Tensão

Grupo rebelde avança na Síria e amplia cerco sobre a capital Damasco

O conflito marca uma nova etapa de uma guerra civil em andamento no país desde 2011

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Forças rebeldes a caminho da cidade de Homs, nesta sexta-feira (7) - AREF TAMMAWI/AFP

O grupo rebelde Organização para a Libertação do Levante afirma que começou a invadir a capital da Síria, Damasco, neste sábado (7), na tentativa de derrubar o governo de Bashar al-Assad, que está há 24 anos no poder. O Ministério da Defesa do país, no entanto, nega a informação. 

"Nossas forças começaram a fase final do cerco à capital, Damasco", disse um comandante da coalizão rebelde, Hassan Abdel Ghani, à AFP News. Do outro lado, a pasta do governo afirmou que "as informações de que nossas Forças Armadas, presentes em todas as áreas de Damasco, se retiraram, não têm fundamento". 

De acordo com o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), o exército deixou suas posições, na manhã deste sábado, que ficam a cerca de 10 quilômetros ao sudoeste da capital Damasco. Pouco antes, as forças de segurança perderam o controle sobre regiões vizinhas, como a província de Daraa, no sul do país. 

Ainda segundo o OSDH, os insurgentes já teriam invadido as regiões de Maadamiyah, Jaramana e Daraya, nos subúrbios de Damasco. 

Nesta sexta-feira, a população de Homs fugiu da cidade à medida que as forças do regime perderam o controle na região. "Agora, [os rebeldes] controlam mais de 90% da província de Daraa, incluindo a capital de mesmo nome, após a retirada sucessiva das forças do regime", informou a organização.  

Esta é a primeira vez, em 13 anos de guerra civil, que as forças do governo, apoiadas pela Rússia e pelo Irã, perderam tantas cidades importantes em tão pouco tempo. As forças rebeldes já controlam a segunda maior cidade síria, Aleppo, e Hama, no centro do país. 

Informações do Al Jazeera dão conta de que a Organização das Nações Unidas (ONU) estimou que os confrontos recentes já forçaram o deslocamento de mais de 280 mil pessoas, agravando ainda mais a crise humanitária. O conflito, iniciado pelo grupo rebelde em 27 de novembro, marca uma nova etapa de uma guerra civil em andamento desde 2011

A intensificação da violência incluiu ataques coordenados por forças russas, que apoiam o regime de Assad. Segundo a agência Fars, cerca de 300 combatentes rebeldes foram mortos nos últimos dias em bombardeios realizados pelas forças aéreas da Rússia e da Síria nas províncias de Idlib, Aleppo e Hamã.

Situação complicada

A ofensiva dos opositores de Assad, que havia recuado, volta agora num contexto regional extremamente turbulento, pontua Pablo Ibañez, professor de Geopolítica da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Ele conversou com o jornal Central do Brasil sobre o assunto.

"É um conflito que já está durando mais de década. Ele teve um recuo e uma relativa vitória do governo de Bashar al-Assad, que agora vai perdendo importantes posições. Se a gente for observar, em especial a região do entorno da Síria está muito afetada pelo que está acontecendo também no Iraque, em que forças de milícias que estão ganhando muito poder e ocupando, efetivamente, determinados espaços, estão avançando."

"Isso tem provocado derrotas para o Bashar al-Assad, que efetivamente já vinha de um problema com o enfraquecimento desde o começo do conflito no qual ele atuou. Então a vida que já não era fácil para o Bashar al-Assad passa por um período, digamos assim, de relativa estabilidade, mas com o Oriente Médio nessa turbulência, o contexto regional inteiro nessa turbulência, a tendência agora é que ele vai enfrentar mais dificuldades. A situação dele é uma situação diferente do que a gente assistia antes. Ela não estava com a parte de Israel, da Faixa de Gaza, a West Bank, toda a parte que está mais ao sul da Síria não estava nesse contexto tão tenso", explica.

Deste modo, o conflito na Síria inclui vários outros atores internacionais. O destino do país interessa a Rússia, Estados Unidos, Irã, Turquia, Israel e União Europeia, que acompanham de perto as hostilidades. 

"De maneira muito resumida, os países que têm realmente um papel muito importante são Turquia, que faz fronteira direta, o Iraque, nessa questão de ser de onde estão mandando forças que estão desestabilizando internamente a Síria, mas a gente tem que colocar que há um conflito que, majoritariamente, é definido pela disputa entre Estados Unidos e Rússia", expõe Ibañez.

"A Rússia é um aliado histórico do governo Bashar al-Assad, é um aliado que manteve e deu capacidade militar e operacional para a Síria durante todo esse período. E os Estados Unidos se mantiveram como um ator de desestabilização interna, sobretudo em relação ao regime, custe o que custar", segue o professor.

"Os Estados Unidos não pouparam esforços em financiar grupos militares, paramilitares e é claro que também, em um determinado momento, se colocaram em estado de alerta quando houve realmente um avanço do estado islâmico e uma consolidação um pouco mais forte. Mas esse é um cenário de disputa muito clara na região e é um ponto fundamental da manutenção dessa Rússia que tende cada vez mais a se mostrar como um player internacional de grande peso e a Síria é um chamariz muito importante."

Saiba mais sobre a Guerra na Síria também no podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato.

Edição: Rodrigo Gomes