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Análogo à escravidão: 31% dos trabalhadores da pecuária no Pará foram vítimas de trabalho forçado nos últimos dois anos, aponta pesquisa

Estudo inédito ouviu 1.241 trabalhadores nos municípios de Marabá, Itupiranga e Ulianópolis

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Trabalhadores ouvidos realizam funções diversas, como abertura de pasto, construção de cercas e manejo de gado - Licia Rubinstein/Agência IBGE Notícias

Uma pesquisa inédita revelou que cerca de 31% dos trabalhadores do setor da pecuária no estado do Pará foram vítimas de algum tipo de trabalho forçado nos últimos dois anos. 

Os dados, que apresentam um panorama das condições de trabalho no setor da pecuária no estado, foram publicados nesta quinta-feira, no relatório Combate à escravidão moderna no Brasil: estimativa de prevalência e perfil de vulnerabilidade do trabalho forçado e análogo ao de escravo na pecuária no Pará, Brasil, realizado pela Fundação Pan-Americana para o Desenvolvimento (PADF). 

Os pesquisadores ouviram 1.241 trabalhadores, nos municípios paraenses de Marabá, Itupiranga e Ulianópolis, nas regiões sul e sudeste do estado, onde há grande prevalência da atividade. Dentre as pessoas ouvidas, 12% foram consideradas vítimas potenciais de recrutamento injusto, retenção de salários e restrições de liberdade. Outros 6% foram vítimas de abuso sexual ou servidão por dívida. 

O trabalho forçado é um dos indicadores do trabalho análogo à escravidão, que inclui ainda jornada exaustiva, condições degradantes e restrição de locomoção por dívida.

Uma das características do trabalho na pecuária é a diversidade de funções desenvolvidas. “Eles estão lá para derrubar as árvores, abrir mais um pasto. Num outro momento, eles estão levando gado, colocando cercas, num outro momento, eles estão roçando”, explica Irina Bacci, diretora técnica da PADF.  

Com relação ao perfil dos trabalhadores, a pesquisa indica 74% são do sexo masculino. O trabalhador mais jovem ouvido pelos pesquisadores tem 18, e o mais velho, 86. Dos 1.241 trabalhadores que participaram do estudo, 89% se declararam pretos ou pardos.  

“Uma herança que desde a escravidão a gente carrega. É o mesmo perfil de trabalhadores, hoje, daqueles que sempre foram escravizados nesse país”, conclui Bacci. 

De acordo com uma análise do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas, que reúne dados sobre condições de trabalho desde 1995 no Brasil, o Pará é o estado com mais resgates de pessoas em condições de trabalho análogo à escravidão. 

Edição: Geisa Marques