A quarta rodada de negociações entre a automobilística alemã Volkswagen e o sindicato dos trabalhadores começou nesta segunda-feira (9), em meio a um cenário de greves contínuas e renovadas e com poucos sinais de um acordo à vista.
Após uma queda acentuada nos lucros causada pelo aumento dos custos na Alemanha e pela concorrência do exterior, principalmente da China, a Volkswagen tenta realizar cortes abrangentes em suas despesas, o que inclui demissões, reduções salariais e até fechamentos de fábricas.
"Precisamos de reduções de custos que possam ser implementadas no curto prazo e sejam sustentáveis", disse o principal negociador da empresa, Arne Meiswinkel. "Esta é a única maneira de permanecermos competitivos em um ambiente desafiador."
O sindicato, porém, demonstra cada vez mais irritação com o andamento das negociações. Eles entendem que os trabalhadores estão pagando o preço pela má gestão executiva e, pela segunda vez no mês, deram inicio a greves em nove fábricas na Alemanha.
"Furiosa e perplexa"
"Em vez de soluções inteligentes, eles oferecem apenas demissões em massa e cortes de empregos", afirmou Christiane Benner, presidente do sindicato IG Metall. Ela se disse "furiosa e perplexa" com as ações da Volkswagen até agora.
"Os problemas são enormes", afirmou a dezenas de milhares de trabalhadores do lado de fora da principal fábrica da VW em Wolfsburg, no norte da Alemanha. "Mas eles não podem ser resolvidos com fechamentos, demissões e cortes de salários. A culpa pela crise não é dos funcionários, mas das muitas decisões ruins tomadas pela administração."
O sindicato exige que todas as dez fábricas da Volkswagen na Alemanha permaneçam em funcionamento e que aproximadamente 130 mil funcionários da empresa recebam garantias de emprego.
Enquanto a rodada anterior de greves em 2 de dezembro durou duas horas, as paralisações desta segunda-feira duraram o dobro.
VW anuncia cortes de 10% nos salários
No final de outubro, representantes da VW informaram que os planos de gestão da empresa envolvem o fechamento de três fábricas na Alemanha - algo inédito na trajetória da empresa do país -, a supressão de dezenas de milhares de postos de trabalho e a redução em 10% dos salários de milhares de trabalhadores.
"A empresa acredita que a redução dos salários em 10% daria à Volkswagen AG os meios para fazer investimentos futuros, de modo a manter-se competitiva e, assim, salvaguardar os postos de trabalho", disse a VW, à época.
Em novembro, o IG Metall ofereceu abrir mão de aumentos salariais; uma medida que, segundo o sindicato, economizaria cerca de € 1,5 bilhão (R$ 9,6 bilhões) para a Volkswagen.
Meiswinkel, porém, disse que a oferta "ainda não era suficiente para uma solução sustentável" e a empresa continua exigindo cortes salariais de 10% em todos os níveis.
O secretário regional do IG Metall, Thorsten Gröger, pediu à gerência que demonstrasse maior disposição para fazer concessões, caso contrário, o sindicato promete uma escalada das greves "como esta empresa nunca viu antes".
Futuro incerto e desafios
A Volkswagen enfrenta um futuro incerto, confrontada com uma série de desafios à medida que o mercado global realiza a transição dos motores de combustão interna para alternativas mais ecológicas, como veículos elétricos e híbridos. Esse cenário vem causando dificuldades para a empresa, especialmente na Europa e na China.
A VW anunciou no fim de outubro que o seu lucro no terceiro trimestre, entre julho e setembro, caiu 64%, para 1,58 bilhão de euros, face aos 4,35 bilhões de euros que ganhou um ano antes.
Nos primeiros nove meses deste ano, as vendas da VW caíram 1,6% no mercado interno alemão e despencaram 10,2% na China, país que tem sido fundamental para a solidez financeira da empresa nos últimos anos.