O líder do pan-africanismo e ex-presidente de Burkina Faso Thomas Sankara completaria 75 anos neste sábado (21). Sankara viveu e morreu lutando pela soberania política e econômica em seu país e para que todo o continente africano conquistasse, de fato, sua independência.
Hoje, o levante militar e popular em curso no em seu país, liderado pelo capitão Ibrahim Traoré, é inspirado no legado do revolucionário. Sankara permanece um símbolo da luta contra a presença francesa na África do Oeste e nspira movimentos revolucionários no Sahel, faixa semiárida que fica logo abaixo do deserto do Saara, no norte da África.
“Desde o assassinato de Sankara, não passamos um dia em Burkina sem lamentar sua morte. E como ele mesmo disse em sua época: 'Você é Sankara hoje.' Há milhares de Sankaras por aí. Esses milhares de Sankaras nasceram em Burkina Faso, nasceram no Mali, nasceram em todo o mundo. Assim, o pensamento de Sankara hoje abrange gerações”, explica Sawadogo Pasmamde, ou Ocean, multiartista e membro do Centro pela Liberdade e União Africana Thomas Sankara
“Um dos seus camaradas escreveu recentemente antes de partir, Valère D.Somé, um fiel companheiro de Thomas Sankara. Ele disse que para tirar o nosso país do subdesenvolvimento, não há outro caminho senão o traçado por Thomas Sankara. Hoje todos nós estamos conscientes disso”, completa Ocean, em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato.
O artista brilha com o reggae anticolonial em Burkina Faso. Nas letras, uma crítica ao domínio imposto pela França nas suas ex-colônias na África do Oeste, uma região rica em recursos naturais, mas onde a população está entre as mais pobres no mundo.
“A tecnologia se desenvolve no Ocidente, porque na RDC (República Democrática do Congo) tem o coltan, o cobalto. Paris tem luz, graças ao urânio do Níger. São os poços que pertencem a Brazzaville, mas o petróleo é para a França. A floresta pertence ao Gabão, mas a madeira é para as empresas francesas. As águas são senegalesas, mas o peixe é para os barcos estrangeiros”, diz trecho da letra Mendiant D´or, ou Mendigo de Ouro, seu maior sucesso.
“A África tem toda a riqueza, mas tudo é possuído pelo imperialismo. O que eu menciono na canção sobre os países francófonos, é a França.O imperialismo ocidental, precisamente o imperialismo francês, após a colonização, a independência, impôs um sistema com acordos classificados como secretos pelas forças independentes e esses acordos permitem à França controlar a economia, a política dos nossos estados”, explica Ocean.
A morte de Sankara
Thomas Sankara foi assassinado em 1987, em uma conspiração liderada por seu então colega Blaise Compaoré, que se tornou presidente do país e presidiu o país até 2014, com o apoio do governo da França. Em 2022, o ditador Compaoré foi condenado à prisão perpétua pelo assassinato e "pediu perdão" à família de Sankara, que presidiu o país entre 1983 e sua morte.
"Assumo e lamento do fundo do meu coração todo o sofrimento e drama vivido por todas as vítimas durante os meus mandatos à frente do país e peço às suas famílias que me concedam o seu perdão", declarou Compaoré na ocasião.
A morte do líder revolucionário interrompeu uma série de reformas para erradicar as mazelas do colonialismo francês. Ele foi o primeiro governante africano a romper os laços com o Fundo Monetário Internacional (FMI)
Em seu governo (1983-87), Sankara também nacionalizou as mineradoras e empresas extrativistas e retirou terras das mãos dos latifundiários e entregou aos trabalhadores rurais, implementando um projeto de reforma agrária até então inédito em Burkina Faso. Por força da medida, o país se tornou autossuficiente na produção agrícola.
Foi por iniciativa do ex-presidente que, em 4 de agosto de 1984, Alto Volta foi renomeado como Burkina Faso, que significa "terra dos homens íntegros" em mossi e dioula. A mudança reafirmou uma nova identidade do país.
“Quando dizemos "Burkina Faso", significa o país dos homens íntegros, o país dos homens honestos, a terra dos homens livres. Portanto, a menção do nome Burkina Faso é um programa de ação para cada indivíduo, cada cidadão, e para a sociedade como um todo. É saber que podemos observar, podemos aguardar, mas no dia que dizemos não, acabou”, conta Ocean”.
“Foi isso que fizemos com Blaise Compaoré, que estava havia 27 anos no poder. Ele teve tempo de assassinar, de estabelecer suas bases, mas quando o povo disse não, nos dias 30 e 31 de outubro de 2014, Compaoré foi obrigado a fugir. Portanto, quando dizemos Burkina Faso, isso desperta orgulho”, finaliza o artista.
Edição: Rodrigo Durão Coelho