A 24ª cúpula da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América - Tratado de Comércio para os Povos (Alba- TCP) terminou neste sábado (14) com propostas de retomada do Petrocaribe e a formação de um projeto para garantir a segurança alimentar dos países latino-americanos. O evento realizado em Caracas celebrou os 20 anos da organização e teve a presença de representantes dos 11 Estados membros da aliança.
As propostas serão encaminhadas pela Alba para a execução em 2025. Para o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, o retorno do Petrocaribe é uma das ferramentas mais importantes para a economia dos países caribenhos e para a estabilidade energética dessas nações.
"Retomar o Petrocaribe em uma nova modalidade para investir em petróleo, gás e derivados com empresas conjuntas. Um dos principais beneficiados com esses projetos será o Haiti. Conheci muitas regiões do Haiti quando era chanceler. O Petrocaribe foi parte importante da relação entre Venezuela e Haiti. Os tempos de paz, trabalho e prosperidade voltarão ao Haiti. Esse é um dos desafios e uma das metas da Alba, que já tem todas as orientações para o país, vítima da exploração, do colonialismo e do imperialismo", afirmou.
O programa de fornecimento de petróleo a países caribenhos foi criado em 2005 pelo então presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Ele durou 14 anos, sendo interrompido apenas depois das sanções estadunidenses contra a indústria petroleira venezuelana em 2019, quando sua estrutura comercial foi desmobilizada.
Outra medida levantada pelos países integrantes da Alba foi a criação do Programa Agro Alba, para fomentar a produção de alimentos em todos os países e garantir a soberania alimentar dos integrantes da Aliança. O objetivo é reduzir o uso de agrotóxicos nos plantios. Também foram levantados projetos de integração financeira e criação de novas formas de comércio e transações alternativas ao uso do dólar.
"A Alba vai atuar na fundamentação desses programas para criar um ambiente cada vez maior de avanço e de união. É preciso um grande esforço comunicacional de toda essa agenda", afirmou Maduro.
Em seu discurso, o presidente venezuelano disse que a humanidade verá, pela 1ª vez, o fortalecimento da Alba, uma época "sem hegemonias, sem impérios e sem colonialismo".
"As forças da velha civilização imperial e colonial do Ocidente se recusam a aceitar o direito do povo, a viver em independência, com soberania, de construir os seus próprios modelos de igualdade, justiça, democracia e liberdade. Não é novidade, é que sempre eles se recusaram. Está nos seus genes, na sua essência. Mas o alvorecer da esperança e de um novo mundo já é uma realidade. E a Alba nasceu há 20 anos para impulsionar os tempos históricos na construção de um mundo multipolar, pluricêntrico, sem hegemonia, de igualdade e de respeito", disse.
O texto assinado pelos chefes de Estado busca promover também um programa especial cultural, comunicacional e acadêmico. Os presidentes também levantaram a necessidade de se criar um Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação da Alba para discutir ainda a regulação das redes sociais e para o estudo e o desenvolvimento da Inteligência Artificial.
20 anos da Alba
O evento celebrava o aniversário da organização, fundada em 14 de dezembro de 2004. A Alba, no entanto, passou a ser gestada 10 anos antes, quando os ex-presidentes de Cuba, Fidel Castro, e da Venezuela, Hugo Chávez, se encontraram pela primeira vez em Havana. A imagem que ficou marcada dessa reunião foi o abraço entre um líder de uma revolução que já durava 4 décadas e uma liderança que começava a ganhar as ruas venezuelanas.
Uma década depois, os dois se encontraram no mesmo lugar para formar a Aliança. Por isso, a 24ª cúpula da Alba foi nomeada de "20 anos do abraço que marca a nossa história".
O atual presidente cubano, Miguel Díaz-Canel, participou do encontro e reforçou a importância histórica do encontro entre as lideranças e a mudança promovida pela Alba nos rumos da América Latina.
"O abraço entre Chávez e Fidel foi um processo emancipatório que se transformou no abraço dos nossos povos. A Alba é uma defesa articulada contra a dependência e a subserviência ao imperialismo. Pelo melhor mundo possível. O imperialismo e as oligarquias nunca renunciaram ao objetivo perverso de nos dividir, se apropriar dos recursos naturais e ignorar o direito internacional", disse.
Canel também falou sobre os ataques sofridos pelos países latino-americanos e reforçou a eleição de Maduro em 28 de julho. O pleito está sendo contestado pela oposição venezuelana, que ameaça um golpe para 10 de janeiro, data da posse de Maduro para o terceiro mandato.
"Reiteramos a solidariedade com países que passam por tentativa de desestabilização e o respaldo a revolução bolivariana hoje liderada por Maduro que busca manter a qualidade de vida do povo mesmo em meio aos ataques. Cuba não se renderá, assim como não se renderá a Alba. Vamos construir uma Alba mais forte", afirmou.
O grupo de países também denunciou as sanções impostas pelos Estados Unidos e por países europeus contra nações que buscam um caminho contra-hegemônico. O chefe do Executivo da Bolívia, Luis Arce, reforçou que a Alba surge em um momento em que o pensamento liberal havia construído a ideia de "fim da história" e que se estabilizou a hegemonia dos Estados Unidos na economia global.
"Há 20 anos, quando o mundo parecia sucumbir aos desassossego do capital e diziam que tínhamos chegado ao fim da história, e continuávamos enfrentando a ameaça de unipoliridade, surge a Alba. Que não buscava só o comércio, mas o direito de almejar um mundo melhor. A Alba é um símbolo de resistência frente ao bloqueio injusto e criminoso. Somos submetidos a ataques dirigentes naturezas e a ataques internos e externos na Bolívia", afirmou.
Defesa da Palestina
A cúpula também expressou solidariedade ao povo palestino frente os ataques israelenses à Faixa de Gaza. Além dos 11 integrantes da Alba, Riad Malki, assessor para assuntos internacionais do presidente Mahmoud Abbas, foi convidado para a edição. Ao final do evento, a representação palestina foi incorporada como membro permanente da Alba.
Em seu discurso, Malki disse que compartilha as lutas com a Alba e que o grupo foi um dos principais pontos para a Palestina desde a retomada dos ataques contra a Faixa de Gaza em 8 de outubro de 2023.
“Nossa luta é compartilhada com a Alba. Os países da aliança manifestaram sua solidariedade em ações concretas. As nações da Alba demonstraram ao mundo que a justiça exige coragem”, afirmou.
Edição: Douglas Matos