O Fórum da Bici Porto Alegre contará com nova edição neste domingo (15), após 4 anos de hiato. Com o tema Para Onde Pedala Porto Alegre, as atividades ocorrerão em dois locais no bairro Cidade Baixa. A primeira rodada acontece na EEEF Leopolda Barnewitz, a partir das 13h, e depois, a partir das 18h, uma série de atrações artísticas serão apresentadas na Praça Garibaldi. Se chover, as atrações de rua serão realocadas. As informações podem ser acompanhadas pelo Instagram.
A proposta do Fórum é ser um momento de encontro e trocas entre cicloativistas da cidade. Diversos grupos e coletivos de ciclistas fazem parte do evento, tais como o Pedala Black, Bici Polo, Pedal Fofoca CC, Massa Crítica, Pedal das Gurias e Pedal da Zona Leste.
Tássia Furtado é cicloativista e fez parte da criação e organização de outras edições do Fórum. Ela acredita que a retomada do projeto é um momento importante para pensar a mobilidade ativa na Capital. “Porto Alegre é uma cidade que muito já representou a mobilidade, hoje está desarticulada. Existem muitos trabalhos acadêmicos sobre o tema, mas pouco é feito pelo Poder Público. É muito importante que nesse momento a sociedade civil volte a se organizar e esteja ciente e com vontade de buscar a mobilidade ativa, não apenas a da bicicleta, mas também o caminhar.”
Uma plenária está planejada para ocorrer durante o evento, com objetivo de elaborar um documento com avaliações e propostas relacionadas à ciclomobilidade da capital gaúcha, que posteriormente será entregue à membros do Executivo e Legislativo de Porto Alegre e do Rio Grande do Sul.
Geovanna Dutra, integrante da Comissão Organizadora do Fórum, explica que o evento pretende reunir diversos grupos de pedais: trabalhadores que utilizam a bici para entregas, e pessoas que utilizam esse instrumento para lazer ou simplesmente se deslocar (mobilidade ativa, ou não motorizada). Agrega também especialistas em mobilidade e planejamento urbano, integrantes do Eco pelo Clima e figuras públicas que são ativas e centrais no debate do Plano Diretor que vamos ter no próximo período na nossa cidade.
Para ela, pedalar é um ato de resistência, pois a cidade apresenta uma série de dificuldades para quem opta por esse meio de transporte: “Além da falta de segurança, falta de condições adequadas nas ciclovias e falta de conexão entre elas, o próximo debate que precisamos atentar é para a conexão entre os modais. Assim como o trem já integra a bicicleta, é preciso que o transporte público esteja conectado às ciclovias. As nossas ciclovias estão localizadas na região central e não se conectam com as demais regiões, onde também não há ciclovias. Manter uma baixa qualidade no pedalar só afasta as pessoas desta prática e nos leva a um ciclo sem fim que privilegia rodovias, carros, sedentarismo e gás carbônico.”
Pedal das gurias
Julia Areias integra o Pedal das Gurias, um grupo autogestionado e horizontal que reúne mulheres e dissidências de gênero para pedaladas semanais. Neste coletivo, não raro é a primeira vez de muitas pedalando em grupo e ocupando as vias. Na dinâmica do grupo, o trajeto é definido em conjunto, com todas as participantes. Voluntárias se colocam para executar alguma função no pedal do dia, seja rolha (a pessoa que auxilia a interromper o fluxo de carros na via), retaguarda (quem fica no fundo do pelotão) ou até mesmo navegadora junto de quem se propôs a guiar o pedal. "Quem é mais experiente sempre orienta e cuida, e o lema é nenhuma fica para trás."
Para ela, a experiência de ser ciclista na capital gaúcha é permeada por desafios, e isso denota a importância do evento: “O fórum da bicicleta traz à tona o debate da ciclomobilidade na cidade e os outros recortes que parte desse debate. É uma maneira de fomentar, dar visibilidade e até mesmo denunciar a situação de quem usa a bicicleta em Porto Alegre. A cidade peca no planejamento urbano, com uma malha cicloviária que se limita muitas vezes a poucos metros e não fazem sentido na prática. O contexto de quem usa a bicicleta para deslocamento para ir ao trabalho, mercado, feira etc. é extremamente hostil, além da falta de educação e cordialidade no trânsito com quem pratica a mobilidade ativa torna quase impraticável pedalar na cidade."
Julia avalia ainda que pelo viés da emergência climática, os ciclistas mais uma vez foram direta e severamente atingidos, pois uma das principais ciclovias da cidade, a ciclovia da Ipiranga permaneceu interditada durante bastante tempo, e depois foi sendo liberara parcialmente em alguns trechos.
Segundo a ciclista, suas experiências sobre rodas foram transformadoras: “Pedalar mudou a dinâmica da minha vida. Vejo como um meio de transporte incrível, barato e saudável. Hoje uso a bicicleta em todos os meus deslocamentos, inclusive em viagens. Eu posso perceber como o trânsito hostiliza e faz a gente acreditar que não deveria estar fazendo aquilo – pedalando. Acredito que o pedal das gurias ajuda e ajudou muitas de nós a ocuparem as ruas sem medo, e na companhia de outras mulheres incríveis. A diretriz de sororidade e autonomia do grupo com certeza faz muito pelas que pedalam em Porto Alegre. Aprender e andar em grupo, a sinalizar, a se impor no trânsito, ou até mesmo consertar um pneu que furou, nos devolve o protagonismo e nos faz sentir parte de um todo e muito mais empoderada.”
A celebração de encerramento do evento contará com diversas atrações artísticas que envolvem teatro, circo e blocos de carnaval.
Todas as atividades são gratuitas e as inscrições podem ser realizadas no link: https://bit.ly/forumbici
Fonte: BdF Rio Grande do Sul
Edição: Katia Marko