O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, anunciou nesta quarta-feira (4) a troca do ministro da Fazenda em meio à suspeita de corrupção na pasta. Ricardo Bonilla deixa o cargo depois de 2 anos e meio e dá lugar ao antigo vice-ministro, Diego Guevara. Segundo o chefe do Executivo, ele e o ministro são vítimas de “armadilhas”.
“O erro de Bonilla é a ingenuidade acadêmica, pensando que todos têm a mesma altura intelectual. É por isso que ele desobedeceu às minhas instruções de não confiar nos funcionários de [Álvaro] Uribe que são do ministério, que nos traíram desde o início”, afirmou Petro em uma publicação nas redes sociais.
Bonilla é alvo de diferentes investigações por corrupção e prejuízos milionários ao Estado. Ele teria negociado US$ 23 milhões (R$ 137 milhões aproximadamente) para assinar três contratos da Unidade para a Gestão de Risco de Desastres (UNGRD) e beneficiar três deputados. Eles receberiam créditos do Ministério da Fazenda e, em troca, dariam apoio na votação que vai discutir o aumento da dívida do governo.
“Espero a sua demissão, não porque acredite que ele seja culpado, mas porque querem despedaçá-lo por ser leal ao programa de governo. O ministro não deu cotas indicativas a nenhum parlamentar. Confundem o extorquido com o autor da extorsão para confundir o povo”, disse Petro.
Ele deixou o cargo depois da publicação de uma reportagem do jornal El Colombiano. O diário publicou nesta quarta-feira uma reportagem detalhando que o agora ex-ministro encaminhou para a procuradoria-geral uma série de denúncias contra o presidente da estatal petroleira Ecopetrol, Ricardo Roa, e contra o filho do presidente Petro, Nicolás Alcocer Petro, por negociarem o favorecimento de terceiros em contratos de uma hidrelétrica.
Petro também defendeu Bonilla neste caso. Segundo o presidente, a reportagem tem o intuito de “destruir alternativas políticas” e atingir o governo. “A reportagem sobre Bonilla é o contrário, como quase sempre, quando se trata de destruir alternativas políticas e sonhos coletivos de quem trabalha e estuda”, afirmou Petro.
Bonilla é o terceiro funcionário do alto escalão que deixa o governo por suspeitas de corrupção na UNGRD. O ex-diretor da unidade, Olmedo López, e o ex-diretor da agência de inteligência colombiana, Carlos Ramón González, também foram afastados por outros casos envolvendo o órgão.
O ex-ministro era um dos homens de confiança do presidente. Além de ter sido ministro desde o início da gestão, ele também foi secretário de Fazenda de Bogotá enquanto Petro era prefeito da capital colombiana.
Durante a sua gestão, Bonilla foi um dos responsáveis por algumas conquistas econômicas do governo de Petro. A primeira delas foi reduzir a inflação. O atual presidente assumiu em agosto de 2022 com uma inflação acumulada de 10,8%. Dois anos depois, a inflação colombiana está em 5,4% no acumulado dos últimos 12 meses.
A cotação do dólar também foi uma das buscas do governo, que conseguiu baixar o valor da moeda estadunidense na Colômbia. Se ao final de 2022 1 dólar custava 4.898 pesos colombianos, hoje vale 4.437.
Outro esforço do governo foi aumentar o salário mínimo acima da inflação. Para 2024, o piso foi ampliado em 12%, para 1,4 milhões de pesos (R$ 1.975 aproximadamente). A meta de Bonilla era aumentar em 6,2% para 2025, o que representaria uma alta de 80.600 pesos (R$ 108). A inflação projetada pelo ministério para o ano que vem será de 5% a 5,2%.
Outro caso em 2024
Bonilla não é o primeiro ministro afastado depois de denúncias de caso de corrupção em 2024. O chanceler Álvaro Leyva acatou a suspensão do cargo determinada pelo Ministério Público por três meses em fevereiro deste ano. Ele é investigado por ter “excedido suas funções” depois de cancelar, em 13 de setembro do ano passado, uma licitação para escolher a empresa que emitiria os passaportes colombianos.
O ministro tomou a decisão após o MP confirmar a suspensão. Em 24 de janeiro, Leyva havia sido afastado do cargo e a procuradora Margarita Cabello ratificou a decisão nesta quarta-feira. O ministro então enviou uma carta à Cabello dizendo que cumpriria o afastamento “imediatamente”.
Em seu parecer, a procuradora disse que chegou à conclusão depois de “analisar os fatos, as provas e a ação processual tomada pela Câmara”. Também anunciou que o órgão deve abrir um novo processo contra o ministro por ele ter exercido o cargo por 15 dias, mesmo depois da sua suspensão. Segundo o MP, Leyva não tinha nenhuma fundamentação técnica para cancelar a licitação para a emissão de passaportes. A única empresa que restava no processo era a Thomas Greg & Sons de Colombia SA.
Edição: Leandro Melito