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Representantes de pessoas com deficiência cobram de deputados rejeição a PL que altera BPC, que deve ser votado nesta quarta (18)

PL 4614/2024 é de autoria do líder do governo, José Guimarães (PT-CE)

Brasil de Fato | Brasília (DF) |

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Representantes de pessoas com deficiência circulam pelos corredores da Câmara nesta quarta (18) para pedir rejeição ao PL 4614 - Cristiane Sampaio

Representantes dos usuários do Benefício de Prestação Continuada (BPC) estão de plantão na Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), para pressionarem os parlamentares a rejeitarem mudanças no programa, que atende mais de 6 milhões de pessoas de baixa renda, entre idosos com mais de 65 anos e pessoas com deficiência. A alteração de regras no programa é um dos pontos do projeto de lei (PL) 4614/2024, de autoria do líder do governo, José Guimarães (PT-CE), que tem previsão de votação em plenário para esta quarta (18).

O PL é uma das medidas do pacote fiscal da gestão e propõe mudanças na concessão do benefício social. Para o público do BPC, o projeto impõe regras mais rígidas para a liberação das prestações, como cadastro biométrico para concessão, manutenção e renovação dos pagamentos; alteração dos critérios de elegibilidade para fazer parte do programa; mudança no conceito de pessoa com deficiência, que passa a ser aquela que demonstre incapacidade para a vida independente e para o trabalho, com necessidade de registro do código da Classificação Internacional de Doenças (CID).

Hoje, o Estatuto da Pessoa com Deficiência (Lei nº 13.146/2015) considera "pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas". O projeto de lei também fixa obrigatoriedade de atualização do Cadastro Único (CadÚnico) a cada 24 meses, sob pena de suspensão do benefício – atualmente, o prazo é de 48 meses.

A proposta prevê ainda que o valor recebido como BPC ou benefício previdenciário por um idoso ou pessoa com deficiência passe a ser contabilizado no cálculo da renda per capita para fins de concessão do benefício de prestação continuada a outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma unidade familiar. Na prática, as novas regras vão reduzir o número de pessoas atendidas pelo programa. O objetivo do governo é economizar, de forma associada a outras medidas do pacote fiscal, um montante de R$ 12 bilhões até 2030, caso o PL seja aprovado.

César Magalhães, representante da organização Retina Brasil no Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (Conade), afirma que o PL 4614 tende a dificultar a vida das pessoas que dependem do BPC, hoje pago a cidadãos com renda familiar per capita igual ou inferir a um quarto do salário mínimo. O benefício garantido mensalmente pelo governo é de um salário mínimo.

"Para a gente, isso era uma questão pacificada. O BPC existe porque houve muita luta da sociedade, muito discussão aqui dentro do Legislativo até que se virasse lei. Inclusive, nem deveria se chamar 'benefício', e sim auxílio, porque fica parecendo que é uma benesse, e não é. Pra ter acesso ao BPC, a pessoa precisa realmente ser muito carente, com carência comprovada. E, veja, se houver duas pessoas na família e uma ganhar o salário mínimo, se a outra for pessoa com deficiência, ela já não tem direito", ressalta, ao apontar que o programa "já é limitado".

Magalhães afirma que a exigência de manutenção permanente do cadastro por meios virtuais, por exemplo, desconsidera a exclusão digital em que vive boa parte das pessoas de baixa renda no país. "A pessoa que vive no interior vai ter dificuldade de acessar o benefício ou de manter. A biometria, por exemplo, pra nós, pessoas cegas, não está funcionando no acesso ao passe livre. Então, se já não está funcionando, trazer isso pro BPC é saber que muita gente vai ter problema", reclama.

O integrante do Conade também rebate o argumento de que o programa teria entre seu público casos de corrupção no acesso ao benefício. "É claro que exceções há em tudo. Pode haver alguma fraude, mas o governo tem que ter seus próprios mecanismos pra resolver isso, e não jogar isso nas costas das pessoas mais frágeis. Para isso, existem os Cras [Centros de Referência de Assistência Social], os Creas [Centro de Referência Especializado de Assistência Social], os órgãos de fiscalização, etc., que podem cumprir esse papel".

"Fundamental"

Integrante da Associação dos Amigos dos Deficientes Visuais (AADV), Adalberto Rodrigues de Jesus é cego e recebe o BPC há 22 anos. Ele conta que o dinheiro tem sido, ao longo do tempo, uma fonte "fundamental" de sustento. "Se esse PL vier a ser aprovado, nós vamos ter uma perda muito grande porque, se deixarmos de receber o BPC, o que vamos fazer? Emprego pra pessoa com deficiência já é difícil. Pedir esmola também está complicado. Não sabemos o que iremos fazer. Só sei que, se isso vier a acontecer, a maioria das pessoas com deficiência que recebem o BPC vai ficar num estado de miséria, infelizmente".

Deficiente visual de baixa visão, Tiago Farias Mota tem 35 anos e recebeu o BPC até os 16 anos, quando passou a ser contemplado com o Bolsa-Escola e foi excluído do programa porque não podia acumular os dois benefícios. Ele conseguiu atuar no mercado e trabalhou até recentemente em algumas empresas. Desligado nos últimos meses, hoje ele se vê engajado na luta contra o PL 4614. "Espero que esse negócio seja barrado. Hoje eu não estou recebendo nenhum benefício, mas estou aqui pelos que precisam e também sei que um dia posso precisar de novo dele", diz.

Vice-presidenta da AADV, Maristela Batista da Silva afirma que a preocupação com o PL 4614 hoje reina entre os associados. A entidade tem 90% do seu público como beneficiário do BPC e conta que o segmento tem se sentido apreensivo diante do risco de aprovação do PL 4614. "A gente representa praticamente todos os deficientes visuais de Brasília e a maioria depende do BPC para sobreviver, para pagar água, luz, aluguel. E muitos deles sofrem preconceito pra procurar emprego", narra. Ela conta que o grupo tem sentido baixa receptividade dos parlamentares quando interpelados para que rejeitem as mudanças no BPC. "Mas a gente segue lutando, andando de gabinete em gabinete e pedindo ajuda", encerra.

Edição: Thalita Pires