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Raízes no Sertão do Pajeú: ator Caio Macedo celebra trajetória no cinema nacional e identidade pernambucana

Bem Viver traz uma conversa com o artista pernambucano sobre a influência do Nordeste e o poder de narrativas sociais

O programa Bem Viver, produzido pelo Brasil de Fato, traz uma conversa com o ator Caio Macedo, um dos grandes talentos em ascensão no cinema nacional. Natural de São José do Egito, uma pequena cidade no alto Sertão do Pajeú, Pernambuco, ele acumula participações em filmes de  relevância e impacto social, que abordam temáticas sobre o Brasil contemporâneo. 

Entre seus trabalhos mais recentes, Ruas da Glória, dirigido por Felipe Sholl, é uma das produções mais aguardadas para o início de 2025. O filme, que já estreou em festivais internacionais, deve chegar às telonas brasileiras ainda no primeiro trimestre do ano. Segundo Macedo, esse foi um dos processos mais intensos de sua vida. "Meu personagem, Gabriel, lida com a vulnerabilidade de garotos de programa no contexto da dependência química, algo que exige uma entrega emocional muito grande. Durante as gravações, também enfrentei o luto pela perda do meu pai, o que tornou tudo ainda mais significativo para mim", conta. 

Outro destaque na carreira do ator é Pedágio, de Caroline Markowicz, um longa que ganhou o Prêmio Grande Otelo 2024 de melhor longa metragem de ficção, que conta com um elenco de peso, incluindo Maeve Dinkins e Thomas Aquino.

Pedágio aborda a chamada ‘cura gay’ – um conceito absurdo e cruel que precisa ser combatido. O roteiro de Carol é brilhante porque cria um desconforto necessário. Participar desse filme foi desafiador e transformador, especialmente pela intensidade das gravações em Cubatão, um cenário que refletia o tom quase apocalíptico da narrativa", conta ele.

Além disso, o ator integra a segunda temporada de Lama dos Dias, uma série de Hilton Lacerda que explora o movimento manguebeat, a energia pulsante do Recife e o legado de Chico Science. Para Macedo esse trabalho é um reencontro com suas raízes.

"Participar de Lama dos Dias é como uma extensão do meu vínculo com o Recife. Revisitar essa energia cultural e contar uma história tão rica, que dialoga com minha própria identidade pernambucana, é emocionante. O Manguebeat sempre foi muito mais do que música, é um símbolo de resistência e reinvenção", destaca o ator.

Entre os projetos futuros, Prédio Vazio, dirigido por Rodrigo Aragão, promete ser outro marco em sua trajetória. O thriller de fantasmas, que será exibido pela primeira vez na Mostra de Cinema de Tiradentes, que ocorre em Minas Gerais em janeiro de 2025. “Foi incrível trabalhar em um set tão imersivo, com efeitos práticos impressionantes. Estou ansioso para que o público veja o resultado.” 

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Vamos contar um pouquinho mais sobre a sua história? Você participa dessa série Lama dos Dias, que conta sobre o manguebeat, fala especialmente do Recife, mas claro, que traz todo esse caldo que é Pernambuco, esse caldo cultural, artístico, culinário… Enfim, muita coisa. E você é de lá, qual é a cidade de Pernambuco de onde você vem?  

Caio Macedo: Eu sou do interior de Pernambuco, uma cidade que se chama São José do Egito, que fica alto do Sertão do Pajeú. É uma cidade muito pequena, com cerca de trinta, trinta e cinco mil habitantes. Para mim, é muito especial ter vindo de um lugar que não tinha acesso a teatro, cinema e outras artes mais comercializadas, sabe? Cresci em um ambiente muito conectado à cultura popular. Minha mãe era poetisa, e isso me inseriu em um contexto de poesia peculiar, de cordel, que com certeza moldou o artista que sou hoje. Sempre que volto para lá, sinto que recarrego minhas energias. É um reencontro com essas referências do Brasil profundo, que são tão especiais para mim.  

Como é a sua relação com essa cidade, que é seu berço, onde boa parte da sua família ainda deve estar, mas que, ao mesmo tempo, não te oferecia as possibilidades de crescer profissionalmente na área em que você atua hoje? Para você, esse retorno é amistoso, um reencontro? Ou existe alguma distância, considerando que seus caminhos seguiram para outros lugares?  

É um lugar ao qual eu sempre retorno. Mesmo havendo a necessidade de sair, foi uma saída com a bagagem cheia. Levei comigo muito do que me formou enquanto indivíduo e artista. E voltar é sempre importante, tanto por ainda ter boa parte da minha família lá, quanto pela necessidade de me reconectar com aquela força criativa.  

