AGRICULTURA

Mais alimentos, riqueza distribuída: como a agroecologia pode contribuir com a economia

Produtores pedem mais apoio do governo para ampliar produção compatível com necessidades sociais e ambientais

Brasil de Fato | Curitiba (PR) |
Produtores expõem na Jornada de Agroecologia, realizada na UFPR, em Curitiba - Foto: Giovani Sella/ Comunicação Jornada de Agroecologia

A agroecologia é um modelo de agricultura que considera princípios ecológicos e sustentáveis. Por definição, portanto, é uma forma de produzir que beneficia o ambiente – diferentemente da adotada pelo agronegócio. No entanto, o sistema agroecológico não faz bem só à natureza. Segundo estudiosos do tema, essa forma de produção tende a causar impactos positivos sobre toda a economia, contribuindo assim com o bem-estar da população do campo e da cidade.

Parte desses benefícios foram discutidos de quarta-feira (4) a domingo (8) na 21ª Jornada de Agroecologia, realizada no Centro Politécnico da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba (PR). O evento reuniu produtores agroecológicos e especialistas no assunto para discutir como ampliar esse modelo de produção no país.

De acordo com o agrônomo Paulo Petersen, membro do núcleo executivo da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), o sistema agroecológico é centrado na valorização do trabalho do agricultor. Assim, tende a redistribuir riqueza.“O agronegócio hoje concentra riqueza na mão dos bancos, que financiam a atividade, e das grandes produtoras de fertilizantes e agrotóxicos”, disse. “Na agroecologia, a semente e os insumos são produzidos pelo próprio agricultor.”

“No modelo de agricultura atual, passa muito recurso pela mão do agricultor, mas pouco sobra para ele. Cerca de 70% fica com grandes empresas”, ratificou Alan Tygel, membro da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e da ANA.

Mais alimentos

Petersen disse que a valorização do trabalho do agricultor e o aumento da rentabilidade do trabalho tendem a incentivar cada vez mais produtores a aderirem à agroecologia. Isso reduz o preço do alimento de qualidade.

A agroecologia está voltada, principalmente, à produção de alimentos, enquanto o agronegócio segue focado na exportação de grãos e carne. Com mais frutas e verduras produzidas, a tendência é barateamento.

“A rede de distribuição de alimentos também sairia das grandes redes de supermercado”, acrescentou o agrônomo. “A economia também ficaria menos centralizada, seria mais forte no interior do país, com mais circulação de riqueza local.”

Mais eficiência

Peterson também disse que a agroecologia consegue gerar mais valor sobre cada hectare de terra plantado do que a agricultura convencional. Isso é uma medida econômica de ganho de eficiência.

Tygel reforçou esses pontos. Segundo ele, a questão econômica é fundamental para que camponeses foquem seu trabalho na agroecologia e recebam mais apoio do governo. “Hoje, o subsídio do governo ainda está focado no agronegócio”, disse.

O membro da coordenação da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos lembrou que, só em 2024, cerca de R$ 20 bilhões em renúncias fiscais foram concedidos a empresas de agrotóxicos e fertilizantes.

Dificuldades

Todo esse apoio ao agronegócio, atrapalha quem quer produzir de forma agroecológica. Solange Geni da Silva, 52 anos, mantém uma roça de bananas em Florestópolis (PR). Ela disse ter dificuldade de certificar sua produção como livre de agrotóxicos já que vizinhos pulverizam canaviais com aviões. "Como vou proteger meu bananal?", questiona.


Solange Geni da Silva: "Cidade precisa valorizar o alimento de qualidade" / Vinicius Konchinski/Brasil de Fato

Daniel José Preslhacovski, 30 anos, de Londrina (PR), integra uma cooperativa dedicada à agroecologia há oito anos. Disse que produzir de forma diferente do agronegócio ainda é um desafio no Brasil, mas que é possível. “Nosso produto ainda é um pouco mais caro. Dá mais trabalho para cultivar já que não podemos usar veneno. Mas vende bem”, afirmou.

Ricardo Messias, 46 anos, de Morretes (PR), também acha que a produção agroecológica tem se tornado cada vez mais viável. Ele é engenheiro agrônomo e produtor cooperado. Disse que o consumidor brasileiro está cada vez mais interessado em produtos de qualidade e saudáveis, o que incentiva a produção.

Messias ressaltou, entretanto, que o grande comprador de produtos agroecológicos hoje são governos. Segundo ele, isso estimula o setor. Contudo, ainda é pouco frente a todo apoio que o governo dá à agricultura convencional. “Para um pequeno agricultor, conseguir um empréstimo ainda é difícil”, reclamou.

Para a agricultura convencional, o governo federal reservou R$ 400 bilhões em crédito para a safra 2024/2025 por meio do Plano Safra. O Plano Safra para Agricultura Familiar, por sua vez, terá R$ 85 bilhões em crédito.


Engenheiro florestal e produtor agroecológico, Ricardo Messias, expõe na Jornada de Agroecologia / Vinicius Konchinski/Brasil de Fato

Edição: Martina Medina