Três bebês palestinos morreram de hipotermia no campo de refugiados de al-Mawasi, no sul de Gaza, nos últimos dias, enquanto as temperaturas despencam e o bloqueio israelense de alimentos, água e suprimentos essenciais de inverno continua. A agência da ONU para refugiados da Palestina (Unrwa) disse na terça-feira (24) que 14.500 crianças palestinas foram mortas por Israel na Faixa de Gaza, desde outubro do ano passado, significando, em média, um assassinato a cada 60 minutos.
Ahmed al-Farra, diretor da ala infantil do Hospital Nasser em Khan Younis, confirmou a morte de Sila Mahmoud al-Faseeh, de três semanas, na quarta-feira, acrescentando que outros dois bebês, com três dias e um mês, foram levados ao hospital nas últimas 48 horas após morrerem de hipotermia.
"Ela estava com boa saúde e nasceu naturalmente, mas por causa do frio severo nas tendas houve uma diminuição significativa na temperatura que fez seu sistema corporal parar de funcionar e levou à sua morte", disse al-Farra, referindo-se à morte de Sila em uma entrevista à Al Jazeera.
Mahmoud al-Faseeh, pai do bebê Sila, disse que a família estava vivendo em "más condições" em sua tenda em al-Mawasi, uma área de dunas e terras agrícolas na costa mediterrânea de Gaza, perto da cidade de Khan Younis, no sul. Al-Mawasi foi designada como uma "zona segura", mas foi atacada repetidamente nos últimos 14 meses da ofensiva israelense.
"Dormimos na areia e não temos cobertores suficientes e sentimos frio dentro de nossa tenda", disse. "Só Deus conhece nossas condições. Nossa situação é muito difícil."
A tenda da família não estava selada contra o vento e o chão estava frio, com temperaturas na terça-feira à noite caindo para 9 graus Celsius. O bebê acordou chorando três vezes durante a noite. De manhã, seus pais a encontraram sem resposta, seu corpo rígido, "como madeira", disse al-Faseeh em outra entrevista à agência de notícias The Associated Press.
Ele levou o bebê às pressas para o Hospital Nasser, mas já era tarde demais para reanimá-la. O Dr. Munir al-Bursh, diretor-geral do Ministério da Saúde em Gaza, disse que o bebê Sila "congelou até a morte devido ao frio extremo", destacando que o local havia sido declarado uma "zona humanitária segura temporária para pessoas deslocadas" pelos militares israelenses.
O bombardeio e a invasão terrestre de Gaza por Israel mataram mais de 45 mil palestinos, mais da metade deles mulheres e crianças. A ofensiva causou destruição generalizada e deslocou cerca de 90% dos 2,3 milhões de moradores da Faixa, muitas vezes várias vezes.
Centenas de milhares estão amontoados em acampamentos de tendas ao longo da costa enquanto o inverno frio e chuvoso se instala. Grupos de ajuda têm lutado para entregar alimentos e suprimentos e dizem que há escassez de cobertores, roupas quentes e lenha. "Este é um exemplo gritante das consequências desta guerra injusta e seu impacto sobre o povo da Faixa de Gaza", disse al-Farra.
Israel mata mais cinco jornalistas
Uma emissora de televisão palestina vinculada ao grupo Jihad Islâmica anunciou nesta quinta-feira (26) as mortes de cinco jornalistas do canal em um ataque israelense na Faixa de Gaza.
O míssil israelense teria atingido a van de transmissão do canal Al Quds quando o veículo estava estacionado no campo de refugiados de Nuseirat, segundo um comunicado da emissora.
O canal afirmou no comunicado que "chora por cinco jornalistas mártires, Faisal Abu Al Qumsan, Ayman Al Jadi, Ibrahim Al Sheikh Khalil, Fadi Hassouna e Mohammed Al Lada'a, que morreram em um ataque sionista contra um veículo de transmissão".
Eles morreram "quando cumpriam seu dever jornalístico e humanitário (...) Reafirmamos nossa missão de continuar nossa mensagem como mídia de resistência", acrescenta a nota.
O exército israelense afirmou em um comunicado que efetuou "um ataque preciso contra um veículo com uma célula terrorista da Jihad Islâmica dentro dele na área de Nuseirat", no centro de Gaza.
"Antes do ataque, várias medidas foram adotadas para mitigar o risco de ferir civis, incluindo o uso de munições precisas, vigilância aérea e inteligência adicional", acrescenta o comunicado militar.
O Sindicato de Jornalistas Palestinos anunciou na semana passada que mais de 190 profissionais de imprensa morreram e pelo menos 400 foram feridos desde o início da guerra em Gaza, em 7 de outubro de 2023.
Sem misericórdia
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza informou, nesta quinta-feira (26), que pelo menos 38 pessoas morreram nas últimas 24 horas neste território palestino governado pelo Hamas, assolado pelo conflito com Israel há mais de um ano.
O número total de mortes durante o genocídio aumentou para 45.399 pessoas, informou o ministério em comunicado. A fonte indicou que 107.940 pessoas ficaram feridas em Gaza desde o início do conflito, desencadeado pelo ataque sangrento do movimento islamista em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel.
*Com AFP e Al Jazeera
Edição: Rodrigo Durão Coelho