CRISE

Governo provisório do Haiti chega a 8 meses pior do que começou: 'Não fez nada relevante'

Analista haitiano critica omissão da administração transitória e dos militares quenianos enviados ao país

Brasil de Fato | São Paulo (SP) | |
Jornalista Reginald Balthazar se recupera em hospital no dia 25 de dezembro após ataque de gangue - CLARENS SIFFROY/AFP

Oito meses após assumir o controle do Haiti, o Conselho de Transição não conseguiu melhorar a situação no país. Em meio à violência disseminada de gangues armadas, falta de controle da maior parte da capital e um estado de emergência recém-decretado, o país é governado por um coletivo omisso que não entende suas necessidades. 

Essa é a opinião do jornalista e analista político Jean Waltès Bien-Aimé ouvido pelo Brasil de Fato.

"Um governo que não reconhece a constituição haitiana.Estamos em situação de crise, temos um conselho presidencial com 7 membros imposto pela OEA [Organização dos Estados Americanos]. Já se passaram cerca de 8 meses desde a inauguração do conselho presidencial de transição, até agora não fizeram nada de relevante", disse ele. 

O governo assumiu o poder em abril para um mandato de 22 meses, quando devem ser realizadas eleições. Cerca de 360 ​​mil haitianos continuam deslocados internamente, sendo que 95 mil pessoas deixaram a capital devido à ação violenta de gangues. 

Esses grupos armados controlam cerca de 80% da capital, Porto Príncipe e os episódios violentos são rotina. Dois jornalistas e um policial foram mortos, na terça-feira (24), em um ataque armado de gangues, enquanto cobriam a reabertura de um hospital no centro de Porto Príncipe, a capital haitiana, informou à AFP um coletivo de veículos de imprensa.

Para tentar conter a violência - apenas um massacre no início de dezembro deixou mais de 200 mortos - o governo interino decretou estado de emergência. Muito pouco, na opinião de Jean Waltès Bien-Aimé. Leia a entrevista abaixo:

Brasil de Fato: Qual você acha que deveria ser a melhor forma de abordar a violência das gangues?

Jean Waltès Bien-Aimé: A melhor forma de enfrentar a violência das gangues terroristas é entregar equipamentos à polícia nacional e ao embrionário exército haitiano, após desenvolver um plano de segurança para o território nacional. A solução deve ser uma solução haitiana, claro que com o apoio material de países da comunidade internacional que queiram mostrar solidariedade com o Haiti.

Qual a sua opinião sobre o governo interino?

Um governo que não reconhece a constituição haitiana, mas estamos em situação de crise, temos um conselho presidencial com 7 membros imposto pela OEA. Já se passaram cerca de 8 meses desde a inauguração do conselho presidencial de transição, até agora não fizeram nada de relevante, o povo continua a ser vítima da insegurança, os terroristas continuam a massacrar a população, queimando as suas casas, expulsando familiares para as ruas, morrendo de fome...

Além disso, este conselho está em crise porque 3 vereadores estiveram envolvidos num escândalo. Sem esquecer as maquinações dos Estados Unidos para eliminar este conselho e substituí-lo por outra estrutura mais controlável.

E as forças de segurança do Quênia?

As forças de segurança quenianas não fizeram nada até agora, pelo contrário, trabalharam em segredo, têm medo das gangues terroristas porque, segundo elas, não possuem equipamentos adequados para lutar contra essas gangues.

O que esperar de 2025?

Maior compromisso do povo haitiano para derrubar e derrotar as gangues terroristas e a força oculta do imperialismo internacional, especialmente os Estados Unidos, que criou estas gangues. Já fizemos isso no passado, podemos fazer de novo. Fizemos história em 1º de janeiro de 1804. 2025 fará 221 anos. A luta continuará com mais empenho em 2025 por um novo país, onde haverá segurança, estabilidade econômica e política.


Pobreza no Haiti / Clarens SIFFROY / AFP

 

*Com AFP

Edição: Leandro Melito