul na agenda da formação de docentes e de futuros docentes, o contato com a realidade de outros países e suas propostas educacionais fortalece uma rede que historicamente ficou à margem na produção de conhecimento, sendo assim uma possibilidade de desconstruir estereótipos muito presentes sobre o continente africano e sua diversidade. Os alunos e professores que passam pelo programa serão sementes importantes de uma educação antirracista”, comenta Márcia Lima, Secretária de Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo no Ministério de Igualdade Racial.
Visita a espaços de luta por território e ancestralidade
Além das atividades propostas pelo programa, os intercambistas puderem conhecer espaços de lutas povos e movimentos históricos que atuam na defesa do território, da ancestralidade, saberes e culturas tradicionais, a exemplo de quilombos, a casa de formação do Movimento Interestadual de Mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e espaços do MST.
"A ida aos espaços do MST foi importante para que os intercambistas pudessem conhecer o trabalho do movimento, que tem parceria com o Liesafro e, ao mesmo tempo, tenham acesso às lutas históricas pela terra e território no estado, que se articulam também à luta antirracista. Além disso, conheceram também outros espaços de resistência como o MIQCB, o Quilombo Liberdade e o Quilombo Santa Rosa", destaca o professor Sávio José Dias Rodrigues, professor coordenador do Programa de Pós-Graduação em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (PPGAFRO) da UFMA.
Jonas Borges, da direção nacional do MST e graduado em Estudos Africanos e Afro-Brasileiros pela UFMA recepcionou os intercambistas e destaca o orgulho de proporcionar a troca de conhecimentos e culturas com os amefricanos nos espaços de luta do movimento.
“Depois das visitas, fizemos uma roda de conversa onde eles puderam conhecer um pouco da luta pela terra no estado, mas também a nossa relação com a luta antirracista. Um dos nossos espaços leva o nome de Maria Firmina dos Reis, mulher maranhense negra, antirracista e um dos grandes nomes do movimento abolicionista. Foi um momento forte de muita troca”.
Os cerca de quinze dias pareceram pouco para os intercambistas que percorriam quase diariamente as ruas históricas de São Luís, com a alegria, os ritmos embalados por reggae, as cores vibrantes e a espontaneidade em comum com os maranhenses.
Durante a viagem de partida, o professor moçambicano Tomé Pedro Morais contou da importância de ter vivido a experiência, agradeceu a hospitalidade e recepção, reforçando a importância de que o programa seja duradouro e, mais do que isso, ampliado a outros povos.
"Esperamos que o programa de intercâmbio não termine, que se estenda para outros povos e seja uma ação permanente e abranja outras áreas do saber. Que seja um projeto que transcenda a interculturalidade e vá para outros patamares, como as iniciativas juvenis, dos ramos comercial, empresarial e outros que enaltecem a nossa africanidade e amefricanidade. Que enalteça a proximidade dos povos".
Sobre o programa
O programa “Caminhos Amefricanos: Programa de Intercâmbios Sul-Sul” é promovido pelo Ministério da Igualdade Racial, em parceria com o Ministério da Educação (MEC) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Seu objetivo é promover a socialização de conhecimentos, de experiências e de políticas públicas que contribuam para o combate e a superação do racismo no Brasil, com base na Cooperação Sul-Sul em intercâmbios de curta duração, particularmente, em países africanos, latino-americanos e caribenhos.
Edição: Martina Medina