Um ano depois da tragédia que matou nove pessoas no Acampamento Terra e Liberdade, no município de Parauapebas, no Pará, pouca coisa mudou, apesar das promessas feitas pelos governos federal, estadual e municipal.
As vítimas faleceram na noite de 9 de dezembro de 2023, quando trabalhadores foram atingidos por um incêndio provocado por um curto-circuito, durante a instalação de uma antena de internet que se chocou com fios de alta tensão.
Logo após a tragédia, mais de mil famílias receberam uma comitiva formada por representantes de órgãos municipais, estaduais e federais no acampamento, e, apesar do luto, havia esperança de dias melhores.
Leia mais: Nove pessoas morrem após descarga elétrica em acampamento do MST em Parauapebas, sul do Pará
“O governo federal se comprometeu em ajudar a melhorar as condições de vida daquelas famílias, pois foram as condições de vida que proporcionaram aquele acidente, pelo local insalubre que estavam quando aconteceu o acidente por causa da energia. Então, de lá para cá, a gente espera que o governo faça sua parte, que assente as famílias e deem um local de dignidade para as famílias enlutadas, para as pessoas que ficaram. Morreu mãe, deixou três filhos, morreu pai e deixou esposa e dois filhos, enfim, aguardamos um posicionamento mais incisivo do governo sobre essa situação”, explica Maciel Alves, dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no estado do Pará.
Na época, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, se deslocou até o acampamento e, em palanque público, apresentou ao movimento diretrizes de ações, além da proposta de um levantamento de áreas públicas destinadas à reforma agrária na região.
Leia mais: MST recebe comitiva nacional de negociação após tragédia em acampamento no Pará
“O marco de um ano da tragédia do 9 de dezembro traz para nós um sentimento de abandono, porque as promessas que foram feitas naquela situação, aquele cuidado que pareceu que ia começar a acolher as famílias, desapareceu logo que a notícia saiu dos jornais, então a gente teve que voltar a fazer luta, voltar a se arriscar, porque só assim a gente vê os governos trabalhando em prol do assentamento das famílias e da realização da reforma agrária”, explica Pablo Neri, da direção nacional do MST.
As famílias foram realocadas para um novo espaço, mas seguem sem a garantia de assentamento e condições dignas de vida e, no último dia 9 de dezembro, realizaram um ato em memória das vítimas e seguem reivindicando seus direitos.
“A gente sente o luto, a gente ainda sente a perda, mas a gente segue em luta sabendo que o nosso compromisso é que essas vidas não sejam em vão, que a terra liberta possa dar também a liberdade para que os nove companheiros e companheiras que tombaram no 9 de dezembro possam ser sementes, criar raízes e serem cultivados por uma comunidade com posse do seu território e com dignidade de trabalho”, complementa Pablo Neri.
No último dia 3 de dezembro, famílias que também compõem o Acampamento Terra e Liberdade se uniram à ocupação da Ferrovia Carajás em Parauapebas. Elas cobraram a mineradora Vale e os governos a atenderem demandas de comunidades afetadas pelos impactos ambientais e sociais gerados pela mineração na região, além de reivindicar o avanço da reforma agrária.
Leia mais: MST denuncia sonegação de impostos da Vale e ocupa Estrada de Ferro Carajás, no Pará
Recebidos em praça pública, representantes do Governo Federal, Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), diretores da Vale e procurador do Estado do Pará se reuniram com o movimento e prometeram celeridade na regularização de assentamentos da região e avanços de políticas públicas nos territórios.
Edição: Martina Medina