O que mais me impressiona em São José do Egito é que, mesmo sem um mercado estruturado para arte, as pessoas fazem poesia, música e outras manifestações culturais porque sentem essa necessidade humana, sabe? Essa fome de se expressar. Essa realidade me influenciou profundamente enquanto eu buscava me firmar como artista em mercados maiores, que são extremamente competitivos. Voltar para lá não é um esquecimento, mas um reencontro.  

Recentemente, tivemos aqui no programa o Silvério Pereira, que é do interior do Ceará, e ele falou muito sobre isso, sobre recarregar-se em suas origens, mas também enfrentando as dificuldades de crescer em um ambiente marcado por preconceitos. Isso impactou você? Especialmente em questões de identidade e expressão pessoal?

Com certeza. Crescer no interior de Pernambuco trouxe desafios nesse sentido. Muitas vezes, esse preconceito restringia não só minha expressão artística, mas também minha compreensão e vivência da minha identidade, inclusive em relação à sexualidade. Essas são questões que exigem enfrentamento, mas que também ensinam muito sobre resiliência e autoconhecimento.  

Acho que cada pessoa tem essa relação com seu "interior", seja ele ligado à cidade natal, à família ou a experiências marcantes. Para mim, voltar a São José do Egito é recuperar forças e reconhecer que, mesmo com os desafios, minhas raízes são uma fonte inesgotável de inspiração. 

Você é do interior de Pernambuco e, naturalmente, desenvolveu sua carreira inicialmente no estado. Como foi a transição para outros polos, como Recife e, depois, São Paulo?  
 
Recife foi a primeira capital para onde me mudei ao sair de minha cidade natal, para estudar artes cênicas. Me formei em teatro na Universidade Federal de Pernambuco, e Recife foi onde comecei minha carreira, inicialmente no teatro. Após a graduação, fui para São Paulo para fazer um mestrado na USP, continuando meus estudos. Apesar de estar em São Paulo, voltava ao Nordeste para trabalhos, como o filme A Noite Amarela na Paraíba e séries como Lama dos Dias. Voltar ao Recife sempre foi especial, rever amigos de faculdade e trabalhar em produções de lá me trazia uma sensação única. 

Como foi sua experiência gravando Lama dos Dias, uma série que fala do movimento manguebeat?
 
Foi uma experiência especial, porque tivemos pessoas que fizeram parte do manguebeat envolvidas, como a filha de Chico Science e artistas como DJ Dolores. A série mistura ficção com histórias reais dos anos 90, narradas por quem vivenciou aquela época. Trabalhar com Cláudio Assis, um mestre do cinema pernambucano, e retratar um movimento que deu voz às comunidades periféricas foi emocionante. Esse resgate cultural, misturando tradições como maracatu e Cavalo Marinho, com elementos modernos, foi enriquecedor. 

Sobre seus trabalhos em Ruas da Glória e Pedágio, ambos com temáticas LGBTQIA+, como você enxerga sua participação nesses projetos? 

Para mim, é um orgulho estar em produções que abordam essas temáticas, principalmente por me identificar como homem gay. Tenho muito respeito por quem veio antes e abriu caminhos para discussões que antes não tinham espaço. Pedágio, por exemplo, trata de forma crítica a chamada "cura gay", com um roteiro incrível da Carolina Markowicz. Já Ruas da Glória aborda questões de vulnerabilidade social, garotos de programa e dependência química. Foram trabalhos intensos, mas muito enriquecedores. 

E quanto à recepção de Ruas da Glória em Tallinn, na Estônia, um contexto tão próximo de conflitos? 

Ficamos apreensivos, mas a recepção foi calorosa. Eles enxergaram o filme como necessário naquele contexto de guerra e conservadorismo. Foi emocionante ver o impacto do filme em um cenário tão adverso, e isso reforça a importância de levar essas histórias para outros públicos. 

Falando agora sobre o futuro, o que podemos esperar de Caio Macedo em 2025? 

Estou muito animado com Prédio Vazio, um thriller de terror do Rodrigo Aragão que estreará na Mostra de Tiradentes. É um filme que mistura efeitos práticos e elementos de horror em um cenário de condomínio assombrado. Convido todos a acompanharem a estreia e as redes sociais do festival.  

 


Programa também está disponível nas principais plataformas de podcasts / Brasil de Fato/Divulgação

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