Novas eleições

Justiça da Romênia cancela resultado do 1º turno das eleições presidenciais

Votação terminou com surpreendente liderança do candidato anti-Otan; autoridades insinuam possível influência de Moscou

Brasil de Fato | São Petersburgo (Rússia) |

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Manifestantes seguram bandeiras da UE e da Romênia durante um comício pró-europeu, em Bucareste, em 5 de dezembro de 2024. - Daniel Mihailescu / AFP

O Tribunal Constitucional da Romênia decidiu nesta sexta-feira (6) anular os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais, que terminou com a liderança do candidato de extrema direita, Calin Georgescu, com 23%, que surgiu com uma plataforma política de críticas à Otan e favorável à Rússia.

"O processo eleitoral para a escolha do Presidente da Romênia será completamente repetido e o governo escolherá uma nova data", afirmou o tribunal em comunicado. De acordo com o tribunal, a anulação foi baseada no Artigo 146 da Constituição, que prevê a necessidade de garantir a correção e a legalidade do processo eleitoral. 

A decisão ocorre em meio à divulgação de dados pela presidência do país apontando violações nas eleições. Na última quarta-feira (4), foram revelados, no site da presidência romena, documentos sobre o papel do TikTok durante a campanha eleitoral. 

De acordo com os relatórios apresentados pelo principal conselho de segurança da Romênia, o processo político do país apresentou uma série de ataques cibernéticos e impulso de algoritmos através do TikTok na campanha de Georgescu. O órgão também falou em evidências de interferência estrangeira, insinuando uma influência russa no processo. 

De acordo com os serviços de inteligência romenos, o país tinha se tornado alvo de "ações híbridas agressivas por parte da Rússia". O documento também apontava que 25 mil contas de bots no TikTok poderiam estar fazendo campanha a favor de Georgescu. O candidato da extrema direita, por sua vez, nega qualquer ligação com a Rússia.

Em 28 de novembro, o Conselho Supremo de Defesa da Roménia realizou reunião especial sobre a campanha eleitoral do país e concluiu que o TikTok tinha dado preferências a Georgescu, insinuando a possibilidade de interferência russa. No entanto, uma recontagem dos votos expressos nas eleições presidenciais não revelou quaisquer discrepâncias significativas com os resultados oficiais e, em 2 de dezembro, o Tribunal Constitucional Romeno reconheceu os resultados da primeira volta como válidos.

Campanha anti-Otan

Nos últimos 10 anos, a Romênia esteve sob a liderança de Klaus Iohannis, político pró-Ocidente, marcado pela estreita cooperação entre Bucareste, a União Europeia e a Otan. Já Calin Georgescu aponta que a União Europeia e a Otan não representam os interesses da Romênia.

Em particular, o candidato criticou a implantação do sistema de defesa antimísseis da Aliança do Atlântico Norte na base militar romena na cidade de Deveselu, que chamou de "uma vergonha para a diplomacia" e "parte da política de confronto" com a Rússia.

Georgescu também comparou a adesão da Romênia à Otan como uma "terceirização" no domínio da segurança nacional e da defesa do país. O político afirmou que a Aliança do Atlântico Norte não protegeria nenhum dos seus membros em caso de ataque da Rússia.

Ao comentar os desdobramentos das eleições romenas após o primeiro turno, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Moscou "não possui informações detalhadas" sobre a posição do político em relação à Rússia. 
 

Edição: Rodrigo Durão Coelho