A imagem é um elemento fundamental na construção de memória, luta e resistência dos movimentos camponeses, mas durante muitos anos, as histórias foram contadas apenas por terceiros, ainda que parceiros. Mas, cada vez mais, os movimentos têm se apropriado e profissionalizado na área.
No Sudoeste do Pará, região marcada por violentos conflitos agrários, pulsa a necessidade de manter viva a trajetória e os modos de vida camponeses. Pensando nisso, jovens do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Sem Terra (MST) que integram o Centro de Formação, Produção e Artes da Amazônia – o Conduru, criaram o projeto Escola de Cinema no Campo, com o objetivo de qualificar a formação em audiovisual de acampados e assentados da reforma agrária.
“Essa turma tem o objetivo de formar mais de 20 jovens do campo e de diversos movimentos sociais na linguagem cinema. E esse curso tão importante para nós, através da Lei de Incentivo Paulo Gustavo, alcançou o coração do campo e em breve teremos novos cineastas, produtores, com novos filmes circulando esse espaço que é negado por meio das políticas culturais”, como explica Alan Leite, do Centro de Formação Conduru.
Dividida em cinco módulos, que devem ser concluídos até o final de 2024, a primeira etapa da escola aconteceu no mês de abril, durante o Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra Oziel Alves, momento alto de resgate das lutas pela terra no estado que acontece todos os anos na Curva do S, em memória aos mártires do Massacre de Eldorado dos Carajás.
Há cerca de dez anos, a cineasta e documentarista Julia Mariano participa do acampamento e foi facilitadora da primeira etapa da Escola de Cinema no Campo.
“A ideia é que a escola seja um lugar de aprendizado, de troca, mas principalmente de instrumentalização dos jovens do MST, para que eles possam filmar e produzir seus próprios produtos”, explica Mariano.
A documentarista explica ainda que para a maioria dos alunos, esse é o primeiro contato com câmeras profissionais e todo o universo de roteirização, filmagem e edição que envolvem o cinema, com a proposta de produzirem cinco curtas-metragens.
“A gente está começando a aproximar os alunos desse universo, e a partir do módulo eles vão ser mais focados. Vamos ter um módulo específico para falar de roteiros e ideias, eles vão desenvolver a ideia deles no roteiro, vão filmar essas ideias, editar essas ideias e, no final, vamos apresentar em um festival. A nossa proposta é fazer até cinco curtas-metragens durante esse ano de 2024”.
O projeto foi aberto a qualquer pessoa ligada às áreas de reforma agrária, independente de atuar ou não na comunicação, por isso abre portas para a troca de conhecimentos, experiências e olhares, a exemplo da assentada Carla Pereira, que compõe o setor de Cultura do MST.
“Para mim a experiência que tive foi impactante, porque na primeira prática da oficina foi entrevistada uma vítima de Eldorado dos Carajás, algo que mexeu com minha memória afetiva e com o que eu conhecia limitadamente sobre o Massacre”, aponta Carla.
Além disso, a proposta do projeto é, ainda, fortalecer o setor de comunicação do MST, que é formado por pessoas que contribuem em todos os estados de atuação do movimento.
“É bom a gente saber que as pessoas veem o que a gente faz, valoriza e me sinto até lisonjeado por isso, sabe? Porque eu comecei em 2022 com essa questão mais da fotografia e querer trabalhar com isso, e nesse pouco tempo, saber que meu trabalho como fotógrafo, e até a questão de videografia foi valorizado, que as pessoas viram isso e me chamaram para fazer a Escola de Cinema é maravilhoso”, declara o assentado e fotógrafo Igo Galvino.
As informações sobre a Escola de Cinema no Campo, bem como sobre as exibições das produções podem ser acessadas no Instagram do Centro de Formação Conduru.
Edição: Matheus Alves de Almeida