crise política

Manobra de partido conservador evita impeachment de presidente da Coreia do Sul 

Parlamentares boicotaram sessão neste sábado e impediram a votação da moção de destituição 

São Paulo |
Cerca de 150 mil sul-coreanos protestaram do lado de fora da Assembleia Nacional pedindo o impeachment do presidente - ANTHONY WALLACE AFP

Uma manobra articulada pelos parlamentares do Partido do Poder Popular (PPP) evitou a votação do pedido de impeachment do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, do mesmo partido. Eles deixaram o plenário de votação neste sábado (7), impedindo que a oposição atingisse os 200 votos necessários.  

O pedido de deposição do presidente foi apresentado pelo Partido Democrata, de oposição, após o presidente impor uma lei marcial na terça-feira (3), sob justificativas frágeis, e revogá-la em seguida. 

A aprovação do impeachment precisava dos votos de 200 dos 300 deputados sul-coreanos, mas apenas 195 parlamentares compareceram à votação. "Portanto, declaro que a votação sobre o tema não é válida", declarou o presidente da Assembleia Nacional, Woo Won-shik.  

“O país – e o mundo – estava a observar. É muito lamentável que não tenha sido possível realizar uma votação sobre uma questão nacional tão significativa”, disse o parlamentar. Nas ruas, cerca de 150 mil pessoas protestam a favor do impeachment, situação que deve se intensificar.  

“Mesmo que não tenhamos conseguido o resultado que queríamos hoje, não estou desanimado nem desapontado porque eventualmente conseguiremos”, disse Jo Ah-gyeong, à AFP. “Continuarei vindo aqui até conseguirmos”, completou. Independentemente da aceitação do pedido de impeachment, a polícia começou a investigar Yoon Suk Yeol e outros membros do governo por suposta insurreição. 

Os partidos de oposição ao presidente Yoon Suk Yeol, detêm 192 assentos no parlamento. Para o pedido de impeachment avançar, eles precisariam de pelo menos oito votos do Partido do Poder Popular, do próprio presidente. Embora deputados do partido tenham criticado o mandatário, na votação todos deixaram a sessão.

Próximos passos

Apesar do resultado deste sábado, a oposição promete tentar novamente a aprovação do pedido de impeachment na quarta-feira (11). “Vou acusar Yoon Suk Yeol, que se tornou o pior risco para a Coreia do Sul, a qualquer custo”, disse o líder da oposição, Lee Jae-myung. 

Antes do início da votação, o presidente Yoon Suk Yeol Antes da votação, pediu desculpas. “Eu causei ansiedade e inconveniência ao público. Peço desculpas sinceramente", disse ele na televisão, após três dias sem aparecer publicamente. 

O fracasso da moção de impeachment “significa uma crise política mais prolongada”, disse Vladimir Tikhonov, professor de Estudos Coreanos na Universidade de Oslo, à AFP. 

“Teremos um presidente politicamente morto – basicamente incapaz de governar por mais tempo – e centenas de milhares de pessoas que sairão às ruas todas as semanas até que Yoon seja removido”, disse ele. 

Caso a moção de impeachment seja aprovada, o presidente é afastado do cargo e vai ser julgado pelo Tribunal Constitucional, em um processo que pode levar até seis meses.  

Entenda 

Em seu discurso declarando a lei marcial na terça-feira, Yoon Suk Yeol afirmou que isso “eliminaria os elementos antiestatais que saqueiam a liberdade e a felicidade das pessoas”. 

As forças de segurança isolaram a Assembleia Nacional, helicópteros aterraram no telhado e quase 300 soldados tentaram bloquear o edifício. Mas enquanto os funcionários parlamentares bloqueavam os soldados com sofás e extintores de incêndio, um número suficiente de deputados entrou - muitos escalaram paredes para entrar - e votaram contra a medida de Yoon. 

Os soldados receberam ordens de deter políticos importantes, disseram responsáveis de ambos os partidos, tendo o chefe das forças especiais descrito mais tarde ter recebido ordens para "retirar" deputados do parlamento. 

Especialistas e legisladores especularam que os soldados de elite das forças especiais podem ter caminhado lentamente para seguir ordens, depois de descobrirem que estavam envolvidos num incidente político e não de segurança nacional.

*Com AFP

Edição: Rodrigo Gomes