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Quem se sente realmente seguro?

Os casos de violência policial em São Paulo se acumularam nas últimas semanas, mas o problema é nacional

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
O policial militar Vinícius de Lima Britto executou Gabriel Renan no dia 3 de novembro deste ano, em uma unidade do Oxxo, em São Paulo - Foto: Reprodução/Instagram

Na noite de quarta-feira (4), policiais militares foram filmados agredindo uma senhora de 63 anos durante abordagem na casa da família em Barueri, na Grande São Paulo (SP). A confusão começou por uma moto em situação irregular estacionada na frente do portão, e continuou com empurrões, chutes e quebra-quebra.

"É o caso isolado número 10 milhões", denunciou o rapper Eduardo Taddeo, tio de Gabriel Renan da Silva Soares, que foi assassinado por um policial militar (PM) com oito tiros pelas costas em uma loja Oxxo, no dia 3 de novembro, em São Paulo (SP).

Os casos no estado se acumularam nas últimas semanas, mas o problema é nacional. No Grande Recife (PE), o PM Venilson Cândido da Silva matou a tiros o mototaxista Thiago Fernandes Bezerra, de 23 anos, no último domingo (1º). O motivo da morte teria sido a cobrança de R$ 7 por uma corrida. E, após atirar, o policial saiu andando como se nada tivesse ocorrido.

A normalidade da situação parece comum entre os casos. No caso do Oxxo, por exemplo, após Soares ser alvejado e cair no chão, o policial Vinícius de Lima Britto caminha calmamente até o corpo, mexendo no celular. Dois clientes, inclusive, passam pelo corpo estendido na calçada e entram na loja.

Já em outro caso recente, em que o PM Luan Felipe Alves Pereira arremessou um homem de uma ponte na Zona Sul da capital paulista, outros três colegas observaram a ação sem reação alguma. O ouvidor das polícias, Cláudio Silva, afirmou, em entrevista à TV Globo, que pediria o afastamento de todos os agentes, já que enquanto um praticava o ato, os outros não o impediram. 

Outra “coincidência” é quem são as pessoas atingidas. Um estudo publicado no início de novembro mostra que houve 4.025 mortes por policiais em todo o Brasil em 2023. Em 3.169 desses casos foram disponibilizados os dados de raça e cor: 2.782 das vítimas eram pessoas negras, o que representa 87,8%.

O advogado criminalista e diretor da plataforma Justa, Cristiano Maronna, afirma que está naturalizada a violação de direitos sob o argumento de combate ao crime, criando uma polícia sem controle, "que tem carta branca para matar", criticando os defensores da política de segurança atual.  

Um destes defensores, em São Paulo, por exemplo, é o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já chegou a ironizar as denúncias de letalidade e os abusos cometidos por policiais feitas ao Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU).

A consequência são as mudanças nas políticas de segurança pública implementadas, como é o caso do uso das câmeras corporais que está em discussão há certo tempo – e não era exatamente apoiado por Tarcísio.

Depois da pressão popular com os últimos casos, o governador recuou e afirmou que agora defende a ampliação do programa Olho Vivo, criado em 2020, que equipou policiais paulistas com câmeras portáteis que gravam a rotina operacional.

Infelizmente, não é este recuo que vai trazer mais segurança para a população. Afinal, os casos se acumulam, há questões estruturais e valores que são repassados no momento da própria formação dos policiais e existe todo um aparelho de proteção a quem mata no Brasil.

A nós, jornalistas, cabe denunciar, cabe divulgar nomes, vídeos e imagens dolorosas em busca de justiça, para que não haja mais impunidade e para que, um dia, quem sabe, surja alguma esperança de mudança e de real segurança para todos e todas nós. Independentemente de raça e classe social.

E você pode ajudar o Brasil de Fato se tornando um financiador do nosso trabalho. Enquanto estivermos no ar, você pode confiar que traremos o lado da população que sofre e que batalha, e não descansaremos enquanto não houver justiça. Se você também acredita nisso, apoie o Brasil de Fato

Seguimos na denúncia.

Rafaella Coury

Coordenadora de Redes Sociais

Edição: Martina Medina