MUDANÇA

Partido Baath, do presidente deposto Bashar al-Assad, diz apoiar transição na Síria

Líder dos rebeldes sírios se reúne com ex-primeiro-ministro para 'coordenar transição de poder'

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Al-Jolani renegou seu passado na Al Qaeda e tenta transmitir uma imagem mais branda - AFP

O partido Baath, do ex-presidente sírio Bashar al-Assad, afirmou, nesta segunda-feira (9), que vai apoiar a fase de transição no país, após a deposição do mandatário por uma coalizão rebelde.

"Seremos favoráveis a uma fase de transição na Síria para defender a unidade do país", declarou, em nota, o secretário-geral do partido, Ibrahim al-Hadid.

O líder dos rebeldes sírios, Abu Mohammed al-Jolani, se encontrou com o ex-primeiro-ministro Mohammed al-Jalali para "coordenar a transição do poder", anunciaram os rebeldes, após derrubarem o presidente Bashar al-Assad.

Al-Jolani, que usa agora seu verdadeiro nome, Ahmad al-Shareh, se encontrou com Jalali "para coordenar a transição do poder que garanta o fornecimento dos serviços" à população síria, indicaram os rebeldes em um comunicado, acompanhado de um breve vídeo de seu encontro. Al-Jolani, que agora diz liderar um "governo de salvação" no reduto rebelde no noroeste da Síria, também estava presente.

Em discurso em uma mesquita de Damasco, ele disse que a "vitória" era um triunfo "para toda a comunidade islâmica". Ele renegou seu passado de integrante da Al Qaeda, dizendo que "todo mundo passa por fases".

Mas o grupo HTS - sigla para Hayat Tahrir Al-Sham - continua sendo considerado um grupo "terrorista" pelos governos do Ocidente. O Parlamento sírio afirmou, nesta segunda, sua vontade de "aceitar a vontade do povo" e muitas pessoas se reuniram na Praça dos Omíadas para festejar.

A União Europeia considerou, por sua vez, imperativo que haja uma transição "pacífica e ordenada". Já o alto comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, afirmou nesta segunda-feira que a transição deve garantir que haja "uma responsabilização" pelos crimes cometidos pelo governo de Assad.

Refugiados e prisioneiros

Reino Unido, Áustria, Alemanha, Dinamarca, Suécia e Noruega anunciaram, nesta segunda-feira (9), a suspensão das decisões pendentes sobre as solicitações de asilo de cidadãos sírios, no dia seguinte à queda do governo de Bashar al-Assad na Síria. Já a Turquia anunciou que vai reabrir um posto de fronteira para facilitar retorno de refugiados sírios. 

"Para evitar congestionamentos e facilitar a circulação, abriremos o posto de fronteira de Yayladagi", afirmou o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, durante um discurso, após uma reunião de seu governo.

Muitos refugiados sírios que vivem na Turquia se dirigiram aos postos de fronteira no sul do país para tentar voltar à Síria após o anúncio da queda do presidente Bashar al-Assad, no domingo.

O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur) pede "paciência e vigilânica" acerca do retorno dos refugiados sírios.

"O Acnur aconselha a manter o foco sobre o assunto dos retornos" e espera que o que ocorrer facilite "enfim os retornos voluntários, seguros e sustentáveis com refugiados capazes de tomar decisões" claras, escreveu o chefe da agência, Filippo Grandi, em comunicado.


Multidão se reúne na prisão de Sednaya em Damasco, em busca de prisioneiros detidos pelo regime deposto de Assad / AFP

Nesta segunda-feira, socorristas atenderam detentos na prisão de Saydnaya, enquanto alguns residentes de Damasco comemoram a queda do governo. O governo de Assad herdou de seu pai, Hafez al-Assad (1971-2000), o complexo prisional utilizado para prender opositores.

Para mais contexto, assista o episódio de O Estrangeiro, o podcast de política internacional do Brasil de Fato sobre a Síria, gravado na última quinta (5)

*Com AFP e Al Jazerera

Edição: Rodrigo Durão Coelho