O general da reserva Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice na chapa pela tentativa de reeleição do então presidente Jair Bolsonaro (PL) em 2022, passou a segunda noite preso na 1ª Divisão de Exército, na Vila Militar, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Braga Netto foi preso preventivamente pela Polícia Federal (PF) no último sábado (14), acusado de obstrução de justiça, ou seja, o ato de tentar atrapalhar as investigações sobre tentativa de golpe de Estado.
Braga Netto, assim como o ex-presidente aliado, consta na lista dos 37 indiciados do inquérito final da PF sobre o caso, que está sob análise da Procuradoria-Geral da República (PGR). Diante de pedidos de acusados de envolvimento na trama golpista por anistia, como aconteceu na ditadura, a prisão de um general de alta patente é extremamente significativa, pontua o historiador Valério Arcary, que também é professor titular no Instituto Federal de São Paulo (IFSP). Ele falou sobre o assunto durante o jornal Central do Brasil.
"Me emociona profundamente o fato de termos um general de quatro estrelas, do topo da carreira do Exército, na prisão. Eu sou da geração que lutou contra a ditadura. Meu pai esteve preso durante um ano. Eu estou entre aqueles que interpretam que a impunidade dos altos comandos das Forças Armadas - envolve Marinha e Aeronáutica, não somente Exército - é um dos fatores-chave dessa instabilidade que ameaça as liberdades democráticas ao longo dos últimos 40 anos. Nós não podemos empurrar para baixo do tapete", contextualiza.
É a PGR que vai decidir se denuncia ou não os acusados, que podem ser julgados a partir daí. Porém, com a prisão preventiva, a situação de Braga Netto se complicou e pode complicar ainda mais a de Bolsonaro, que além de indiciado no caso de tentativa de golpe, ainda acumula outros dois indiciamentos: um por falsificação de cartões de vacina e outro em razão do caso das joias sauditas.
Para Arcary, passou da hora de Bolsonaro ser punido. Segundo o professor, ele apresenta riscos em liberdade. E não vai bastar apenas o trabalho das instituições para a responsabilização do ex-presidente e demais militares e acusados de atentar contra a democracia.
"Não é possível iludir o desafio de que essa investigação tem que ir até o fim, mas eu diria que as visões da história sugerem que não basta unicamente confiar no trabalho das instituições. Há uma brecha, há uma divisão na classe dominante, há uma fratura e há uma oportunidade, porque é uma mobilização cuja máxima responsabilidade é da esquerda, mas é uma mobilização que amplia a audiência para, inclusive, dissidências da classe dominante. E, portanto, o decisivo que será a chave é a mobilização de massas. Nós vamos ter que ir às ruas", argumenta o historiador.
"Oxalá [que a prisão de Braga Netto] seja o desdobramento de um processo de investigação que tem que se apoiar numa premissa fundamental, que é o perigo que nós atravessamos, [já que] agora está muito claro que existia um projeto conspirativo que passava pela destruição da linha sucessória da presidência. Veja, eles pensavam em matar o Lula. Isto não é pouco. Isto é simplesmente um retrato de uma situação dramaticamente perigosa. O desafio da esquerda para o próximo ano - isto vai atravessar o próximo ano - é construir uma campanha nas ruas de mobilização de massas pelo 'Sem Anistia', ou seja, pela punição de todos os golpistas e por Bolsonaro na cadeia. Bolsonaro livre é uma ameaça."
A entrevista completa está disponível na edição desta segunda-feira (16) do Central do Brasil, no canal do Brasil de Fato no YouTube.
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Edição: Martina Medina