Eventos climáticos extremos como as ondas de calor, chuvas volumosas, secas e os incêndios florestais vêm marcando cada vez mais o cotidiano do clima no Brasil. Em 2024 as chuvas no estado do Rio Grande do Sul mataram mais de 170, deixando mais de 600 mil desalojadas. Por outro lado, a seca na Amazônia afetou mais de 700 mil pessoas, segundo dados da Defesa Civil, a estiagem gerou prejuízos à pesca e proliferam focos de incêndio.
Diante disso, adaptar as cidades e as zonas rurais aos extremos climáticos é uma das principais tarefas do Estado brasileiro, assim como reduzir a liberação de gás carbônico na atmosfera e zerar o desmatamento. É o que afirma o cientista e climatologista Carlos Nobre ao Bem Viver, programa do Brasil de Fato.
Segundo ele, o evento extremo que mais causa morte é a onda de calor. “Todos os eventos extremos do mundo inteiro ficaram mais frequentes e quebrando recordes, como foi a chuva, no Rio Grande do Sul, a seca na Amazônia, as ondas de calor em 2023, e 2024, em grande parte do Brasil.”
O pesquisador pondera que aumentar os sistemas agroflorestais e a pecuária regenerativa podem ser importantes para mitigar os efeitos das mudanças climáticas.
Confira a entrevista completa:
Brasil de Fato: Como o senhor avalia a frequência com que eventos climáticos extremos têm acontecido?
Carlos Nobre: Globalmente em 2023, 2024, foram os primeiros anos com registro histórico que a temperatura do planeta chegou a 1,5 graus mais quente do que no início do aquecimento global entre 1.850 e 1.900. Para a gente ir e ver quando que o planeta teve essa temperatura, nós temos que ir no último período interglacial, 120 mil anos estava nessa temperatura. Então foi a primeira vez e a ciência já mostrava que quando a temperatura chegasse nesse 1,5 graus, nós teríamos um recorde de eventos extremos, toda a natureza de eventos extremos.
As ondas de calor, as secas, os incêndios florestais, as chuvas, as rajadas de vento, o rápido aumento do nível do mar, as ressacas que são ondas que vem quando tem tempestades muito fortes em cima dos oceanos, gera essas ondas. Tudo isso, no mundo inteiro, aumentou muito em 2023 e 2024.
No Brasil, nós tivemos grandes eventos de chuvas extremas. No Rio Grande do Sul já tivemos eventos na Bacia do Rio Taquari, em setembro, que levaram à morte de quase 60 pessoas e chuvas extremas e tivemos ondas de calor em 2024 muito fortes.
Os níveis de desmatamento na Amazônia vem sofrendo queda, no Cerrado isso ocorreu com menos intensidade, por quê?
O novo governo federal e alguns estados como o estado do Pará implementaram políticas de rapidamente zerar todos os desmatamentos e foi um grande sucesso. Em 2023 na Amazônia houve mais de 50% da redução. Esse ano continua reduzindo, já reduziu aí em uma faixa de mais de 20%. Na Amazônia é proibido desmatar uma área de 80% das áreas de proteção permanente e reserva legal. Em grande parte do Cerrado, esse número é só 20% que não pode desmatar e a área do Cerrado.
Então, o que aconteceu foi que no Cerrado, o setor do agronegócio explodiu o desmatamento e, felizmente, estamos começando a ter boas notícias. Nos últimos cinco meses o desmatamento caiu mais de 30% em relação a 2023 [no Cerrado]. As políticas do governo federal e governos estaduais é zerar os desmatamentos de todos os biomas brasileiros até 2030. Inclusive a ministra Marina Silva, de uma forma muito correta, já vem dizendo que nós temos que zerar todo o desmatamento, não só o desmatamento ilegal. Nós temos que zerar para proteger os nossos idiomas, para proteger a biodiversidade.
O Brasil tem a maior biodiversidade do planeta e nós temos já quase 3 milhões de quilômetros quadrados de pecuária e agricultura. Nós não precisamos expandir. O que nós temos que fazer é partir para uma agricultura e uma pecuária muito mais sustentável e também muito mais produtiva. Como ela é chamada de agricultura e pecuária regenerativas. Elas usam uma área muito menor, são mais produtivas e também até mais lucrativas e a agricultura e pecuária regenerativa também são mais resistentes aos eventos extremos. Por exemplo, nós tivemos a maior quebra de safra de muitos produtos agrícolas, principalmente a soja, devido à seca na Amazônia, no Cerrado. Então nós temos que zerar todos os desmatamentos de todos os biomas brasileiros até 2030.
Qual é a sua avaliação sobre os compromissos que o Brasil firmou na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 29)?
O Brasil já colocou que todos os países na COP têm que, até fevereiro, apresentar as suas novas metas de redução das emissões, chamadas NDCs, Metas Voluntárias de Redução das Emissões. O Brasil, já na sexta-feira antes de começar a COP 29 no Azerbaijão, lançou as suas metas, que em 2035 teriam que reduzir aproximadamente 50% das suas emissões em relação a 2019.
Isso é um número interessante comparando aos países que já colocaram suas metas que são muito poucos, mas é lógico, essas metas são bastante criticadas por organizações não-governamentais ambientais aqui no Brasil, no sentido de que esperava que até 2035 o Brasil acelerasse ainda mais a redução das emissões. Mas o Brasil colocou isso, metas ambiciosas, metas nada triviais.
