Meio ambiente

Catadores apresentam demandas para cadeia de reciclagem durante a ExpoCatadores

Evento em São Paulo reúne milhares de catadores e representantes do Governo Federal, entidades de classe e instituições

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |

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Cerca de 6 mil catadores comparecem a ExpoCatadores, no Anhembi, em São Paulo - Gabriela Moncau

Representados por entidades como a Associação Nacional dos Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis (Ancat), o Movimento Nacional dos Catadores (MNCR) e a Unicatadores, os cerca de seis mil catadores de materiais recicláveis aproveitaram o maior evento de economia circular da América Latina para apresentar demandas para a categoria.

“Precisamos de mais verba para ver se a gente cresce, para melhorar a catagem da rua, para tirar o lixo”, demanda o catador paraibano Francisco Antônio de Lima, um dos 800 mil que compõem a categoria, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).  

“Por isso estamos aqui, para ver se os governos municipais, estaduais, federal nos ajudam”, explica, pouco depois de chegar na ExpoCatadores em São Paulo, o principal evento nacional da cadeia de reciclagem, que iniciou em São Paulo nesta quarta-feira (18) e segue até sexta (20).  

Enquanto não consegue sua aposentadoria, Francisco, aos 62 anos, é catador de Santa Rita (PB). “Continuo indo para a rua, para suar e fazer bem ao meio ambiente. Porque acredito que faço bem até às formigas. Tiro uma garrafa, fica mais livre para elas passarem, para andarem que nem eu”, afirma.  

Como Francisco, Maria das Dores, de 52 anos, é catadora da Cooperativa de Reciclagem de Marcos Moura (Cooremm). “Tenho um orgulho medonho do meu trabalho”, diz. “Mas é preciso apoio para cuidar do planeta. Lá a gente não está vendendo todo o material prensado não, porque não tem o maquinário certo para prensar tudo”. 

“E está faltando uma esteira, que a gente separa tudo na mão, no chão”, descreve Maria, que trabalha com reciclagem há 16 anos. “Para isso acontecer tinha que ter um galpão grande para caber a esteira, porque lá é apertadinho demais, a gente fica sem condição. Mas, do lado, tem um terreno. Só falta verba”, salienta. 

Eliane da Silva tem 60 anos e viajou de Flecheiras (AL) para São Paulo também com a expectativa de conseguir apoio para o seu trabalho. Começou juntando latinha e há cinco anos está no ramo da reciclagem, também com carroça.   

“Eu acordo 4h30, por aí, pego e já vou para a rua com meu carrinho, vou catando reciclagem. Até de noite eu trabalho e cato com o maior prazer. A cabeça está doendo só porque eu não fui esses dias”, conta Silva.  

“Está faltando a máquina de prensa, a esteira. E um transporte para tombar, né? Que nós não temos nada para tombar. Algum carro, alguma coisa, porque nós tombamos tudinho no carrinho. Aí fica difícil para a gente”, ressalta. “A prefeita doou o depósito para a gente. Só que a gente tem o depósito e a balança. E o resto mais nada, minha filha. A gente está lutando por isso”, afirma Eliane. 

Anúncios de investimento  

Márcio Macêdo, chefe da Secretaria-geral da Presidência da República, esteve no evento representando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que, menos de uma semana após uma cirurgia, rompeu a tradição de comparecer por orientação médica.   

Na mesa de abertura da ExpoCatadores, o ministro Macêdo afirmou que o Cataforte, programa do governo federal voltado ao setor, conta com um aporte de R$ 122,8 milhões, com investimentos vindos de ministérios, da Fundação Banco do Brasil, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Caixa Econômica Federal.    


Claudete Costa, presidenta da Unicopas, fala em palco com os ministros Márcio Macêdo e Márcio França / Gabriela Moncau

A Fundação Banco do Brasil e BNDES anunciam amanhã (20) resultado de edital do Novo Cataforte. Ele selecionará projetos destinados à aquisição de equipamentos essenciais, como prensas e veículos adaptados, além de apoiar a coleta seletiva, a modernização de infraestrutura e a transição energética, com investimento social não reembolsável na ordem de R$ 50 milhões. Esses projetos começarão a execução ainda no primeiro trimestre de 2025.

O presidente da Fundação Banco do Brasil, Kleytton Morais, explica que o Novo Cataforte é uma iniciativa transformadora, que alia sustentabilidade e justiça social. “Participar dessa iniciativa reforça nosso compromisso com a autonomia dos catadores de material reciclável e com o fortalecimento das redes de cooperativas de catadores", destaca.

“A Caixa disponibilizou R$ 25 milhões e foram selecionados 17 projetos. Os recursos estão em processo de descentralização. Serão R$ 5 milhões em dezembro e o restante em janeiro e fevereiro”, prometeu Márcio Macêdo chefe de Secretaria-Geral da Presidência da República.

 Em uma reunião marcada para janeiro entre o presidente Lula e representantes da categoria de catadores, a expectativa é que o governo federal anuncie um investimento de mais R$ 500 milhões no setor, por meio da Lei de Incentivo à Reciclagem.    

Conexão cidadã”  

Durante a ExpoCatadores também foi divulgado o Conexão Cidadã, um projeto da Ancat com a Fundação Banco do Brasil que vai atuar em seis capitais brasileiras: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Curitiba (PR), Recife (PE) e Aracaju (SE).   

São seis trailers itinerantes cujos atendimentos terão como público-alvo os catadores autônomos, ou seja, aqueles não organizados em cooperativas, e pessoas em situação de vulnerabilidade e invisibilidade social. As unidades móveis devem oferecer atendimento de saúde, oficinas formativas, encaminhamentos assistenciais, mutirões de regularização documental e jurídica.   

“A ideia é que ali funcione como um espaço primeiro de visibilidade, acolhimento e registro civil, convergindo com as políticas públicas e conectando também com as cooperativas e associações existentes”, pontua Kleytton Guimarães Morais, presidente da Fundação Banco do Brasil. A instituição investiu R$ 6,2 milhões no projeto.   

“Um dos piores dramas da reciclagem são os atravessadores. É um trabalho penoso que se esvai, do ponto de vista de acúmulo e de agregação de valor, porque tem um intermediário que tem acesso à indústria e é esse que ganha, vamos dizer assim, o valor agregado”, problematiza Morais.   

“Então, o Conexão Cidadã visa encerrar esse capítulo ao juntar essas pontas com o Estado, todos os entes federados, mas também com as catadoras e catadores organizados em cooperativa”, salienta Kleytton Morais.  

*Essa matéria é uma parceria com a Fundação Banco do Brasil

Edição: Martina Medina