A queda do governo de Bashar al-Assad, que deixou a Síria neste domingo (8), foi movida por diferentes elementos e deve representar, neste momento, um fortalecimento do governo israelense, de acordo com o professor Mohammed Nadir, pesquisador de Relações Internacionais, Oriente Médio e História do Terceiro Mundo na Universidade Federal do ABC. "A derrubada do Assad significa a derrubada de uma peça fundamental dentro do eixo da resistência e isso para Israel, em especial, vai enfraquecer seus adversários", afirma.
"A questão é que é possível que Israel se expanda dentro do território sírio para criar uma zona para o que chamamos de auto-defesa de Israel", acrescenta o professor. Há quase seis décadas no poder desde o governo de Hafez al-Assad, pai de Bashar al-Assad, não era aceito pela maioria dos países do Oriente Médio, entre os quais Israel.
Nadir, no entanto, destaca que o fim do governo Assad tem significados distintos para os Estados e para o povo. "Antes de tudo, significa que temos que ver quem é esse Oriente Médio impactado pelo fim do governo. Se estamos falando dos Estados ou dos povos. Para os povos árabes, possivelmente estamos falando da queda de uma grande ditadura", diz. "Para os governos, possivelmente a partida do Bashar al-Assad significa o enfraquecimento de uma pessoa contestadora dentro do Oriente Médio. Então é uma figura que não era muito aceita pela maioria dos países do Oriente Médio, por exemplo, os países do Golfo".
"Assad lembra um pouco - não totalmente - aquelas lideranças como Abdel Nasser e Muamar Gadafi, quer eram contestadoras e não eram totalmente aceitas pelos países do Golfo Pérsico", argumenta.
"Eu acho que essa derrubada significa também para o Oriente Médio que qualquer regime, por mais forte que seja, é capaz de cair. Talvez seja essa a ideia que vai ficar para os povos árabes", reforça o pesquisador.
Fatores internos e externos
Assad contava com aliados como Rússia, Irã e o grupo Hezbollah. Na avaliação de Nadir, o desenho atual da política internacional e o enfraquecimento prévio desses aliados, atualmente envolvidos em guerras e conflitos, foi um dos fatores externos para a queda do governo sírio.
"Entre os elementos internos estão a inflexibilidade do regime do Assad em mudar, fazer reformas, em tentar encontrar uma solução política que possa agregar todos, incluindo a própria oposição. [...] Há também a persistência dos adversários ao regime, sobretudo EUA, Israel, Turquia, que não comungavam com as ideias de Bashar al-Assad. Isso dentro de uma conjuntura em que tanto Rússia quanto Hezbollah estavam ocupados, então [os adversários] aproveitaram o timing", avalia.
O que está acontecendo na Síria?
Na madrugada deste domingo (8), forças rebeldes islamistas tomaram o controle da cidade de Damasco, capital da Síria, e anunciaram a derrubada do governo.
A ação fez parte de uma nova ofensiva rebelde iniciada na última sexta-feira (29), quando Aleppo, a segunda maior cidade do país, foi tomada pelos grupos armados.
Desde então, tropas do grupo Hayat Tahrir al-Sham, extremistas ligados à Al-Qaeda, foram avançando e conquistando posições no país que é palco de uma guerra civil iniciada em 2011, mas que estava adormecida há pelo menos quatro anos.
A tomada de Damasco deve marcar o início de uma nova fase na Síria, já que encerrou quase 25 anos de governo de Bashar al-Assad e pode alterar os interesses de potências envolvidas no conflito.
O governo da Rússia, aliado de Assad, confirmou que o presidente recebe asilo em Moscou. Já o Irã, outro governo próximo ao sírio, reforçou a necessidade de respeito à autodeterminação do povo da Síria.
Os EUA se pronunciaram pelo presidente em fim de mandato, Joe Biden, que afirmou acompanhar com preocupação o desenrolar dos confrontos. Já Donald Trump, que deve assumir no dia 20 de janeiro, disse que Assad caiu porque perdeu o apoio da Rússia.
Saiba mais sobre a Guerra na Síria também no podcast O Estrangeiro, do Brasil de Fato, exibido na última quinta-feira (5).
Edição: Nathallia Fonseca