Então se o Brasil de fato como tem sido proposto, prometido, cobrado, zerar os desmatamentos até 2030 nós já teremos reduzido praticamente 50% das emissões até 2030.
Quais medidas urgentes deveriam ser tomadas para evitar eventos climáticos extremos?
Os brasileiros, as cidades brasileiras estão preparadas? Não, não estão preparadas. Nem as cidades, nem as aéreas rurais. Então nós temos milhões e milhões de brasileiros, provavelmente mais de quatro milhões de brasileiros que moram em áreas de risco de chuvas intensas, prolongadas causarem deslizamentos e inundações enxurradas e pessoas que vivem em residências que desaparecem quando isso acontece.
Então tem que haver um investimento público de não menos que a construção de um milhão de residências em todo o Brasil. Esse é um primeiro ponto muito importante. O outro ponto que normalmente não se fala muito, mas o evento extremo que mais leva à morte não é a chuva excessiva, o deslizamento, a inundação... é a onda de calor. A onda de calor leva a um gigantesco número de mortes em todo o mundo. Há vários países desenvolvidos que já criaram locais para deslocamento dessas pessoas de risco, idosos, doentes, bebês, quando vai ter uma onda de calor, desloca. Esses locais têm ar-condicionado, piscina, atendimento médico que tem que proteger.
Também temos que fazer no Brasil, o que, por exemplo, Singapura está fazendo: a chamada esponja urbana. Você fazer a restauração florestal das cidades. Com isso, baixa bastante a temperatura, cria aquele clima embaixo das árvores muito melhor para a saúde, muito menos quente, mais úmido.
E também essa restauração urbana, aquele solo todo da floresta ali, retém a água da chuva forte. Não deixa ela correr pra enxurrada, para inundar os rios. Então isso é muito importante, nós temos que realmente fazer como cidades chinesas, Singapura, a solução dessa restauração florestal urbana, isso também melhora muito a qualidade de vida, vai diminuir muito o número de pessoas mortas por ondas de calor.
Os sistemas agroflorestais também podem contribuir com a redução da temperatura do planeta?
O Brasil tem a maior biodiversidade do mundo, sistemas agroflorestais como os produtos da biodiversidade, mas hoje eles só são 0,3, 0,4 % do PIB [Produto Interno Bruto] brasileiro, é absolutamente ridículo. Na hora que desenvolvermos esses sistemas de agroflorestais em todos os biomas, nós vamos manter muito mais o carbono e não deixar o gás carbônico aumentar por desmatamento. O poder econômico de sistemas agroflorestais de centenas de produtos da biodiversidade é muito grande, melhora a qualidade de vida e melhora o clima também, baixa a temperatura, evita também grandes inundações de rios.
O que nós temos que fazer é partir para uma agricultura e uma pecuária muito mais sustentável que é também muito mais produtiva. Como ela é chamada, a agricultura e a pecuária regenerativa. Elas usam uma área muito menor, são também mais resistentes aos eventos extremos. Por exemplo, nós tivemos a maior quebra de safra de muitos produtos agrícolas, principalmente a soja, devido à seca na Amazônia, no Cerrado. Nós temos que zerar todos os desmatamentos de todos os biomas brasileiros até 2030.
E tem mais:
O programa traz também a busca por energia renováveis em Cuba para combater os efeitos do bloqueio econômico dos Estados Unidos e promover geração de energia sustentável na ilha.
Por lá também, o espaço Quinta de Los Molinos é referência no cuidado com o meio ambiente, na economia e promoção do bem viver.
O nutricionista Gabriel Rodrigues traz dicas de como celebrar as festas de fim ano com alimentos saborosos e saudáveis.
Tem receita! A chef Gema Soto ensina a fazer um delicioso creme de café.
E a Agência Mural dá um salve sobre a luta para uma comunicação popular nas periferias de São Paulo.
Quando e onde assistir?
No YouTube do Brasil de Fato todo sábado às 13h30, tem programa inédito. Basta clicar aqui.
Na TVT: sábado às 13h30; com reprise domingo às 6h30 e terça-feira às 20h no canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Na TV Brasil (EBC), sexta-feira às 6h30.
Na TVE Bahia: sábado às 12h30, com reprise quinta-feira às 7h30, no canal 30 (7.1 no aparelho) do sinal digital.
Na TVCom Maceió: sábado às 10h30, com reprise domingo às 10h, no canal 12 da NET.
Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET.
Na TVU Recife: sábados às 12h30, com reprise terça-feira às 21h, no canal 40 UHF digital.
Na UnBTV: sextas-feiras às 10h30 e 16h30, em Brasília no Canal 15 da NET.
TV UFMA Maranhão: quinta-feira às 10h40, no canal aberto 16.1, Sky 316, TVN 16 e Claro 17.
Sintonize
No rádio, o programa Bem Viver vai ao ar de segunda a sexta-feira, das 11h às 12h, com reprise aos domingos, às 10h, na Rádio Brasil Atual. A sintonia é 98,9 FM na Grande São Paulo e 93,3 FM na Baixada Santista.
O programa também é transmitido pela Rádio Brasil de Fato, das 11h às 12h, de segunda a sexta-feira. O programa Bem Viver também está nas plataformas Spotify, Google Podcasts, Itunes, Pocket Casts e Deezer.
Edição: Nathallia Fonseca