Queremos preservar a biodiversidade local, mas também criar uma rede de sementes
"A crise climática nos diz que ou restauramos nossos biomas – Amazônia, Cerrado, Pantanal, Caatinga, Mata Atlântica e Pampa – ou estamos fadados enquanto humanidade." O alerta é de Alexandre Pires, diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, durante entrevista coletiva na 10ª edição do EnconASA – Encontro Nacional da Articulação Semiárido.
O jornalista Daniel Lamir acompanhou o encontro ocorrido em cidades localizadas entre os estados de Sergipe e Alagoas no mês de novembro, e detalha ao programa Bem Viver desta segunda-feira (9) a proposta de parceria do projeto Redeser – iniciativa do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima que visa reverter os processos de desertificação na Caatinga – com a Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), uma iniciativa que também atua na transformação do bioma com soluções sustentáveis e apoio à biodiversidade.
"O reconhecimento da Caatinga ainda é um processo em curso. Diferentemente dos outros biomas, principalmente em comparação com a Amazônia, a Caatinga, por ser um bioma exclusivamente brasileiro, tem pouco conhecimento do ponto de vista histórico. Sempre foi um bioma marginalizado pelo processo histórico da seca e pelas condições socioeconômicas das populações que ali vivem", afirmou Pires.
Relançado pelo governo federal, o projeto vem apostando na Caatinga como protagonista da recuperação ambiental. Com investimento de R$19 milhões e parceria com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) e o Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF), a iniciativa atua em cinco territórios do Semiárido brasileiro, promovendo práticas agroecológicas e o fortalecimento da agricultura familiar.
Um dos pilares do projeto é integrar sementes nativas da Caatinga às Casas de Sementes Crioulas, espaços comunitários onde agricultores guardam sementes de alimentos como feijão, fava e milho para os próximos plantios. Agora, a proposta é incluir espécies nativas como a aroeira e a umburana.
Nesse sentido, Pires ressalta que a parceria entre a ASA e o Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima vai além do cultivo das sementes. É um processo que cria "instrumentos e formas de mostrar para a sociedade a importância da biodiversidade que a Caatinga tem, e o papel que ela cumpre num processo de inter-relação com os outros biomas".
"Queremos preservar a biodiversidade local e promover segurança alimentar, mas também criar uma rede de sementes capaz de abastecer projetos de restauração ambiental", reforça.
Aposta na capacitação local
Além disso, a parceria promove cursos e formações sobre a implementação de sistemas florestais, assim como técnicas de manejo do solo, da água e da própria biodiversidade para a recuperação do semiárido brasileiro, como, por exemplo, "a apicultura e a meliponicultura, que têm um papel fundamental no processo de fortalecimento das espécies nativas da Caatinga".
Segundo o diretor do Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente, o Redeser também visa conectar diferentes atores sociais para potencializar seus impactos. "Muitas vezes, empresas que precisam compensar danos ambientais não sabem onde encontrar sementes ou mudas nativas. Queremos que as Casas de Sementes sejam parte essencial dessas ações, e que o conhecimento popular dos agricultores esteja no centro desse processo", destaca.
Outro ponto de destaque é o envolvimento dos jovens camponeses. "Queremos que a juventude participe desse processo de capacitação. Que esse seja o principal público dessas capacitações, no sentido de ressignificar e requalificar também o papel da juventude camponesa na situação de suas comunidades e nos seus territórios", ressalta Pires.
Com previsão de conclusão em 2025, o Redeser planeja encerrar as atividades com um seminário para apresentar os avanços alcançados. A expectativa é consolidar uma rede robusta de sementes nativas, integrando ciência, políticas públicas e saberes populares.
"A gente quer trazer para essa conversa de planejamento, o Ministério do Meio Ambiente, a FAO, a ASA e alguns pesquisadores de universidades e instituições de pesquisa. O objetivo é apresentar o projeto e, ao mesmo tempo, conectar esses pesquisadores, que já têm uma ampla experiência no processo de restauração e recuperação da Caatinga, bem como na coleta, seleção e armazenamento de sementes, fortalecendo assim a nossa estratégia", conclui.
Edição: Thalita Pires