Alceu Collares, ex-governador do Rio Grande do Sul e ex-prefeito de Porto Alegre (RS), morreu na madrugada desta terça-feira (24), aos 97 anos, na capital gaúcha. Ele estava internado no Hospital Mãe de Deus desde o dia 16 de dezembro para tratar uma pneumonia. A causa do falecimento foi falência múltipla de órgãos, informou o hospital.
Alceu Collares, o único negro a governar o estado, teve uma trajetória política marcante. Além de governador e prefeito, foi vereador em Porto Alegre e também atuou como deputado federal. O atual governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), decretou luto oficial de três dias e lamentou a morte do ex-governador em uma publicação no X/Twitter.
"Minha solidariedade aos filhos de Collares e à sua esposa, Neuza Canabarro, neste momento de dor. Que possam encontrar conforto na memória de sua trajetória e no reconhecimento de sua contribuição para nossa sociedade. O Rio Grande do Sul perde um grande líder, mas seu exemplo será eterno", declarou Leite.
Repercussão
A morte de Collares repercutiu entre no mundo político. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lamentou a perda do gaúcho. "Nos despedimos nesta madrugada de Alceu Collares, um dos grandes políticos brasileiros. Gaúcho de Bagé, foi o único governador negro do Rio Grande do Sul e um dos fundadores do PDT ao lado de Leonel Brizola. Sempre defendendo os trabalhadores e as causas trabalhistas do país, Collares deixa um grande legado para o Brasil. Meus sentimentos aos familiares e admiradores deste grande brasileiro."
O PDT, partido de sua carreira política, também comentou a morte do ex-governador. "O PDT lamenta profundamente a perda de Alceu Collares, um de nossos mais ilustres líderes e o primeiro governador negro do Rio Grande do Sul. Sua trajetória política, marcada pela defesa dos ideais trabalhistas e pela dedicação ao povo gaúcho, serve de inspiração para todos nós."
Para a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT), que iniciou sua trajetória política no PDT gaúcho, "o Brasil e o Rio Grande do Sul perdem um grande político, que teve uma vida honrada, de respeito e de luta pelos direitos do povo. E eu perco um amigo generoso, com quem tive o privilégio de conviver e trabalhar".
Entre as homenagens, também há a manifestação de Manuela d'Ávila. "Se foi Collares, Alceu de Deus, o homem negro que saiu de Bagé para ser prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande. Se foi Collares, o mais autêntico dos políticos que passaram por essa terra. Ele e suas tiradas geniais. Se foi o homem que nos fazia rir enquanto dizia verdades duríssimas. Abraço sua esposa Neusa e sua família."
Carreira e legado político
Alceu Collares nasceu em 1927, em Povo Novo, Bagé, na Região da Campanha do RS. Em sua juventude, ajudava a família pobre vendendo frutas e jogava futebol pelo Grêmio Esportivo Bagé, antes de se dedicar aos estudos. Formado em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), iniciou sua trajetória política como vereador em 1962. Passou pelo MDB durante a ditadura militar.
Collares foi um dos "Autênticos" do MDB que, nos anos 1970, tornou-se a ala do partido mais audaciosa frente à ditadura. O grupo queria a instalação de uma assembleia geral constituinte e o retorno da democracia. Era um de seus nomes mais destacados, ao lado de deputados federais e senadores como Marcos Freire e Fernando Lyra (ambos de Pernambuco), Lysâneas Maciel (RJ), Chico Pinto (BA), Jaison Barreto (SC), Getúlio Dias, Nadyr Rossetti, Amaury Muller e Elói Lenzi, os quatro do Rio Grande do Sul, e Alencar Furtado (PR).
Em 1974, os "Autênticos" trabalharam para o lançamento de um anticandidato à sucessão presidencial sob a ditadura. O escolhido foi o então presidente do MDB, Ulysses Guimarães. Foi o modo encontrado para abrir um debate na sociedade, sobretudo na imprensa, sobre a violência do autoritarismo.
Após esse período, foi um dos fundadores do PDT ao lado de Leonel Brizola, em 1979.
Collares governou o Rio Grande do Sul de 1991 a 1995, sem tentar a reeleição. Foi prefeito de Porto Alegre entre 1986 e 1989 e deputado federal pelo RS em dois períodos: de 1971 e 1983 e de 1999 a 2007. Seu primeiro cargo eletivo foi vereador de Porto Alegre, entre 1964 e 1970.
Após sua carreira política, buscou uma vida mais tranquila em um sítio ao lado de sua esposa, mas ainda disputou o governo do estado em 2006.
Velório e sepultamento
O velório de Alceu Collares será aberto ao público no Palácio Piratini, em Porto Alegre, nesta quarta-feira (25), das 11h às 16h. O sepultamento ocorrerá no Cemitério Jardim da Paz.
Edição: Thalita Pires