O devastador ciclone que atingiu o arquipélago francês de Mayotte, no oceano Índico, destaca a necessidade de os países redobrarem seus esforços na luta contra as mudanças climáticas, declarou, nesta segunda-feira (16), o governo brasileiro.
"Neste momento de tristeza, o Brasil conclama as nações parceiras a redobrarem os esforços de adaptação aos impactos da mudança do clima, em reação à multiplicação de eventos naturais extremos", afirmou o Ministério das Relações Exteriores em um comunicado.
O Itamaraty expressou suas condolências aos afetados pelo ciclone Chido, que devastou Mayotte no último domingo (15). As autoridades temem que várias centenas de pessoas tenham morrido em decorrência do ciclone.
A França está mobilizando operações de avaliação e resgate em Mayotte, onde vivem pelo menos 320 mil pessoas, um terço delas em moradias precárias. As imagens de Mayotte mostravam cenas de destruição com casas reduzidas a escombros. Os principais objetivos dos socorristas são encontrar sobreviventes e fornecer água e alimentos.
"É uma loucura. Estamos completamente isolados do mundo", disse à AFP Antoy Abdallah, morador de Tsoundzou. "Não temos acesso a nenhuma informação, nem rádio, nem internet, nem telefone", acrescentou o homem de 34 anos.
Chido, o ciclone mais destrutivo a atingir Mayotte nos últimos 90 anos, trazia ventos de pelo menos 220 quilômetros por hora quando chegou no sábado no arquipélago, localizado a leste de Moçambique.
Comitê de crise
O presidente francês, Emmanuel Macron, convocou uma reunião de crise em Paris para tratar da emergência, a qual seu recém-nomeado primeiro-ministro, François Bayrou, decidiu acompanhar à distância. Como não renunciou ao cargo de prefeito de Pau, no sul do país, ele permaneceu na França para presidir uma reunião da câmara municipal.
O ciclone causou danos significativos no principal hospital, "especialmente nas unidades de cirurgia, cuidados intensivos, maternidade e emergência", e deixou centros de saúde "inoperantes", segundo a ministra da Saúde, Geneviève Darrieussecq.
A torre de controle do aeroporto também sofreu danos significativos, o que significa que a retomada dos voos comerciais não deve acontecer antes de 10 dias, segundo uma fonte da prefeitura local.
Chido também causou o corte no fornecimento de eletricidade e comunicações, além de interromper o abastecimento de água potável, um problema em Mayotte mesmo em tempos normais, que agora se tornou uma prioridade.
"É preciso restabelecer a água e a eletricidade", indicou Youssouf Ambdi, prefeito da localidade Ouangani, que teme um "drama sanitário", já que "as pessoas vão buscar água no rio".
Clamor brasileiro
"Ao expressar condolências às famílias das vítimas, o Brasil manifesta sua solidariedade ao povo de Mayotte e ao governo da França", declarou o Itamaraty.
Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva retornou ao poder no ano passado, o Brasil, que abriga cerca de 60% da floresta amazônica, tem levantado a bandeira do combate à crise climática.
O próprio país foi duramente afetado por fenômenos meteorológicos extremos este ano, com incêndios florestais agravados por uma seca histórica em várias regiões e enchentes devastadoras entre abril e maio no sul.
Em novembro, o governo anunciou planos para reduzir as emissões de gases de efeito estufa mais cedo do que o previsto inicialmente.
O Brasil sediará a próxima conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a COP30, na cidade de Belém, capital do Pará, em novembro de 2025.
*Com AFP
Edição: Rodrigo Durão Coelho