O presidente russo, Vladimir Putin, declarou nesta quarta-feira (26) que a Rússia está empenhada em buscar uma resolução para o conflito na Ucrânia. A fala foi durante uma coletiva de imprensa após a cúpula informal da CEI (Comunidade dos Estados Independentes).
"Nós nos esforçamos para acabar com o conflito na Ucrânia. É claro que partimos do pressuposto de que alcançaremos todos os objetivos da operação militar especial. Esta é a tarefa número um", disse o presidente.
A declaração de Putin se insere no contexto das expectativas para que o ano de 2025 seja marcado por mudanças em relação ao conflito. A retórica tanto de Moscou como de Kiev passou a incorporar cada vez mais a possibilidade de negociações nos últimos meses.
Na semana passada, na grande coletiva de fim de ano de Putin, o líder russo também declarou que Moscou estava pronta para iniciar negociações de paz sem condições prévias, mas expôs as limitações do diálogo no cenário atual, colocando em xeque a legitimidade do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
"Se alguém for às urnas e ganhar legitimidade, falaremos com qualquer um, incluindo Zelensky. Agora, se a Ucrânia realmente quiser seguir o caminho de um acordo pacífico, eles são capazes de fazer isso, podem organizar este processo internamente como quiserem. Simplesmente só podemos assinar apenas com aqueles que são legítimos", disse.
Um dos principais motivos para a expectativa que algo mude em relação à guerra é a posição dos EUA, que pode sofrer uma alteração na política de apoio à Ucrânia com a chegada de Donald Trump ao poder.
Efeito Trump
O presidente eleito dos EUA, Donald Trump, repetidamente afirmou que o seu desejo de acabar com a guerra da Rússia com a Ucrânia de maneira rápida, chegando a dizer que ele faria isso "nas primeiras 24 horas" de sua presidência, apesar de não oferecer detalhes concretos sobre como faria isso.
Donald Trump diversas vezes criticou o escopo da ajuda financeira e militar que os EUA fornecem à Ucrânia. Em setembro, durante a visita do presidente ucraniano aos EUA, o encontro entre Volodymyr Zelensky e Trump foi marcado por um desgaste.
Durante a visita, Donald Trump disse que a Ucrânia "está em ruínas" e defendeu que o líder ucraniano faça concessões para Putin. Na ocasião, na frente dos jornalistas e ao lado de Zelensky, Trump ainda reforçou que tem um bom relacionamento com Putin, criando um clima tenso entre os dois.
Apesar de o Kremlin adotar tom de cautela em relação à volta de Trump à Casa Branca, a mudança de poder nos EUA interessa para Moscou, na medida em que o governo de Joe Biden fez do amplo apoio à Kiev uma das principais bandeiras de sua gestão. Há uma expectativa de que um governo menos comprometido com a Ucrânia possa reforçar a posição russa no conflito e até levar à obtenção de um acordo mais favorável à Rússia em possíveis negociações de resolução da guerra.
Ao mesmo tempo, apesar das expectativas de um caminho para negociações, o ano de 2024 foi marcado por graves escaladas no conflito, que impõem desafios para viabilizar uma melhora nas relações entre Rússia, Ucrânia e o Ocidente, visando a resolução da guerra.
Intervenção de Kursk
Um episódios mais marcantes no teatro de guerra em 2024 foi a surpreendente incursão militar da Ucrânia na região russa de Kursk em agosto, assumindo o controle de dezenas de assentamentos. Foi a maior incursão militar de um exército regular em território russo desde a Segunda Guerra Mundial.
A Rússia iniciou uma operação de contraofensiva para retomar o controle dos territórios em Kursk, no entanto os confrontos se arrastam desde então e não houve uma alteração drástica no cenário de guerra na região russa.
Em 19 de dezembro, Vladimir Putin confirmou que estavam ocorrendo combates na região de Kursk e não soube precisar quando a Rússia conseguirá recuperar os territórios ocupados.
"Não quero citar uma data específica em que eles serão abatidos [as Forças Armadas da Ucrânia]. Com certeza iremos abatê-los completamente, mas a questão de uma data específica... Existem planos, mas dizer em que data, isso não se faz. Não podemos fazer isso", afirmou.
A intervenção ucraniana em Kursk reacendeu o debate sobre os riscos do uso de armas nucleares por parte da Rússia, considerando que a doutrina nuclear do país prevê que Moscou poderia realizar ataques nucleares em caso de uma ameaça direta ao seu território. Apesar de não chegar a esse ponto, novos tipos de armamentos entraram em cena, levando a uma perigosa escalada do conflito.
Novas armas
Um dos aspectos que dificulta as perspectivas de paz em 2025 é a entrada de novas armas no conflito. Em primeiro lugar, em novembro os EUA autorizaram a Ucrânia a realizar ataques com mísseis de longo alcance contra o território russo. A decisão era aguardada por Kiev havia meses.
A Rússia identificou o uso desses armamentos em tentativas de ataques ucranianos realizadas em 19 e 21 de novembro. Moscou reagiu imediatamente, anunciando o lançamento do novo míssil não nuclear de médio alcance Oreshnik, com qual atacou a região ucraniana de Dnipro no dia 21 de novembro.
Ao falar com a imprensa nesta quinta-feira (26), o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que "a Rússia sempre responde de forma espelhada aos ataques da Ucrânia". Segundo ele, a Ucrânia utilizou recentemente cinco a sete sistemas ATACMS, e a Rússia respondeu com 221 ataques com armas de alta precisão e longo alcance.
"Se forem necessárias armas de médio alcance mais poderosas, a Rússia as utilizará", acrescentou o presidente russo.
Cenário favorável à Rússia no campo de batalha
Todos estes desdobramentos ocorreram sob o pano de fundo dos êxitos que a Rússia vem tendo durante o ano inteiro no campo de batalha, conquistando um gradual avanço na região de Donbass, no leste ucraniano.
No último 26 de dezembro, as Forças Armadas russas reafirmaram esse curso de intensificação da ofensiva, anunciando que as tropas do país assumiram o controle do assentamento de Gigant na região de Donetsk.
De acordo com o Estado-Maior Ucraniano, as perdas mais significativas das forças do país ocorreram em novembro e dezembro deste ano.
Como afirmou o presidente russo, Vladimir Putin, na coletiva de 19 de dezembro, a situação no conflito "está mudando radicalmente".
A expectativa é que a tomada dos principais territórios estratégicos em Donetsk por parte da Rùssia possa criar condições mais favoráveis a Moscou em um cenário de negociações.
Edição: Rodrigo Durão Coelho