2024 foi o ano em que a Justiça brasileira deu um passo decisivo para enfrentar o autoritarismo com a prisão de generais envolvidos na tentativas de golpe a democracia, além da escalada dos desastres climáticos no país, vitória do centrão nas eleições municipais e o cenário internacional cada vez mais polarizado pela extrema direita em ascensão.
Estes são os destaques do Tempero da Notícia, programa produzido pelo Brasil de Fato e apresentado pelo jornalista Rodrigo Vianna, que, nesta edição, faz uma análise dos principais acontecimentos do ano em uma retrospectiva especial.
Rio Grande do Sul
A crise climática deixou de ser um tema abstrato para os brasileiros. O Rio Grande do Sul enfrentou a pior enchente de sua história, com chuvas que superaram 500 mm em alguns municípios em menos de 48 horas, afetando mais de 1 milhão de pessoas. O transbordamento do Guaíba invadiu Porto Alegre, inundando o centro histórico e paralisando a cidade.
Foram mais de 100 mil desabrigados, milhares de animais mortos e prejuízos que superaram R$ 8 bilhões. A tragédia expôs falhas de infraestrutura: as bombas de drenagem, abandonadas pela Prefeitura, se tornaram símbolo da negligência administrativa. Pequenos municípios como Muçum e Roca Sales foram devastados, e a resposta pública mostrou tanto solidariedade, com mutirões de ajuda, quanto oportunismo político, com fake news e fraudes.
Apesar da dimensão do desastre, o debate sobre medidas preventivas, como a implementação de planos climáticos e requalificação de áreas de risco foi tímido na análise de Vianna. O prefeito de Porto Alegre Sebastião Melo (MDB), mesmo criticado por sua gestão da crise, acabou reeleito, evidenciando a complexidade do cenário político local.
Eleições municipais e o centrão
As eleições de 2024 consolidaram o domínio do centrão. Partidos como MDB e PSD, partido de Gilberto Kassab, ampliaram suas bases, elegendo prefeitos em capitais importantes, incluindo Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife.
O PT, embora tenha avançado em algumas capitais, em relação a 2020, e lançado novas lideranças, como Natália Bonavides em Natal (RN), sofreu perdas significativas, especialmente em São Paulo, com a derrota de Guilherme Boulos (Psol).
O bolsonarismo, por sua vez, perdeu força em várias frentes, reflexo de desgaste político e denúncias envolvendo Jair Bolsonaro (PL).
Investigação do Golpe
Na visão de Vianna, a grande surpresa política do ano veio da Polícia Federal, que concluiu uma investigação sobre o golpe de Estado planejado por setores golpistas. O Brasil esteve, de fato, muito próximo de viver uma nova ditadura militar, com planos para assassinar o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT), o vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
As investigações, apresentada em um relatório com quase 900 páginas, revelaram que o plano foi articulado dentro do Palácio do Planalto, com Bolsonaro e altos oficiais militares no comando. As provas incluíram mensagens, planilhas de logística e evidências materiais. Entre os 40 indiciados estão o ex-presidente e dois generais de quatro estrelas: Braga Netto e Augusto Heleno, que agora enfrentam processos na Justiça civil.
A prisão de Braga Netto, descrito como o líder operacional do golpe, foi a primeira na história envolvendo um general de tal patente. A decisão foi um marco, colocando o Brasil diante de um ajuste de contas com sua herança autoritária.
Governo Lula
Apesar de uma recuperação econômica que incluiu queda no desemprego para 6,1% e crescimento do PIB acima de 3% nos nove primeiros meses do ano, o governo Lula enfrentou dificuldades em transformar os números em aprovação popular.
O pacote fiscal de Haddad, visto como uma vitória para o mercado financeiro, foi criticado por setores progressistas, que o acusaram de não priorizar investimentos sociais. Além disso, problemas de comunicação com a base popular e a saúde de Lula geraram incertezas.
O presidente foi internado duas vezes após sofrer uma queda e ser submetido a uma drenagem craniana. Isso levantou dúvidas sobre sua capacidade de concorrer à reeleição em 2026. No entanto, Lula terminou o ano fortalecido politicamente, indicando que, caso sua saúde permaneça estável, ele ainda é favorito em cenários eleitorais.
Extrema direita
No cenário internacional, o Brasil teve um papel de destaque nas articulações diplomáticas, reunindo líderes mundiais no G20, no Rio de Janeiro, e criando Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
No entanto, o avanço da extrema direita ao redor do mundo, com a volta de Donald Trump nos Estados Unidos e a ascensão de figuras como Javier Milei na Argentina, gerou um clima de incertezas. Mas no Uruguai a Frente Ampla, liderada por Pepe Mujica, voltou ao poder.
Olímpiadas
A vitória das mulheres brasileiras no esporte foi uma das grandes alegrias nacionais em 2024. Nos Jogos Olímpicos, Rebeca Andrade se destacou na ginástica, conquistando o ouro e enchendo os corações dos brasileiros de orgulho. O vôlei, judô e skate também trouxeram grandes conquistas, mostrando a força feminina e renovando o ânimo do país.
Ainda Estou Aqui
O cinema também se destacou, com Ainda Estou Aqui levando quase 3 milhões de brasileiros às salas de cinema. O filme, protagonizado por Fernanda Torres, retrata a vida de Eunice Paiva, viúva de Rubens Paiva, desaparecido durante a ditadura militar. A produção foi um lembrete do custo humano do autoritarismo e levantou um debate urgente sobre justiça histórica.
Onde assistir
O Tempero da Notícia vai ao ar todas as sextas-feiras, às 20h, no canal do Brasil de Fato no YouTube e na TVT, canal 44.1 – sinal digital HD aberto na Grande São Paulo e canal 512 NET HD-ABC.
Moradores do estado de São Paulo podem acompanhar o programa pela Rádio Brasil Atual (98,9 FM na Capital Paulista e 93,3 FM na Baixada Santista), nos mesmos horários.
Edição: Thalita Pires