A Rússia sediou entre 18 e 20 de dezembro o Primeiro Torneio Internacional Amistoso de Futebol para Cegos entre clubes dos países Brics, em Moscou.
O evento foi organizado pelo Conselho Civil do Brics, iniciativa conjunta com o Conselho de Especialistas Rússia-Brics, e contou com a participação de oito clubes profissionais da Rússia, Brasil, África do Sul, Índia, Turquia, Cazaquistão e Belarus. O Brasil foi representado pela Associação Gaúcha de Futsal para Cegos (AGAFUC).
O embaixador do Brasil na Rússia, Rodrigo Baena Soares, compareceu à cerimônia de abertura do torneio e saudou a equipe brasileira. Em particular, o diplomata homenageou a equipe do Rio Grande do Sul no contexto da tragédia das enchentes que atingiram o estado, em abril de 2024.
"Boa tarde, queridos amigos do Brasil. Eu sei que vocês vêm do Rio Grande do Sul. Eu tenho muito carinho pelo estado do Rio Grande do Sul, minha mãe era de lá, então conheço bem o estado. E eu também queria parabenizar pelo grande esforço que fizeram depois das enchentes, com todos os problemas derivados das enchentes que vocês passaram e se recuperaram com grande coragem e determinação", afirmou o embaixador.
"Realmente queria saudar muito vocês e agradecer a presença de vocês, que viajaram tanto de tão longe para estarem aqui, então eu tenho todo o respeito e admiração por vocês", completou.
De acordo com a organização do evento, a iniciativa humanitária e esportiva de promover um torneio de futebol para deficientes visuais não está desconectada dos conflitos políticos atuais entre Moscou e o Ocidente, sobretudo a política de sanções contra a Rússia.
Em março de 2022, a Associação Internacional de Esportes para Cegos suspendeu a participação de equipes da Rússia e de Belarus no Campeonato Europeu de Futebol para Cegos, torneio que era classificatório para a Copa do Mundo de 2023. Esses dois eventos eram fundamentais para a seleção russa de futebol de cegos poder ter a chance de se qualificar para as Paralimpíadas de 2024.
Desta forma, assim como a organização dos Jogos do Brics em 2024, a Rússia busca promover eventos esportivos dentro do grupo para que os atletas possam participar e se desenvolver em importantes competições internacionais.
O Conselho Civil do Brics defende que o aspecto humanitário, a troca entre os povos do grupo Brics, deve ser um dos pilares do desenvolvimento do grupo, para além das questões ligadas à política e à economia.
É o que comenta a chefe do Conselho de Especialistas Brics-Rússia e vice-reitora da Escola Superior de Economia da Rússia,Victoria Panova, em entrevista ao Brasil de Fato. Segundo ela, "o Brics é todo um universo maior que uma junção política ou econômica, é uma junção de países e de povos que pensam parecido, que querem se desenvolver juntos, que querem juntos promover certas iniciativas".
"É exatamente por isso que nós sempre reafirmamos que o Brics é a combinação de três pilares: política, econômica, e a parte humanitária, que é muito importante. O contato entre as pessoas, e o desenvolvimento de projetos culturais, esportivos, que são importantes para todo mundo. Ou seja, o importante é que o Brics não é só sobre governos, não é só sobre funcionários oficiais e ministérios, não é só sobre negócios. Brics é sobre pessoas", destacou Panova.
Com a bola rolando, o time do Brasil acabou ficando com o vice-campeonato após perder de um a zero para a equipe da Turquia. O time russo Zvezda ficou em terceiro lugar.
O vice-chanceler russo, Serguei Ryabkov, prestigiou a cerimônia de encerramento do evento e, dirigindo-se aos atletas, observou que foi uma grande honra para ele estar no campo de futebol naquela noite junto com os participantes do torneio.
"Estou muito honrado por estar neste campo de futebol rodeado de atletas incríveis. Não jogo futebol, mas admiro vocês, vejo o quão poderosa é uma pessoa, o quão forte é a sua vontade. Vocês dão o exemplo para aqueles que não entendem como valorizar a felicidade na vida e lutar pelo futuro, como vencer em equipe”, disse o vice-ministro.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Serguei Ryabkov, reforçou os votos para que a presidência do Brasil nos Brics em 2025 continue a iniciativa de promover eventos esportivos para deficientes entre os membros do grupo.
De acordo com ele, "a presidência brasileira vai dar uma atenção muito séria no campo da economia e dos negócios" no ano que vem, mas o vice-ministro reforça que o escopo de desenvolvimento do grupo já transbordou para uma cooperação mais ampla nas esferas culturais e humanitárias.
"O Brics já formou uma tradição de contatos muito amplos entre os povos nos formatos mais variados. Há festivais teatrais, colaboração de museus, fóruns acadêmicos, muitos encontros acontecem sob formato de festivais. E os jogos esportivos do Brics deste ano, em Kazan, reuniram atletas de mais de 50 países", disse.
Ryabkov destacou a importância do Brics como centro de "centro de atração, ponto de concentração, um farol, justamente na esfera do contato entre as pessoas" e, na possibilidade de competição entre atletas com possibilidades restritas, apontou que o futebol para cegos, como uma das modalidades "que deveria ter sido feita há muito tempo".
"Nós estamos felizes que conseguimos fazer isso durante a nossa presidência, esperamos que os amigos brasileiros adotem essa iniciativa e possam dar o próximo passo para que isso seja uma tradição e um elemento integrante, inclusive, da programação dos Jogos Brics", completou Serguei Ryabkov.
Edição: Leandro Melito