Em doze meses do governo de Javier Milei na Argentina, mais de mil pessoas foram feridas em 15 manifestações, muitas delas com ferimentos graves, algumas com balas de borracha na cabeça ou no rosto e com graves danos à visão. “Essas são práticas típicas de governos autoritários”, disse a Anistia Internacional, apontando para "os números alarmantes da repressão".
Ao todo foram 1.155 pessoas feridas, 33 com balas de borracha na cabeça ou no rosto, 50 jornalistas e profissionais da imprensa feridos durante a cobertura das manifestações e 73 pessoas criminalizadas por participarem dos protestos.
“Dissidência em risco” é o título do relatório da Anistia Internacional Argentina sobre a repressão aos protestos sociais durante o primeiro ano de comando de Javier Milei e de sua ministra da Segurança, Patricia Bullrich.
Balas de borracha, caminhões hidrantes, espancamentos com cassetetes, detenções arbitrárias e “até mesmo, em casos emblemáticos, crianças afetadas pela violência repressiva”, é o que detalha o relatório, que também registra o uso desnecessário e desproporcional de gás lacrimogêneo por diferentes forças policiais, incluindo a Polícia Federal Argentina (PFA), a Gendarmaria Nacional (GN), a Prefeitura Naval Argentina e a Polícia da Cidade de Buenos Aires.
A organização aponta que a violência implementada pelo governo contra as manifestações da oposição, por meio do Protocolo Anti-Piquetes, marca um ponto de inflexão em relação aos últimos anos, e exige garantia de respeito aos direitos humanos no contexto dos protestos sociais.
Em declaração ao jornal argentino Página 12, Mariela Belski, diretora executiva da Anistia Internacional Argentina, considera que há uma violenta repressão ao descontentamento das ruas. “As autoridades nacionais escolheram o confronto e a violência, práticas típicas de governos autoritários, como estratégia para atacar aqueles que pensam de forma diferente”, disse.
O relatório mostra que Milei e Bullrich fizeram um uso “desproporcional” das forças de segurança “como regra” e que “um padrão de repressão e criminalização” foi estabelecido para aqueles que se manifestaram contra o ajuste. Esse padrão de repressão é preocupante e evidencia uma metodologia sistemática para restringir a dissidência”, explicou Belski.
O ato inaugural do protocolo anti-piquete, oficializado quatro dias após a posse do governo Milei, foi no final de janeiro e nos primeiros dias de fevereiro, durante a tramitação da Lei de Bases no Congresso - pacote de arroxo ultraliberal proposto pelo Executivo.
Esse foi o início da estratégia para conter o crescente descontentamento com as consequências da política ultraliberal. O protocolo foi criticado pelos relatores especiais da ONU, que solicitaram, sem sucesso, que o governo revisasse a resolução.
*Com Página 12
Edição: Leandro Melito