Haddad tentou agradar gregos e troianos e, no final das contas, não agradou ninguém
Olá,
Na economia, assim como na segurança pública, a extrema-direita só tem a oferecer morte e miséria.
.Patinho feio. O pacotão fiscal de Haddad tentou agradar gregos e troianos e, no final das contas, não agradou ninguém. Não agradou o mercado, que esperava um corte profundo dos investimentos públicos. Em resposta à resistência do governo, o mercado especulou com o dólar, dando a deixa para a direita atuar no Congresso em nome da austeridade puro-sangue com um pacote alternativo e tentar barrar a proposta do governo na CCJ da Câmara. Não agradou os militares, em especial a Marinha que, afoita, saiu à TV para dizer que privilegiado mesmo é o povo brasileiro. E, como cortar salário do trabalhador é sempre feio, não agradou o povão, que já percebeu que a corda deve arrebentar do lado mais fraco. Na verdade, o problema começou bem antes, quando o governo deixou de pautar a agenda política e passou a ser pautado pelo mercado. Prova disso é que agora ninguém mais fala da regulamentação da reforma tributária, que um dia já foi prioridade da equipe econômica. O resultado é que ficou tudo para a última hora, chegou dezembro, a reforma tributária não foi finalizada, e só se fala em cortes. Claro, grande parte da culpa é do corpo mole do Congresso. Agora, mais do que nunca, o governo depende do empenho de Arthur Lira, já que vai precisar de três quintos dos votos da Câmara para aprovar a PEC. Publicamente, Lira mostra disposição em ajudar, mas nos bastidores ele está mais preocupado em barganhar com o governo para tirar o STF do seu encalço no tema das emendas, que ainda não encontrou uma solução final. Por ora, o governo conseguiu garantir a votação do regime de urgência para a PEC dos Cortes mediante a liberação de R$ 7,8 bilhões em emendas. Mas essa deve ser apenas a primeira parcela para comprar a boa vontade do centrão. E, se na esfera federal a pressão do mercado é avassaladora, a discussão sobre a recuperação fiscal dos estados que chegou ao Congresso tende a capilarizar ainda mais a austeridade, com a intensificação dos cortes, congelamento de salários e privatizações também em âmbito estadual.
.De que lado você samba? Em resposta à ideia de um Estado que gasta demais, o IBGE nos lembra que houve redução da pobreza e da extrema pobreza e isso se deveu, principalmente, à contribuição dos programas sociais. Ou seja, nos deu um motivo para continuar otimistas e um bom argumento para lutar contra os cortes no andar de baixo. Além disso, o crescimento econômico em ritmo chinês do Brasil durante o terceiro trimestre dá esperanças de que o futuro pode ser melhor. Porém, nos últimos anos aprendemos que o que está ruim sempre pode piorar, e quem nos ajuda a lembrar disso é o governo de São Paulo. Afinal, nem só de militares golpistas vive a extrema-direita. Lá no estado do presidenciável Tarcísio de Freitas, a polarização é entre os que matam e os que morrem. O resultado da flexibilização do uso de câmeras corporais pela PM foi exatamente o previsto pelos especialistas em segurança pública: ausência de controle e fiscalização na atuação policial e consequente aumento de mortes de pretos e pobres, das formas mais crueis. Aliás, só ficamos sabendo disso porque os cidadãos comuns passaram a usar câmeras de celular para furar o bloqueio oficial. Os casos foram tão escandalosos e impactaram a opinião de tal modo que obrigaram Tarcísio a recuar e fazer sua autocrítica, mas não a ponto de abandonar a linha dura bolsonarista. A violência policial de São Paulo deveria ligar o sinal de alerta de que o tema da segurança pública é urgente e continua sendo uma pedra no sapato da esquerda. Afinal, em âmbito federal, as recentes medidas propostas por Ricardo Lewandowski são insuficientes para o tamanho do problema. Prova disso é que o ministro foi obrigado a negociar com a bancada da bala um novo decreto das armas para que tenha alguma chance dentro do Congresso. E por falar em Congresso e em extrema-direita, antes mesmo do verão começar, voltou à pauta a PEC das Praias que, se aprovada, abrirá caminho para intensificar a destruição ambiental e a especulação imobiliária no litoral brasileiro.
.Ponto Final: nossas recomendações.
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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
Edição: Nathallia Fonseca