ENCONTRO DOS AMIGOS

Na presença de ministros, MST critica paralisia da reforma agrária no governo Lula

Em atividade de fim de ano, Movimento Sem Terra diz que balanço da reforma agrária nos últimos dois anos ‘é negativo’

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
Coube a João Pedro Stedile fazer o balanço das ações e conquistas do MST em 2024, sem poupar críticas ao governo - Priscila Ramos/MST

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou, neste sábado (7), o tradicional Encontro dos Amigos do MST, atividade de fim de ano que serve para reunir apoiadores e fazer um balanço da luta política no ano que caminha para se encerrar. A atividade aconteceu no Espaço Cultural Elza Soares, no centro de São Paulo  

“O MST tem tido o cuidado, ao longo dos anos, de realizar atividades de final de ano, de confraternização, combinado com o debate político, primeiro para agradecer a solidariedade que os nossos aliados dedicaram a nossa organização nos últimos anos. A segunda questão, é o momento de nós prestarmos conta das coisas que nós conseguimos realizar, e das coisas que não conseguimos realizar. E por fim, projetar o que nós queremos fazer no próximo período”, afirmou João Paulo Rodrigues, da direção nacional do movimento, que ainda anunciou a realização da Feira Nacional da Reforma Agrária, na capital paulista, em maio de 2025.  

Ministros do governo federal estiveram presentes. O chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República, Márcio Macedo, destacou o papel do movimento popular em pressionar os gestores do Estado a tomarem decisões alinhadas com os interesses dos trabalhadores. “Eu queria parabenizar o MST pela luta que fez durante o ano inteiro pela realização da reforma agrária e pela produção de alimentos saudável. E dizer da importância que esse movimento tem para a democracia brasileira”, declarou.

“Às vezes eu fico pensando o que seria do Brasil se não existisse movimento social como o MST”, seguiu. “Nós não queremos nem que o governo aparelhe os movimentos, nem que os movimentos aparelhem o governo. Cada um na sua trincheira. O governo na trincheira de fazer as entregas, o movimento na trincheira de reivindicar e colocar sua pauta. E ambos na defesa da democracia, mas sempre, do lado certo da história”.  

Já o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, falou da importância do MST para a democracia, para o Brasil e para a reforma agrária. "E o balanço é a retomada, com toda força, da reforma agrária. Isso já está acontecendo”, declarou o ministro ao Brasil de Fato. “Eles [o governo anterior] tinham construído um muro para evitar a reforma agrária. Esse muro foi derrubado e agora nós voltamos com um projeto de reforma agrária”, concluiu Teixeira, que aproveitou o evento para anunciar a desapropriação de cinco áreas onde estão instalados acampamentos do MST, entre eles, o Quilombo Campo do Meio, no Sul de Minas, onde as famílias esperam pelo assentamento definitivo há mais de 20 anos.

João Paulo Rodrigues celebrou, com cautela, o anúncio feito por Teixeira. "Qualquer medida é necessária. O MST não teve nenhum conquista econômica neste ano. Estamos na expectativa de uma reunião com o presidente Lula e que as medidas que o ministro Paulo Teixeira se transforme em realidade. Mas essa pauta tem três meses que não foi executada", avaliou o dirigente.

"A reivindicação do MST é o assentamento das famílias acampadas, que são mais de 60 mil famílias, recursos para a compra de produtos da reforma agrária pelo PAA - Programa de Aquisição de Alimentos -, e um pacote de desenvolvimento, que é crédito, renegociação de dívida, habitação, educação no campo, e óbvio, a melhoria das condições de vida dos assentados. O MST está convencido que o governo Lula pode resolver esses problemas ainda esse ano", concluiu.  


Ministros Paulo Teixeira (esquerda), Márcio Macedo (centro) e Jorge Messias (direita), prestigiaram o Encontro de Amigos do MST / Priscila Ramos/MST

Após a intervenção dos representantes do governo, foi a vez do integrante da direção nacional do movimento, João Pedro Stedile, fazer o balanço das ações e conquistas nos dois últimos anos de retomada da democracia. Na presença dos ministros, o dirigente teceu fortes críticas à gestão Lula 3, e afirmou que o saldo “é negativo”, sob a perspectiva da reforma agrária e das conquistas reais para o povo brasileiro.  

“O governo Lula é um governo encalacrado. Ou seja, mesmo que tenha vontade política de ajudar os pobres, não consegue”, disse Stedile. “Não vou contestar os dados do Paulinho [ministro Paulo Teixeira], porque esse não é o objetivo. Mas a reforma agrária está parada, não houve nenhuma desapropriação em dois anos. Há boa vontade para resolver no ano que vem, tudo bem, há boa vontade. Mas o balanço é negativo”, afirmou o dirigente, que informou que o novo levantamento do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), aponta um passivo de 101 mil famílias sem terras em todo o país.  

“A gente precisa que o governo enfrente as questões estruturais, porque só de propaganda, não funciona”, criticou. “Nós temos que consertar muita coisa no governo Lula, porque senão nós vamos colher muitos frutos amargos”, alertou Stedile.

Edição: Rodrigo Gomes