NÃO É BOM, NÃO!

Mercosul-UE: Via Campesina e organizações civis criticam novo acordo entre blocos

Dirigente elencou diversos pontos que tornam o acordo ruim e prejudicam sul-americanos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Integrantes da Amigos da Terra, MST, RENAP (advogados populares) e APIB (indígenas) visitaram países europeus para denunciar os impactos do Acordo UE-Mercosul. Na foto, protesto na Alemanha - Amigos da Terra Europa

acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia foi anunciado nesta sexta-feira (6) pela Comissão Europeia durante a Cúpula do bloco sul-americano em Montevidéu, capital do Uruguai. Atualmente presidido por Ursula Von der Leyen, a comissão negocia em nome dos países europeus há mais de duas décadas e foi à capital uruguaia para o encontro da sexta.

Mas, apesar de celebrado pelo governo de Lula (PT), movimentos e organizações civis já se posicionaram contra o acordo entre os blocos, que deve aprofundar ainda mais o poder do setor agropecuário e minar a indústria nacional.

Jaime Amorim, integrante da Direção Nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais (MST) e da Coordenação da Via Campesina Internacional, elencou duas críticas centrais ao Brasil de Fato. Para ele, o acordo é "uma recolonização europeia sobre os países do Mercosul, que fortalecem o modelo histórico da monocultura agroexportadora".

Assim, o acordo reduz os países da América do Sul a um único papel de produtor de matéria-prima, o que facilitaria a volta de uma primarização, "[Seria uma economia] baseada apenas em quatro setores econômicos, das commodities de produção agrícola [para o exterior], pecuária, minérios e celulose, o que ajudaria em um futuro aquecimento das indústrias europeias", diz ele.

O segundo ponto, segundo Amorim, é que a negociação traz à tona "a perda da soberania dos estados nacionais do Mercosul, [e] vai aumentar a ingerência e a subserviência [dos países latino-americanos]".

"Agora a Via Campesina sul-americana e Europeia buscarão uma unidade para se mobilizar contra [o acordo]. Para nós, o que nos guia é a soberania alimentar, a soberania nacional e o comércio justo", finalizou.

Críticas vindas de progressistas na Europa

Da França, Maxime Combes, economista na Aitec (Associação Internacional de Solidariedade na Luta por Justiça Econômica, Social e Ecológica) declarou que o acordo divide fortemente os países da UE, além de lideranças de oposição que eram contra o acordo; argumentos que a presidente do bloco - Ursula van der Leyer - não escutou.

"O fortalecimento dos laços culturais, políticos, geopolíticos e até mesmo econômicos entre a UE e os países do Mercosul não requer a liberalização dos mercados transatlânticos de bens e serviços", ressalta Combes. Mas sim uma luta "conjunta e solidária contra o aquecimento global, a perda de biodiversidade, o desmatamento e a conversão ecológica e social dos setores mais nocivos, e a soberania alimentar que garanta a atividade e a remuneração dos agricultores" dois lados do Oceano Atlântico.

Eric Moranval, ativista do Greenpeace na França disse que o acordo é ruim social e ambientalmente: "Nenhuma cláusula ambiental seria suficiente para justificar sua aplicação, já que os problemas que ele apresenta são tão numerosos, diversos e profundos. Esse acordo é inaceitável, e a França deve fazer de tudo para garantir que ele seja abandonado de uma vez por todas".

Para Aude Lorion, diretora de fair trade (comércio justo, em tradução livre) da Fédération Artisans du Monde, expressou sua indignação ao dizer que "esse acordo de livre comércio apenas reforçará um sistema de comércio global desigual e perpetuará uma lógica extrativista e neocolonial". Para ela, este um modelo de negócios viola direitos humanos das comunidades camponesas e indígenas latino-americanas, ao mesmo tempo em que garante novos privilégios para as grandes empresas. "Esse tipo de acordo vai na contramão da necessidade urgente de uma transição ecológica e social".

Segundo Laurence Marandola, porta-voz da Confederação Paysanne, são as multinacionais do setor financeiro e do agronegócio que lucrarão com a desregulamentação do mercado: "precisamos urgentemente estabelecer um sistema de comércio internacional justo que proteja a renda dos agricultores, a saúde das populações e do planeta, e garanta alimentos de qualidade para todos".

"Vamos nos opor com todas as nossas forças a esse acordo UE-Mercosul e a todos os outros acordos que alimentam essa corrida para o fundo do poço em termos sociais e ambientais", sinalizou.

Edição: Rodrigo Durão Coelho