Argentinos marcharam em Buenos Aires neste sábado (4) em defesa da posse de Nicolás Maduro em Caracas em 10 de janeiro. O ato foi organizado por movimentos populares latino-americanos no mesmo dia da visita do opositor venezuelano Edmundo González ao presidente da Argentina, Javier Milei, na Casa Rosada.
A marcha no Parque Rivadavia tinha como mote “Respeito à Venezuela, Nicolás Maduro presidente”. O governo argentino foi um dos países que questionou a eleição do chavista em 28 de julho. De acordo com a secretária da Alba Movimentos, Florencia Abregu, a visita de Edmundo González à Argentina é um “atropelo” por parte do governo argentino e um desrespeito à soberania venezuelana.
“Os venezuelanos escolheram Nicolás Maduro como seu presidente e frente aos atropelos da extrema direita e do governo de Milei recebendo Edmundo González na Casa Rosada, as organizações denunciam essa situação porque é importante defender a autodeterminação e a soberania do povo venezuelano”, disse.
No encontro com Milei, o opositor venezuelano de extrema direita voltou a reforçar a intenção de estar em Caracas em 10 de janeiro para tomar posse: “Por qualquer meio, vou estar lá”. Essa foi a primeira parada de Edmundo em uma turnê por países da América Latina governados pela direita na semana em que marca a posse de Nicolás Maduro para o terceiro mandato. No encontro, os dois discutiram sobre os presos nos atos violentos na Venezuela e os exilados na embaixada argentina em Caracas.
Edmundo no Uruguai
Ainda no sábado, o opositor viajou a Montevidéu para uma reunião com o presidente Luis Lacalle Pou. O governo uruguaio reforçou o apoio a González na tentativa de assumir o poder, mesmo sem reconhecimento institucional do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE).
Assim como no encontro com Milei, a reunião com Lacalle Pou terminou sem um pronunciamento oficial das duas partes. O Ministério das Relações Exteriores uruguaio publicou uma nota chamando o governo de Maduro de “ditadura” e afirmando, sem apresentar provas, que a eleição de julho foi “fraudada”.
“O governo do Uruguai cumprimenta o presidente eleito da Venezuela, Edmundo González Urrutia, e reafirma seu direito de assumir em 10 de janeiro a condução do governo do seu país. O Uruguai tem condenado em todos os foros internacionais que participa o regime ditatorial de Nicolás Maduro e assim tem deixado claro, com gestos como o de não convidá-lo à cerimônia de posse de Lacalle Pou”, diz o texto.
Durante o encontro, González entregou o que seriam as cópias das atas eleitorais recolhidas pela oposição durante o pleito. Ainda no sábado, a coalizão de extrema direita liderada pelo ex-candidato atualizou o que seriam os resultados eleitorais com base nas cópias das atas recolhidas pela oposição. O grupo, no entanto, não divulgou as cópias de maneira pública e não disse porque estava atualizando os dados depois de mais de quatro meses do pleito.
A Justiça da Venezuela validou a vitória de Nicolás Maduro depois da judicialização do processo. Parte da oposição questiona o resultado e se apoia na lacuna deixada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Depois de validar o resultado, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) deu 30 dias para o órgão eleitoral publicar os resultados desagregados. O CNE, no entanto, não publicou até agora os dados detalhados por mesa de votação e afirmou que o atraso ocorreu por um ataque hacker. O site segue fora do ar mais de três meses depois do pleito.
Lacalle Pou perdeu as últimas eleições no Uruguai em novembro de 2023 e está nos últimos dias de seu mandato. Ainda assim, usou a visita de González para apoiar a ex-deputada ultraliberal María Corina Machado na tentativa de dar um golpe na Venezuela.
Desde o começo do seu mandato, o presidente uruguaio se posicionou contra o governo de Maduro. Em 2021, durante a cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Lacalle Pou chegou a criticar a gestão do chavista diretamente a Nicolás Maduro. Afirmou ter “preocupação” com o que acontece na Venezuela e em Cuba.
Na ocasião, o presidente venezuelano respondeu e pediu que o uruguaio “marcasse data e local” para um debate sobre a democracia no Uruguai, na Venezuela e na América Latina.
Movimentos antifascistas
A organização uruguaia Capítulo Uruguaio, da Internacional Antifascista, publicou uma nota criticando a presença de Edmundo González em Montevidéu. O grupo afirma que o ex-embaixador participou de uma tentativa de golpe na Venezuela e lembrou que o ex-candidato chegou a assinar uma carta se autoproclamando presidente da Venezuela.
De acordo com o texto, tanto Lacalle Pou quanto Milei promovem uma campanha para prolongar o questionamento internacional sobre as eleições venezuelanas - que tiveram como vencedor Nicolás Maduro -, o seu sistema de governo e as suas instituições.
“Edmundo é procurado pela justiça venezuelana, que emitiu um mandado de prisão por acusações que incluem formação de quadrilha, cumplicidade em atos violentos, falsificação de documentos, lavagem de dinheiro, desconhecimento das instituições do Estado, incitação à desobediência às leis e associação à prática de crime”, reforçou o texto.
A organização também afirma confiar que o novo governo uruguaio de Yamandú Orsi, eleito em novembro de 2024, “não cairá” em operações “golpistas e de ingerência” em assuntos internos de outros países. O texto termina pedindo que Orsi tenha uma postura de defesa da soberania e autodeterminação dos povos.
Edição: Martina Medina